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Brasil teve mais mortes por Covid-19 e mais desemprego do que a maioria dos países, aponta nota do Ipea

‘Países que não frearam a disseminação do coronavírus com o argumento de não perder trabalho não tiveram benefícios em seu mercado. Deixar morrer não teve nenhum ganho econômico’, diz pesquisador do Ipea que analisou resposta do Brasil à Covid-19. Um levantamento realizado por pesquisadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta que a reação do Brasil à pandemia de Covid-19 teve desempenho pior do que o a maioria dos países nos quesitos mortes e desemprego.
A nota técnica assinada pelo economista Marcos Hecksher, considera dados de 2020 compilados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). As principais conclusões são:
Brasil registrou proporcionalmente mais mortes por Covid-19 em 2020 do que 89,3% dos demais 178 países analisados pela OMS.
Brasil registrou queda do “nível de ocupação” mais intensa do que as de 84,1% dos demais 63 países analisados pela OIT entre os três últimos trimestres de 2019 e de 2020.
Marcos Hecksher explica que os países que registraram mais mortes pela Covid-19 em 2020, de maneira proporcional à sua população e a sua pirâmide etária, também foram os que tiveram seus mercados de trabalho mais prejudicados.
“Em síntese, países que não frearam a disseminação do coronavírus com o argumento de não perder trabalho não tiveram benefícios em seu mercado. Deixar morrer não teve nenhum ganho econômico” – Marcos Hecksher, economista do Ipea
O pesquisador do Ipea destaca o exemplo da Suécia, contrária ao lockdown e a qualquer outro tipo de fechamento e restrição de circulação até janeiro. “A Suécia tentou salvar empregos evitando restrições e está com muito mais mortos que seus vizinhos como Noruega, Finlândia e Dinamarca, sem ter poupado empregos”, aponta.
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Na lista dos 64 países da OIT, a Suécia aparece como 37º país com a maior queda na ocupação do mercado de trabalho em 2020.
“Alguns países ricos só têm mais mortes em percentual da população total porque têm proporções de idosos bem maiores que a nossa, e a mortalidade de idosos é mil vezes maior que a das crianças. Mas entre os idosos, nossa mortalidade é maior que a de quase todos eles. E na população de até 59 anos, nossa mortalidade é bem maior que a de qualquer um deles. Assim, quando ajustamos a mortalidade à distribuição das populações nacionais por idade e sexo, esses países ricos deixam de ficar pior do que nós”, explica.
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Mercado de trabalho
Ainda de acordo com o estudo, em 2019, ano pré-pandemia, o estudo mostra que o Brasil tinha o 25º menor nível de ocupação entre os 64 países analisados, com 55,8% de sua população em idade de trabalhar ocupada. Em 2020, com a queda na ocupação apontada acima, o Brasil passou a ter a 16ª menor taxa, com 48,8% de sua população em idade de trabalhar ocupada.
Na lista analisada pelo Ipea, o mercado de trabalho brasileiro teve pior desempenho que países como Palestina, México e Paraguai durante a pandemia em 2020.
Em todo o mundo, os países com as maiores quedas na taxa de ocupação foram, respectivamente, a Bolívia e Peru.
Hecksher destaca que, em nível regional, a América Latina foi a região mais afetada tanto por mortes pela Covid como por perda de postos de trabalho.
“A América Latina sofre mais com a informalidade, o que tende a dificultar a cobertura social, o isolamento e o combate à pandemia, aumentando as perdas de vidas e postos de trabalho. Mesmo em nosso continente, o Brasil se saiu pior que a maioria dos países ao redor”, diz o pesquisador.
Para fazer as comparações entre os países, o estudo ajustou os óbitos pela Covid-19 à distribuição populacional por faixa etária e sexo em cada país e utilizou os dados registrados no terceiro semestre de 2020 em comparação com o mesmo período em 2019, de pré-pandemia.

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