Bolsonaro insiste em 'tratamento precoce' contra Covid-19 mesmo sem comprovação; não há medicamentos para prevenir a doença, mostram estudos thumbnail
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Bolsonaro insiste em 'tratamento precoce' contra Covid-19 mesmo sem comprovação; não há medicamentos para prevenir a doença, mostram estudos

Nesta sexta-feira (15), em meio ao colapso do sistema de saúde em Manaus, o presidente voltou a defender o uso de ‘antimaláricos’ contra a doença. Não há comprovação de que o uso de qualquer remédio tenha a capacidade de proteger e/ou tratar o coronavírus. O presidente Jair Bolsonaro voltou a defender nesta sexta-feira (15) o “tratamento precoce” contra a Covid-19, mesmo sem qualquer comprovação científica. A insistência em defender o uso de medicamentos ineficientes contra a doença acontece em meio ao caos do sistema de saúde de Manaus, com falta de oxigênio para atendimento dos pacientes nos leitos hospitalares.
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“Estudos clínicos demonstram que o tratamento precoce da Covid, com antimaláricos, podem reduzir a progressão da doença, prevenir a hospitalização e estão associados à redução da mortalidade”, escreveu Bolsonaro em sua conta no Twitter. Algumas horas após a postagem, a rede social colocou uma marcação explicando que as informações não têm comprovação.
Tuíte de Bolsonaro
Twitter
O “tratamento precoce”, ou “Kit Covid”, disponibilizado pelo Ministério da Saúde é uma combinação que inclui a hidroxicloroquina e a cloroquina, junto com outros fármacos. As substâncias inicialmente foram testadas em laboratório e, depois, em estudos clínicos, pesquisadores de diferentes universidades e países comprovaram que não há prevenção e/ou tratamento com a ajuda de medicamentos.
“Todos os países com seriedade, que seguem a ciência, eles já compreenderam que esses medicamentos não são eficazes contra a Covid. Se esses medicamentos tivessem qualquer comprovação científica, seria impossível que esses países, onde existem pesquisadores muito sérios e instituições muito respeitadas e competentes, não estivessem recomendando para a sua população”, disse Ethel Maciel, professora titular da Universidade Federal do Espírito Santo e pós-doutora em epidemiologia pela universidade Johns Hopkins.
“O Brasil precisa deixar isso pra trás. O Brasil precisa colocar o nosso dinheiro, que é um dinheiro público, naquilo que é realmente efetivo: as vacinas e as medidas emergenciais, para que as pessoas possam fazer isolamento social com dignidade”, completou Maciel.
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Bruno Kelly/Reuters
Nesta sexta-feira (15), centenas de pacientes de Manaus estão sendo transferidos para outros estados. As transferências ocorrem em meio ao colapso do sistema de saúde amazonense, após recorde das internações por Covid-19 e com uma nova variante do coronavírus circulando no estado.
Hospitais do estado ficaram sem oxigênios para pacientes. O G1 registrou nesta quinta-feira (14) cenas de médicos transportando cilindros nos próprios carros para levar ao hospital e familiares tentando comprar o insumo. Cemitérios estão lotados e instalaram câmaras frigoríficas.
‘Terrível o problema em Manaus. Agora, nós fizemos a nossa parte’, diz Jair Bolsonaro
Sobre o assunto, o presidente disse:
“Problemas. A gente está sempre fazendo o que tem que fazer. Problema em Manaus. Terrível, o problema em Manaus. Agora, agora, nós fizemos a nossa parte. Recursos, meios. Hoje, as Forças Armadas ‘deslocou’ para lá um hospital de campanha. O ministro da Saúde esteve lá segunda-feira e providenciou oxigênio”.
Estudos de medicamentos contra a Covid
Em novembro, um estudo brasileiro mostrou que pacientes que tomam cloroquina há anos tem o mesmo risco de desenvolver a Covid-19 do que aqueles que nunca tomaram. Participaram cerca de 400 estudantes de medicina e quase 10 mil voluntários espalhados por 20 centros do Brasil.
Antes disso, outras pesquisas já haviam acusado a ineficácia das substâncias para prevenção e tratamento da infecção pelo coronavírus. A revista científica “Nature”, uma das mais renomadas do mundo, publicou dois estudos que apontaram que a cloroquina e a hidroxicloroquina não são úteis contra a Covid-19.
Em um dos artigos da “Nature”, o medicamento anti-malárico falhou em apresentar efeito antiviral contra a Covid-19 em macacos. Já a outra pesquisa não viu efeitos da cloroquina nas células pulmonares infectadas pelo vírus, em laboratório.
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Em 16 de julho de 2020, outra revista, a “Annals of Internal Medicine”, mostrou com testes randomizados padrão ouro, o mais preciso possível em pesquisas científicas, que a administração de hidroxicloroquina em pacientes com quadro leve de Covid-19 também não se mostrou eficaz.
Esses mesmos resultados continuaram se repetindo em outros estudos. Uma pesquisa brasileira também fez testes em humanos e foi publicado no “The New England Journal of Medicine”. Mais uma vez, os pesquisadores apontaram que a hidroxicloroquina não teve eficácia no tratamento da Covid-19 em pacientes com casos leves e moderados atendidos em hospitais.
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A decisão de não recomendar o uso de antimaláricos e de um tratamento precoce não ficou a cargo apenas dos cientistas. A FDA, agência reguladora dos Estados Unidos com papel similar à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), suspendeu o uso da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19 em junho do ano passado.
Em outubro, a Organização Mundial da Saúde divulgou seus próprios resultados: mais de 30 países envolvidos em um estudo com mais de 11,2 mil participantes. No artigo, os cientistas afirmaram que quatro antivirais utilizados contra a Covid-19 são ineficazes: remdesivir, hidroxicloroquina, lopinavir/ritonavir (combinação) e interferon beta-1a.
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