De fazer cocô no jardim de estranhos a latidos incessantes, até mesmo os animais mais fofos podem ser irritantes, constrangedores ou simplesmente nojentos. Bichos de estimação: a história oculta dos hábitos mais irritantes e nojentos dos nossos animais
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Em uma esquina arborizada de um subúrbio do sudeste de Londres, uma guerra está se formando.
Tudo começou em maio deste ano, quando um dos meus vizinhos demonstrou um súbito interesse pelo pequeno terreno em frente à casa dele. Nas três semanas seguintes, ele podia ser visto regularmente trabalhando duro, arrancando ervas daninhas, alisando o solo e adicionando adubo.
Até que um dia, chegou a hora do toque final — um tapete macio de grama impecável. O resultado foi tão elegante e bem cuidado quanto as encostas verdes ao redor do Castelo de Windsor. Me lembro de me perguntar o que os gatos da vizinhança pensariam daquilo.
A primeira noite trouxe uma resposta rápida e categórica. Outrora plana como uma mesa de sinuca, a superfície do gramado apareceu no dia seguinte enrugada e retorcida, como se os rolos de grama fossem placas tectônicas empurradas umas contra as outras. E estava repleta de cocô de gato espalhado.
Implacável, meu vizinho refez o jardim e ficou acordado todas as noites durante uma semana, para afastar outros felinos invasores. Mas aconteceu de novo — repetidas vezes.
Suas medidas de segurança aumentaram para proporções quase burlescas. Toda a superfície do gramado agora está coberta por uma rede de proteção, e há pequenos potes de vinagre, que os gatos supostamente detestam, em cada canto.
A medida de proteção final é um repelente de gatos ultrassônico, que emite sons desagradáveis em uma faixa à qual eles são particularmente sensíveis. Até agora, as defesas estão resistindo, mas quem sabe como essa batalha pode terminar.
O fato é que gangues de gatos que defecam por aí parecem destinadas a se tornar muito mais comuns. No Reino Unido, os animais de estimação mais em voga são agora coletivamente quase um terço da população dos humanos, com cerca de 10,1 milhões de cães, 10,9 milhões de gatos e 1 milhão de coelhos.
Da mesma forma, a posse de animais de estimação em todo o mundo está crescendo — no Japão, as empresas adotaram uma nova tendência, lançando linhas de roupas para cães e hotéis para gatos, levando alguns analistas a sugerir que eles estão substituindo as crianças. Nos Estados Unidos, há quase 78 milhões de cães e 58 milhões de gatos.
Mas, à medida que cada vez mais animais de estimação entram em nossas casas e sobem no nosso colo, alguns dos hábitos menos desejáveis desses novos e preciosos membros da família se tornam mais aparentes.
Há latidos e miados incessantes que podem manter bairros inteiros acordados, escavação de plantas, saltos com garras afiadas, mastigação de fios e — peço desculpa por tantas referências nauseantes ao cocô — consumo entusiasmado de fezes de outros animais.
Muitas das características encontradas em gatos de estimação foram herdadas de seus ancestrais selvagens, que ainda vivem em montanhas, pradarias e florestas da África do Sul à Mongólia
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(Este último hábito é lamentavelmente normal. Um cão que conheço, um elegante galgo inglês chamado Buddy, corre para seu jardim todas as manhãs para devorar qualquer iguaria deixada para ele na noite anterior pelas raposas da vizinhança. Se a dona vira de costas por um segundo, enquanto estão passeando, ele vai localizar e ingerir vários resíduos fedorentos.)
Como os animais de estimação — cujo comportamento costuma ser tão cuidadosamente alinhado com as preferências humanas que os cães desenvolveram um músculo em seus olhos dedicado a torná-los mais fofos, e os gatos aprenderam a interpretar nossos movimentos faciais — adquiriram esses hábitos que são irritantes, perturbadores ou simplesmente revoltantes? E como podemos aprender a conviver com eles?
Para rastrear as origens de qualquer comportamento específico, há dois fatores importantes a serem levados em consideração: o animal selvagem a partir do qual seu bicho de estimação evoluiu e seu histórico de convivência com humanos.
Saltos
O parente vivo mais próximo dos cachorros (Canis familiaris) é o lobo-cinzento (Canis lupus), que é nativo da Eurásia e da América do Norte. No entanto, acredita-se que os cães não sejam seus descendentes diretos — uma análise genética revelou que os cachorros modernos também são parentes próximos de populações de lobos de várias partes diferentes do mundo, sugerindo que todos eles evoluíram de um ancestral comum.
Esta espécie de lobo misteriosa, agora extinta, pode ter vivido na Sibéria há aproximadamente 23 mil anos e foi levada junto com pequenos grupos isolados de caçadores-coletores pelas condições gélidas da última era glacial, quando grande parte da América do Norte, norte da Europa e da Ásia estava congelada.
No início, talvez os lobos apenas seguissem os humanos, abocanhando restos de comida jogados fora enquanto se deslocavam de acampamento em acampamento — ou podem ter caçado em alcateias ao lado de humanos, perseguindo grandes presas e fornecendo uma vantagem competitiva em relação a nossos parentes próximos, os neandertais. Outra possibilidade é que tudo começou com humanos antigos mantendo filhotes de lobo como animais de estimação.
Por fim, o relacionamento se aprofundou, e os lobos passaram por uma transformação física — suas orelhas ficaram molengas, seus rabos curvados e seus pelos manchados.
Os lobos podem latir, embora não o façam com muita frequência
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(Um experimento excêntrico de 62 anos na Rússia, no qual raposas foram criadas seletivamente até não terem medo de humanos, revelou que esses são efeitos colaterais comuns da evolução da domesticidade.)
Eles também adaptaram seus comportamentos para se adequar aos novos parceiros — em alguns casos, exagerando características já encontradas em seus ancestrais selvagens, e em outros, inventando novas. Para descobrir quais são, tudo o que você precisa fazer é comparar os cães com os lobos modernos.
Vejamos as saudações entusiasmadas de muitos cachorros, que pulam e tentam lamber seu rosto, e acabam por se contentar com qualquer parte do corpo que não recue com rapidez suficiente.
“Eles gostariam de dar um ‘beijo’ — ou pelo menos é assim que as pessoas descrevem”, diz Zsofia Viranyi, especialista em cognição comparativa da Universidade de Medicina Veterinária de Viena, na Áustria, e cofundadora e codiretora do Wolf Science Center.
Na verdade, esta característica — geralmente classificada como um dos hábitos mais irritantes dos cães — é um comportamento de lobo por excelência, uma relíquia de seus ancestrais de dezenas de milhares de anos atrás.
Quando filhotes, os lobos normalmente pulam e lambem o interior da boca dos outros membros da alcateia depois que eles voltam de uma caçada, como uma forma de implorar por comida. Assim como os pinguins na Antártida, os lobos adultos vomitam imediatamente uma refeição semi digerida para eles comerem.
“E os animais mais velhos também mantêm o comportamento, que usam basicamente para cumprimentar”, diz Viranyi, explicando que isso geralmente envolve indivíduos de “baixo escalão” lambendo a boca daqueles com status superior. “Então, basicamente, sempre que a alcateia se junta, e eles querem fazer algo juntos, ou quando alguém estava fora e depois volta.”
Se você deixar, os lobos também vão fazer isso com os humanos. “Algumas pessoas que criam lobos vão até beijá-los”, diz o cientista David Mech, pesquisador sênior do Serviço Geológico dos Estados Unidos, que estuda lobos há décadas.
Os porquinhos-da-índia são uma iguaria nos Andes há milênios e foram levados para o Reino Unido como animais de estimação na era elisabetana
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Latido e miado
Por outro lado, alguns hábitos que são perfeitamente normais nos ancestrais selvagens de nossos animais de estimação foram muito exagerados.
Assim como os cães, os gatos também vivem com humanos há milênios. Eles são descendentes de gatos selvagens do norte da África / sudoeste da Ásia (Felis silvestris lybica) — animais solitários e territoriais que se alimentam principalmente de pequenos roedores.
Evidências genéticas e arqueológicas sugerem que eles podem ter encontrado os humanos pela primeira vez há pelo menos 6,5 mil anos, na famosa região do Crescente Fértil do Oriente Médio, onde surgiram as primeiras comunidades agrícolas.
(Além da domesticação de gatos e do pioneirismo na agricultura, as pessoas nesses assentamentos também inventaram os primeiros sistemas de escrita e a roda.)
Inicialmente, os gatos rondavam em busca de um banquete de roedores, que prosperavam em volta dos assentamentos humanos, até que começaram a interagir cada vez mais com as pessoas e acabaram como candidatos improváveis à domesticação.
Eles se dispersaram de sua terra natal ao longo de rotas de comércio humano, primeiro se espalhando para Europa e África, onde foram incorporados às antigas religiões egípcias — a deusa Bastet era frequentemente descrita como uma gata — pirâmides e hieróglifos, e acasalaram com gatos selvagens locais do norte da África.
O que nos leva a uma característica que alguns donos de gatos podem considerar uma parte inerente de seu apelo: o miado. Curiosamente, os gatos selvagens miam — mas apenas para as mães quando são filhotes. Quando adultos, geralmente não fazem esse barulho.
Os bichanos domésticos mantêm seu miado a vida toda, mas não para se comunicar com outros gatos — apenas com seus companheiros humanos.
Os coelhos gostam de manter as rotas de fuga livres de detritos, raízes e galhos — ou, se morarem em casas, de itens domésticos como cabos elétricos
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Em 2004, cientistas pediram para as pessoas avaliarem o quão agradável era o miado de gatos domésticos e seus homólogos selvagens e descobriram que o do primeiro era significativamente mais agradável de ouvir do que o segundo. Isso sugere não apenas que suas vocalizações “irritantes” são uma adaptação à vida em torno dos humanos, como já foram suavizadas pela domesticação.
O latido do cachorro tem uma história semelhante. Diferentemente da crença popular, latir não é algo exclusivo dos cães — foram os lobos que inventaram primeiro. “Não é um latido tão agudo quanto de um cachorro — é mais áspero e gutural, mas qualquer um que ouvir diria que, sim, é um latido”, afirma Mech.
No entanto, enquanto os lobos tendem a latir como um aviso ou sinal de agressão, os cães domésticos usam o latido como uma linguagem universal para transmitir um amplo espectro de mensagens, desde um “olá”, um convite para brincar, entusiasmo com uma refeição ou passeio iminente ou solidão.
Não se sabe exatamente por que os lobos antigos abandonaram seus uivos misteriosos e passaram a latir em tempo integral, mas há algumas pistas. Um estudo de 2019 descobriu que os latidos mais irritantes dos cães têm assinaturas acústicas únicas — são agudos e atonais, semelhantes aos miados dos gatos e aos choros dos bebês humanos. Os autores explicam que os cachorros podem ter adaptado certos tipos de latido para despertar uma forte reação dos humanos e provocá-los a agir.
O latido também tem sido historicamente útil para os humanos, que usam cães para caçar, pastorear animais e defender suas propriedades. Um estudo de 2004 descobriu que os caçadores de alces na Finlândia que levavam um cachorro com eles tinham 56% mais sucesso, possivelmente porque os cães frequentemente latem para suas vítimas até que elas parem de se mover — permitindo ao seu parceiro humano se esgueirar até tê-las ao alcance da mira. Isso faz sentido, uma vez que as raças de cães desenvolvidas para a caça tendem a latir mais.
Ironicamente, o latido é a causa de uma das queixas mais comuns em relação aos cães. Um estudo de 2015 com donos de cães sul-coreanos mostrou que 47,1% relataram latidos excessivos, enquanto uma pesquisa de 2012 com neozelandeses revelou que eles classificavam os latidos como mais irritantes do que outros barulhos urbanos.
Presentes, cocô e plantas
Apesar do miado adaptativo dos felinos modernos, alguns especialistas veem os gatos apenas como “semidomesticados”, uma vez que eles mantêm muitos de seus comportamentos selvagens e acasalam facilmente com gatos selvagens.
Como resultado, para descobrir por que seu gato traz “presentes” para você, faz cocô na grama do vizinho ou cava suas plantas — basta observar o gato selvagem.
Os ratos têm dentes com crescimento contínuo e a mordida mais eficaz de todos os roedores, uma possível razão para seu sucesso — e sua capacidade de destruir móveis
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No caso dos primos selvagens, depositar fezes em locais visíveis é um método importante para marcar território. James Serpell, professor de Ética e Bem-estar Animal da Escola de Medicina Veterinária da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, acredita que isso pode explicar a questão dos gatos domésticos fazerem cocô no jardim do vizinho.
“Eles tendem a mirar áreas nos limites do território”, diz ele. “Quando estão deixando (as fezes) ao redor do local, eles estão dizendo: ‘Ok, agora você está entrando no meu domínio’.” Portanto, se você tem gatos, é menos provável que encontre as fezes deles no seu jardim do que no do vizinho.
Outro fator é que os gatos selvagens gostam particularmente de usar o banheiro em solo macio que foi revirado recentemente. “É um substrato muito bom para eles — se você tem um jardim bem cuidado com muita terra solta, bem mexida ao redor, então isso será um ímã para os gatos”, diz Serpell.
Ele explica que os gatos provavelmente não cavam canteiros — ou grama recém-plantada — de propósito, mas além de defecar em locais visíveis, às vezes também enterram suas fezes instintivamente.
Acredita-se que a tradição entre os gatos domésticos de dar “presentes” também pode ter se originado nos gatos selvagens. Diferentemente dos leões, que estima-se que matam 15 animais grandes a cada ano, os gatos selvagens evoluíram para comer dezenas de pequenas presas de mamíferos por dia — são assassinos naturalmente prolíficos, com necessidades alimentares fastidiosas, o que significa que precisam de uma dieta variada.
Os gatos domésticos não se adaptaram para comer restos de comida dos humanos da mesma forma que os cães — eles não são capazes de sentir o gosto dos carboidratos —, então manter suas habilidades de caça pode ter sido uma estratégia sensata para complementar sua ingestão nutricional.
Antes do advento da ciência dos alimentos para animais de estimação, da refrigeração e da ampla disponibilidade de carne acessível, os gatos que podiam caçar provavelmente tinham uma vantagem de sobrevivência.
Na verdade, embora os gatos domésticos modernos raramente comam as criaturas que trazem para casa, acredita-se que elas tenham sido uma importante fonte de alimento para felinos históricos — e os gatos abandonados modernos passam mais tempo caçando do que aqueles com lares definitivos.
Curiosamente, trazer de volta uma presa e colocá-la a seus pés também pode ser um comportamento selvagem. Na natureza, as mães levam naturalmente animais semimortos de volta ao ninho, para que seus bebês pratiquem a caça.
Alguns especialistas acreditam que o “presente” deixado pelos gatos domésticos é uma extensão dessa característica. Eles estão instintivamente trazendo suas presas capturadas de volta para onde vivem ou pensam em você como um filhotinho particularmente inapto que precisa aprender a caçar.
Mastigando fios
É claro que outros tipos de animais de estimação podem ser tão difíceis de se conviver. Depois dos cães e gatos, os porquinhos-da-índia e os coelhos estão entre os animais de estimação mais numerosos. Há cerca de 400 mil porquinhos-da-índia apenas no Reino Unido e, de acordo com as estimativas atuais, foram domesticados antes mesmo dos gatos.
Estes pequenos mamíferos estridentes servem de alimento na América do Sul há quase 10 mil anos, e foram domesticados pela primeira vez pela civilização Inca, há pelo menos 8 mil anos, antes de seus ancestrais selvagens serem extintos.
Os lobos lambem o interior da boca uns dos outros para implorar por comida ou como um ato de submissão
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A história da criação de coelhos também é antiga. Em 2019, cientistas identificaram um osso anteriormente ignorado, encontrado em um palácio romano em Sussex, no Reino Unido, como pertencente a um coelho do século 1. Uma análise de seus ossos sugeriu que ele havia sido mantido em cativeiro e pode ter sido um animal de estimação.
Acredita-se que os primeiros exemplares domesticados tenham surgido cerca de 400 anos depois, criados por monges franceses. E permaneceu assim por séculos, até que os vitorianos os criaram como os companheiros superfofos e quase caricatos com os quais estamos familiarizados hoje.
Outros pequenos animais de estimação, como ratos, hamsters, camundongos e gerbos, são ainda mais recentes, domesticados nas últimas centenas de anos por meio da criação seletiva intensiva, às vezes apenas de alguns indivíduos. Assim como cães e gatos, esses animais se apegaram a certos comportamentos naturais — lembranças de seu passado evolutivo.
Uma das reclamações mais comuns é que os coelhos gostam de roer os móveis da casa, incluindo papel de parede, tapetes, sofás, rodapés, pernas de cadeiras. Mas, de longe, a iguaria mais procurada parece ser os fios. Qualquer tipo de fio que cruze seu caminho — de cabos de laptop a fones de ouvido — será cortado mais rápido do que você é capaz de se perguntar: “Onde será que coloquei meu…”
A carne de coelho é consumida na França e na Espanha desde os tempos pré-históricos, mas eles só apareceram na Grã-Bretanha no século 1, levados pelos romanos
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O problema também é comum entre outros pequenos mamíferos, especialmente porquinhos-da-índia e roedores. O setor de seguros costuma atribuir cerca de 25% de todos os incêndios elétricos em prédios a camundongos e ratos selvagens, que podem roer o isolamento dos fios — expondo o fio elétrico, o que pode causar faíscas ou um curto-circuito.
Mas por que eles fazem isso? De acordo com Serpell, há duas razões. Uma delas é que, na natureza, esses animais passam uma quantidade excessiva de tempo planejando rotas de fuga a partir e para suas casas — elas gostam de ter várias saídas de qualquer local e manter os caminhos livres para poder correr caso um predador apareça.
“Se encontram um fio cruzando seu caminho, a tendência natural é vê-lo como um obstáculo”, diz Serpell. “Eles roem para se livrar dele, como fariam, digamos, com um graveto que estivesse em seu caminho na selva.”
A outra razão é que esses pequenos animais mamíferos roem tudo, independentemente do material que seja feito. Muitas espécies têm dentes que crescem continuamente e precisam ser desgastados se ficarem muito longos.
É menos comum que cães e gatos mastiguem fios, mas quando o fazem, geralmente é porque estão entediados ou gostam da textura. Também é natural para muitos animais mastigar as coisas instintivamente como forma de explorá-las.
Mas, apesar dessas reclamações frequentes, Serpell acredita que nossos animais de estimação são extremamente bem adaptados à vida com os humanos. “O que mais chama atenção para mim é a pouca quantidade de problemas graves de comportamento que eles têm, o que é uma prova de como eles conseguiram se adaptar às exigências”, diz ele.
Se você não está convencido, ele afirma que viver com um gato selvagem ou um lobo seria significativamente mais problemático. Na verdade, parece que muitos dos hábitos irritantes de nossos animais de estimação são apenas adaptações aos humanos.
“Os animais [de estimação] são como os humanos, na verdade, nós carregamos toda uma história evolutiva conosco”, diz Viranyi, lembrando que nossas exigências estão mudando tão rápido que é difícil para eles acompanharem. “Levamos os animais para este ambiente urbano artificial — vivemos em circunstâncias que são diferentes daquelas em que eles evoluíram.”
Historicamente, esses comportamentos eram úteis, mas agora as coisas mudaram, e decidimos que não os queremos. Um exemplo é o border collie, que foi criado pela primeira vez na fronteira anglo-escocesa para pastorear ovelhas.
“Eles têm um apetite insaciável por isso”, diz Serpell. “E se você não der a eles ovelhas para pastorear, eles vão encontrar outras coisas para fazer, o que pode ser extremamente perturbador em um tipo de contexto familiar urbano ou suburbano.”
Os border collies urbanos podem tentar pastorear crianças ou desenvolver comportamentos obsessivos de busca — eles estão bem adaptados para o que foram criados, mas pode ser difícil mantê-los ocupados se não for o que você deseja deles.
“Portanto, há todos os tipos de ramificações quando pegamos esses animais, que selecionamos determinados tipos de comportamento por muitas gerações, e basicamente decidimos arbitrariamente em algum momento que não queremos mais que eles façam isso”, explica Serpell.
Para evitar aborrecimentos, entender de onde vêm os hábitos de nossos animais de estimação pode nos ajudar a ressignificá-los como são — fantasmas fascinantes do passado, em vez de falhas de personalidade a serem erradicadas.
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