Sistema permite ao cliente de um banco compartilhar dados com outras instituições financeiras. Brasileiros começam a ter acesso ao Open Banking
O sistema que permite ao cliente de um banco compartilhar informações financeiras com outras instituições começou a funcionar nesta sexta-feira (13).
Tem contrato que é para durar para sempre, como o casamento.
“Para ser a vida inteira”, diz Luciana da Silva Souza, vendedora desempregada.
“É para sempre porque é um casamento que a gente quer levar a sério”, afirma Felipe Martins Souza, auxiliar de cozinha.
Foi-se o tempo em que o casamento do cliente com o banco tinha que ser para vida inteira. Agora é até que a morte ou uma taxa menor os separe.
Repórter: Dá para dizer que com o Open Banking o casamento que a gente com o banco virou um relacionamento aberto?
Rogério Melfi, coordenador da ABFintechs: Há muito tempo atrás, alguns anos atrás, lá em 70, 80, você tinha um relacionamento muito forte com a sua agência. Então, você precisava ir para sua agência para ter suas informações. Agora, no momento atual, você é cliente da sua instituição financeira. Com Open Banking, você vai ser cliente do sistema financeiro nacional. Você vai poder portar os seus dados e fazer tudo que você deseja já nessa nova instituição financeira. Então, é um relacionamento muito mais aberto.
“A gente vai deixar de ter o banco de relacionamento para ter várias ofertas e várias possibilidades. Então de fato aquele casamento monogâmico para vida inteira fica ameaçado”, explica a economista Ana Carla Abrão.
Jovens casais esperam ser “assediados” pelo sistema financeiro, porque os planos passam pelo banco,
“Ter a casa própria, os sonhos por assim dizer básicos”, diz Luciana.
E como será o futuro dessa relação? Não vai ser no dia seguinte que a gente vai ver a mudança no mercado. Mas ter posse das próprias informações financeiras coloca o poder de escolha na mão do cliente. Pessoas físicas e jurídicas passam a ser o motor da revolução do sistema. Nos próximos meses, as instituições financeiras devem começar a desenvolver novos produtos, serviços e estratégias.
A começar pelo básico: cheque especial, cartão de crédito, crédito imobiliário, crédito consignado. O que vende são comodidades, conveniências e soluções desenvolvidas para cada perfil de consumidor.
Aí vem uma nova fase, quando o sistema se une ao Pix o processo de pagamento fica instantâneo. O Open Banking, então, dá outro novo grande passo: de sistema bancário aberto para sistema financeiro aberto, com novos produtos e serviços, de investimento, seguros, câmbio e previdência.
Nas prateleiras desse novo mercado estão as instituições financeiras e também os clientes.
“O Open Banking vai permitir que o seu histórico de crédito possa ser compartilhado com mais de uma instituição financeira. Isso acelera muito esse processo de oferta de crédito e de novos benefícios para o cliente”, afirma o diretor da Federação Brasileira de Bancos, Leandro Vilain.
Está aí o primeiro grande desafio desse sistema: precisa ter confiança para revelar informações financeiras.
“Que momento você vai convencer uma pessoa a compartilhar seus dados? A partir do que você está resolvendo um problema para ela”, explica Rogério Melfi.
“Assim como a gente baixa o aplicativo e acessa o aplicativo de transportes, de delivery de restaurante, porque a gente identificou que aquilo traz algum benefício para gente. Então, eu faço a adesão àquele aplicativo, eu permito o compartilhamento de algumas informações nesse caso com ele. Por que? Porque ele me traz algum benefício”, diz diretor de Regulação do Banco Central, Otávio Ribeiro Damaso.
Toda inovação traz risco do ponto de vista da segurança. E agora mais do que nunca.
Com o isolamento imposto pela pandemia, cresceram as compras e as fraudes eletrônicas.
Falsa central telefônica, falso funcionário e a pescaria digital com mensagens e e-mails que induzem ao erro de revelar dados pessoais.
Repórter: Como a gente pode se proteger?
Matheus Jacyntho, especialista em segurança cibernética: Tomando sempre as medidas de segurança. Você vai consentir que uma instituição acesse seus dados, a um determinado dado, faça o consentimento apenas para aquele dado, não para todos os dados. Tome cuidado com seus acessos bancários: cartões, seguros. Tome cuidado com suas senhas. E muito cuidado com e-mails que recebe, podem ser golpes.
“O banco não vai mandar nenhum link por SMS, o banco não vai mandar ninguém ligar para sua casa, o banco não vai pedir para você preencher formulários, e-mails, nada disso. Então tudo vai acontecer de forma eletrônica, na tela do seu celular ou na tela do seu computador”, explica Leandro Vilain.
O digital nem sempre escapa do mundo real. Esse sistema vai ter que superar a desigualdade do nosso país. Transações pelo celular já são metade das operações bancárias, mas 34 milhões de brasileiros ainda não têm acesso aos bancos.
“As pessoas mais pobres têm acesso a conexões piores, a aparelhos piores e uma capacidade menor de manusear as novas tecnologias. Então isso tudo coloca um desafio para que o Open Banking de fato se transforme em alguma coisa pratica no cotidiano dessas pessoas”, afirma Lauro Gonzalez, professor de finanças da FGV.
Para nova relação, os melhores desejos. Que dela nasça um sistema inclusivo, mais eficiente, mais barato. O futuro guarda os desafios.
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