Gigante da produção de agrotóxicos vai remunerar produtores em dinheiro ou em créditos para a compra de produtos. Lavoura de soja, um dos principais produtos do agronegócio brasileiro
REUTERS/Agustin Marcarian
A alemã Bayer lançou nesta terça-feira (21) um programa piloto nos Estados Unidos e no Brasil que pagará a produtores pela captura de carbono em áreas agrícolas, tornando-se a mais recente empresa do setor a tentar capitalizar iniciativas ambientais.
A companhia busca inscrever cerca de 1.200 agricultores na primeira temporada da Iniciativa Carbono Bayer, mas tem o objetivo de ampliar a proposta nos próximos anos e, por fim, também expandi-la para outros países, segundo executivos.
Do total, cerca de 500 produtores rurais brasileiros foram selecionados pela Bayer para participar do projeto. Eles estão localizados em 14 Estados (RS, SC, PR, SP, MG, MS, GO, MT, RO, TO, PA, BA, PI e MA), com cultivos principalmente de soja e milho.
A iniciativa deve começar na safra 2020/21 do Brasil, em cerca de 60 mil hectares. O investimento estimado é de, aproximadamente, 5 milhões de euros no país, ao longo de três anos, disse a empresa em comunicado.
O programa é o mais novo de uma série de iniciativas recentes de empresas agrícolas voltadas para o meio ambiente, em meio a críticas às companhias pelo uso de produtos químicos nocivos e pelo trabalho insuficiente no combate ao desmatamento no Brasil.
No país, a Bayer contará com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) como parceira técnica para construir um mercado de carbono viável para os agricultores.
“Trata-se de um mercado com muito potencial, mas ainda intangível para os agricultores brasileiros. Esta iniciativa visa gerar uma base para um modelo que funcione para os produtores”, disse em comunicado o presidente da divisão agrícola da Bayer para a América Latina, Rodrigo Santos.
Nos EUA, a companhia de commodities Cargill já havia iniciado neste ano um projeto voltado para emissões de gases de efeito estufa e escoamento de fertilizantes no Estado de Iowa, enquanto a cooperativa agrícola Land O’Lakes anunciou na semana passada uma parceria com a Microsoft para atingir metas de sustentabilidade e tecnologia no sistema alimentício.
Os anúncios ocorreram após o Departamento do Tesouro norte-americano esclarecer questões sobre um benefício fiscal elaborado para estimular o investimento em projetos de captura e sequestro de carbono.
O programa da Bayer requer que os agricultores utilizem a plataforma de agricultura digital Climate FieldView, na qual produtores incluem dados sobre suas práticas agrícolas ecológicas. Essas informações poderão ser confirmadas por meio de imagens de satélites.
A Bayer vai recompensar os agricultores pelo sequestro de carbono com pagamentos em dinheiro ou em créditos para a compra de produtos na plataforma Bayer PLUS.
“Se os agricultores estão sequestrando carbono para o benefício da sociedade e do planeta, eles devem ser recompensados por isso”, disse à Reuters o diretor da divisão de ciência agrícola da Bayer, Brett Begemann.
Ele preferiu não revelar o custo total do programa, e afirmou que o valor do carbono a ser sequestrado será precificado pelo mercado.
“No fim das contas, nós temos de manter uma linha clara de visão de que isso deve contribuir para os resultados da Bayer e também beneficiar nossos acionistas”, disse Begemann.
Comentar