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Brasil assume presidência do Brics e enfrenta desafios com expansão e retaliações de Trump.

A partir deste ano, o Brasil liderou a presidência rotativa do Brics em um momento decisivo para o bloco, marcado pela expansão com a adesão de novos membros e pela tensão com o futuro governo de Donald Trump, nos Estados Unidos. O principal foco da gestão brasileira será a reforma da governança global e o desenvolvimento sustentável com inclusão social, mas as ameaças de Trump contra os integrantes do grupo que discutem alternativas ao dólar para transações comerciais prometem ser um desafio significativo.

Expansão histórica do Brics
Com a entrada de Cuba, Bolívia, Indonésia, Bielorrússia, Cazaquistão, Malásia, Tailândia, Uganda e Uzbequistão, o Brics dá um passo importante rumo à ampliação de sua influência global. No entanto, ainda há dúvidas sobre a categoria desses novos membros, já que os parceiros não têm poder de voto ou veto, diferentemente dos membros efetivos.

Em 2024, o bloco já havia integrado cinco novos países — Irã, Emirados Árabes Unidos, Egito, Etiópia e Arábia Saudita — alcançando 10 membros. Agora, com as adesões recentes, o Brics reforça sua relevância, representando mais de 40% da população global e 37% do PIB mundial ajustado por paridade de poder de compra, ultrapassando o G7 em peso econômico.

Alternativas ao dólar e retaliações de Trump
Uma das pautas mais polêmicas é a implementação de um sistema de pagamento com moedas locais, que busca reduzir a dependência do dólar. Essa iniciativa já gerou reações de Donald Trump, que ameaçou aumentar as tarifas para países que abandonam a moeda norte-americana. Os especialistas, no entanto, acreditam que o impacto dessas retaliações seria limitado, já que o Brics possui grande influência global.

O professor Paulo Borba Casella, da USP, explica que o presidente eleito dos EUA dificilmente conseguiria tarifas de importação para todos os países do Brics sem causar danos à própria economia norte-americana, especialmente diante do peso do bloco no comércio internacional.

Tensões regionais e desafios internos
Apesar da expansão, a inclusão da Venezuela, defendida por Moscou, causou resistência do Brasil. O veto do presidente Lula à adesão do país vizinho em 2024 gerou atritos com o ditador Nicolás Maduro, evidenciando as complexidades internacionais do bloco. Além disso, a presidência brasileira terá a missão de harmonizar interesses diversos entre os atuais e novos membros, garantindo consenso nas decisões.

O Brics no cenário global
Com o lema “Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável”, o Brasil busca usar sua liderança no Brics para promover mudanças nos organismos internacionais e fortalecer sua influência no cenário global. No entanto, o debate com o unilateralismo de Trump e as divergências internas no bloco necessitam de habilidade diplomática para garantir avanços.

A presidência brasileira será um teste decisivo para consolidar o Brics como um agente de transformação global, ao mesmo tempo em que equilibra os interesses econômicos, políticos e estratégicos de seus membros e parceiros.

Fonte: Correio Braziliense
Foto: Catve

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