Criadores de abelhas nativas afirmam que produção de mel despencou conforme a região foi tomada por fazendas nas últimas décadas. Produção de abelhas sem ferrão despencou na região de Belterra e se tornou economicamente insustentável
Gabriel Siqueira/BBC
Cercada de plantios de soja por todos os lados, a Chácara João do Mel, em Belterra, no oeste do Pará, é como uma ilha de biodiversidade que ainda reflete a natureza amazônica em um cenário formado por áreas desmatadas a perder de vista.
Por que a produção de alimentos depende tanto de agrotóxicos?
Apesar da expressão de resistência ecológica, o pequeno oásis pertencente a João Batista Ferreira já sofre os efeitos do modelo de monocultura regada a agrotóxicos em larga escala. Esse e outros impactos socioambientais têm sido cada vez mais associados ao extermínio de abelhas e, consequentemente, à inviabilidade da produção de mel como atividade econômica desse município que integra a Região Metropolitana de Santarém, a 724 km de Belém.
Aos 59 anos, Ferreira passa por uma mudança de rumo profissional jamais imaginada para quem transformou um hobby, aprimorado desde a adolescência, em um bem-sucedido negócio de meliponicultura (cultivo de abelhas nativas sem ferrão) que o tornou conhecido regionalmente como João do Mel.
Ele recorda que há 20 anos tinha mais de mil colmeias, abrigadas em caixas de madeira padronizadas que foi aprendendo a confeccionar a partir dos 17 anos. Estrategicamente espalhadas pela propriedade de 16 hectares, cada uma chegava a ter de 80 mil a 100 mil abelhas jataí, jandaíra e outras espécies nativas.
Conhecedor dos nomes científicos e principais hábitos das abelhas, o ex-produtor diz que as chamadas de canudo (ou tucano) eram campeãs de produtividade.
“Produziam de 5 a 6 kg, por caixa. Mas, atualmente, a produção de cada uma não rende nem meio quilo”, calcula, relacionando esse declínio à expansão gradativa da soja nas últimas duas décadas na região.
E acrescenta que o agronegócio mudou o comportamento e a dinâmica de reprodução desses polinizadores. “Quantas vezes encontramos caixas completamente vazias ou enxames mortos.” Assim, o sonho de manter essa atividade comercial ruiu completamente depois de 40 anos.
Com cerca de 100 caixas que restaram na chácara, João do Mel admite que naquele “cemitério de colmeias” jaz a meliponicultura como atividade de reconhecida importância socioeconômica e ambiental.
Colmeia de abelha nativa sem ferrão na Chácara João do Mel, em Belterra
Gabriel Siqueira/BBC
As pequenas quantidades de abelhas que resistem precisam se alimentar do próprio mel produzido nas últimas colmeias que ele mantém somente para nutri-las. “Se tirar o mel o enxame se acaba”, explica, acrescentando que além da redução da quantidade de áreas de florestas e, consequentemente, das floradas das quais dependem esses e outros polinizadores, a situação piora na temporada de chuvas intensas na Amazônia.
Como outro reflexo do desequilíbrio ecológico regional, o ex-produtor menciona que não faltam, ainda, as investidas de tamanduás que, ao farejarem a presença de abelhas, muitas vezes rompem as tampas das caixas em busca das colmeias que restam.
Com olhos marejados e voz embargada, ele diz ainda estar sentindo o impacto emocional pelo extermínio das abelhas na sua propriedade e nas de outros produtores da região.
Argumenta, ainda, que o fracasso dessa prática tradicionalmente vinculada à cultura indígena, à agricultura familiar e à agroecologia representa um sinal de risco, principalmente à segurança alimentar, embora o problema seja pouco percebido por grande parte da sociedade.
“O agronegócio chegou como uma bomba atômica a Belterra e o seu impacto foi violento”, opina João do Mel. “O agrotóxico pulverizado nos plantios de soja se dispersa no vento e na chuva, afetando toda a cidade.”
Ele diz que os efeitos podem atingir até mesmo as árvores mais altas, cujas floradas são buscadas pelas abelhas sem ferrão. Ele se queixa da falta de fiscalização ao uso desses produtos químicos e diz que são cada vez mais comuns os casos de câncer na região, doença praticamente inexistente antes da expansão dessa cultura agrícola.
O ex-produtor afirma que enquanto a agricultura familiar é benéfica à presença de abelhas, as monoculturas, de forma geral, contribuem para ampliar a perda de habitat.
Em um passeio com a reportagem pela chácara, João do Mel fala das conexões entre fauna e flora. “A cotia passou por aqui. Veio comer tucumã”, explica mostrando as marcas das patas do animal deixadas na terra molhada e aponta para o pé de carregado, com muitos frutos já caídos pelo chão.
João do Mel com tucumã nas mãos: produtor se dedicou à produção de mel por mais de 40 anos
Elizabeth Oliveira
Apaixonado por música e poesia, ele gosta de criar inspirado nas dinâmicas da natureza. “A ecologia perdeu seu lugar. Lutar para quê, se a vida é matar ou morrer?”. diz em O lamento do João do Mel, poema que tem despertado o interesse de estudiosos e outros profissionais atentos ao que acontece na região.
Filho de pais que vieram do Ceará para trabalhar no fracassado polo da borracha da Amazônia e se radicaram em Belterra, ele deixa escapar alguns sinais de força e esperança.
Quando reconheceu a impossibilidade de tirar o sustento da produção de mel, João do Mel passou a produzir móveis e peças decorativas com restos de madeira em uma oficina que instalou na chácara. Agora se considera artesão. Também está prestes a ser pai e, ao falar sobre o filho que deve nascer em meados do ano, sorri.
Mas desanima quando indagado sobre as expectativas para o desenvolvimento da cidade que será a terra do seu filho: “Não vejo futuro nenhum em Belterra”, afirma. E se tivesse que dar um conselho para quem deseja se dedicar à meliponicultura na região? “Eu não aconselharia. É prejuízo na certa. Muitas abelhas já foram extintas e outras serão brevemente.”
Os Jandaíras contra a extinção
Em outra área de 16 hectares de floresta conservada, o pastor José Batista Ferreira, 57 anos, também tenta livrar as abelhas da extinção. Desde a adolescência, o pastor Natalino, como é conhecido, tem uma grande preocupação com a proteção da natureza, tanto que há cerca de 40 anos tem se dedicado à criação desses polinizadores.
Assim como o irmão, João do Mel, ele tem predileção pelas abelhas sem ferrão. Ambos sorriem quando são comparados à jandaíra, espécie resistente às condições adversas.
Para o pastor, o avanço do agronegócio pode ter sido importante do ponto de vista econômico para o Brasil, mas a julgar pela realidade de Belterra, o balanço não é positivo.
Ele relata que, há 20 anos, a sua produção de mel alcançava até seis toneladas por ano. Em 2019, foram produzidos somente 100 kg, mesmo tendo uma área de floresta com diversidade de espécies que contribuem para a proteção das abelhas.
Sua escala comercial também foi sendo gradativamente inviabilizada. “O que ainda fazemos é para livrar as abelhas da extinção”, afirma. Durante a entrevista, o pastor aponta para os ingás e avisa: “Tá na hora da florada”.
Nos arredores do sítio explica que espécies como cedro, murta, louro, pau-ferro e outras florescem em diferentes épocas do ano. Assim como na propriedade do irmão, apesar da queda da produção do mel, considera que o ambiente ainda pode ser considerado uma “ilha de vida silvestre”.
Tentativa de implantação de polo industrial em Belterra favoreceu a expansão da soja
Gabriel Siqueira/BBC
Em torno das caixas de abelhas jataí, por exemplo, conta que são avistados morcegos, beija-flores, borboletas e mariposas. Nos arredores da casa também são vistos tamanduás, pacas, tatus e cotias. “A diversidade da floresta garante um mel de alto valor nutricional”, ressalta.
O pastor também considera que o uso de agrotóxicos nas plantações de soja tem relação direta com a perda gradativa da produção de mel, antes abundante na região. Ele relata que encontrar colmeias vazias se tornou uma rotina, quando antes enchiam de abelhas e mel, o que leva a crer em uma mudança na dinâmica de reprodução desses polinizadores.
“Se as abelhas deixarem de existir, outras espécies vão desaparecer, e o ser humano também”, alerta.
Com expressão preocupada, conta, ainda, que produtores de soja estão interessados em comprar as suas terras e fazem ofertas que não correspondem ao valor da propriedade. Tem sido assim com outros proprietários, conforme inúmeros relatos ouvidos sobre esse tipo de pressão provocada pelo setor.
Assim como outros entrevistados, o pastor afirma que ainda falta liderança na cidade para questionar os impactos do avanço da produção de soja percebidos no ambiente, na saúde dos moradores e, sobretudo, na agricultura familiar.
Para ele, embora o prefeito de Belterra seja médico, não parece priorizar as questões ambientais, que têm interface direta com problemas de saúde pública.
‘O veneno está no centro da cidade’
Cortada por uma rua de barro, a casa de Lucivaldo Pimentel, conhecido como Seu Lúcio, de 46 anos, é separada de uma área de mais de 60 hectares de plantio de soja por uma distância de cerca de dez metros.
Ele conta que, há pouco mais de dez anos, quando foi morar naquela residência, a vista era tomada por uma floresta com ipês, seringueiras, castanheiras e tantas outras árvores amazônicas.
“Pouco tempo depois, chegaram os (produtores) gaúchos. Passaram o trator e derrubaram tudo”, recorda. Os novos vizinhos, que nada construíram, disseram que tinham documentos de titulação, mas os moradores da localidade tinham conhecimento de que aquelas se tratavam de terras pertencentes à União.
A derrubada da floresta foi denunciada à Secretaria Municipal de Meio Ambiente e ao Ibama, relata o morador. A área chegou a ser lacrada pelos órgãos públicos, mas, a partir de 2010, o plantio de soja tomou forma de vez, sendo regularmente pulverizado com agrotóxicos.
Enquanto os seus quatro filhos e os filhos dos vizinhos passaram a manifestar alergias na pele, náuseas e outros sintomas, Seu Lúcio conta que começou a amargar prejuízos causados pelos impactos dos produtos químicos em árvores frutíferas e animais que serviam de fontes de renda e alimentação familiar.
No ano passado mais de 60 galinhas do seu quintal morreram, segundo ele, afetadas pelo veneno trazido pelo vento e pela chuva. Os vizinhos produtores de soja prometeram pagar cerca de R$ 5 mil, mas o ressarcimento ainda não ocorreu.
Além de não haver mais carne e ovos para comer e vender, o abacateiro, outra fonte de renda familiar, não produz mais frutos. As bananeiras estão secando e a mangueira tem folhas escurecidas, com mangas que apodrecem antes mesmo do crescimento.
Colmeias em produção em comunidade da Reserva Extrativista Tapajós Arapiuns
Projeto Saúde & Alegria
Seu Lúcio relata que perdeu a conta da quantidade de pássaros mortos que tem visto. “Abelhas e outros insetos desapareceram daqui”, lamenta.
Há nove anos, ele sofreu uma queda enquanto trabalhava em uma construção. O impacto na coluna vertebral levou à perda dos movimentos das pernas. Desde então, passou a usar cadeira de rodas e a viver com um benefício de um salário mínimo.
Diante da dificuldade de locomoção, começou a ficar mais tempo em casa e a sentir mais diretamente os efeitos dos agrotóxicos pulverizados na plantação de soja dos vizinhos.
“O veneno é lançado na parte da tarde e tem um cheiro muito forte”, afirma. E acrescenta que pode ser sentido tanto pelas crianças na escola como pelos doentes no hospital da cidade.
“Sabemos que veneno em área urbana é proibido. Mas não existe fiscalização. A gente denuncia, mas não há qualquer providência”, lamenta.
Ao ser indagado sobre o que espera para o seu futuro, Seu Lúcio responde com os olhos marejados que, brevemente, aquela terra “não servirá para mais nada”.
A degradação ambiental, diz, será fonte de mais dificuldades financeiras, sobretudo para a população mais pobre, que, consequentemente, deverá ter mais problemas de saúde.
“Eu mesmo tenho medo de ter uma doença. Sabemos que têm morrido muitas pessoas com câncer na cidade. Aqui não existia isso”, ressalta.
Por fim, diz não sentir que Belterra evolui com a expansão da soja. “Aqui não fica nada. Vai tudo para a China”, comenta em relação às exportações do produto.
Agrotóxicos no ambiente
O comportamento dos agrotóxicos no ambiente representa uma das principais preocupações dos pesquisadores dedicados aos estudos sobre esses produtos químicos, segundo o biólogo Ruy Bessa, professor da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA).
“Essas substâncias transitam por todas as matrizes ambientais. Estão no solo, na água, no ar, na biota e em nós”, afirma o especialista, que atua em ecotoxicologia, uma área de pesquisa com interfaces entre os temas de saúde ambiental e saúde pública.
Últimas colmeias de João do Mel: ‘O homem não vê o tempero da natureza’, diz o ex-produtor
Gabriel Siqueira/BBC
Ao tomar conhecimento dos relatos ouvidos pela equipe de reportagem, o professor concordou com as percepções dos entrevistados sobre os potenciais riscos de dispersão de agrotóxicos. “O apodrecimento ou enrugamento das folhas do abacateiro do morador de Belterra se deve a isso”, diz.
“A literatura científica nos informa que mais de 90% desses venenos, desses compostos, quando aplicados, atingem populações formadas por não alvos. É o abacateiro do seu João, a mangueira, a andiroba. São os roedores, os pássaros, as abelhas e somos nós.”
Como indicador de problemas relacionados à “saúde ambiental”, Bessa destaca que há um declínio nas populações de abelhas, em nível mundial, não causado apenas pelo uso de agrotóxicos.
Na região metropolitana de Santarém são afetadas, especialmente, as abelhas sem ferrão. O especialista destaca que sem essas formas de vida, “as florestas encolhem”.
A importância socioambiental e econômica dos serviços de polinização é apresentada no Relatório Temático sobre Polinização, Polinizadores e Produção de Alimentos no Brasil, lançado em 2019, pela Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES, na sigla em inglês)
Defensor da ampliação do monitoramento sistemático sobre os potenciais impactos causados pelos agrotóxicos na Região Metropolitana de Santarém, o professor também alerta para outros riscos que preocupam os pesquisadores.
“O problema maior é que nós estamos no coração da região. No meio da área de produção [de soja] nós temos a Floresta Nacional (Flona) do Tapajós”, alerta.
Essa unidade de conservação federal, de importância socioambiental e econômica central para a região, ocupa 527,3 mil hectares, abrangendo os municípios paraenses de Aveiro, Belterra, Placas e Rurópolis, embora a sua maior extensão (248,2 mil hectares, 46,94% da área total) esteja localizada em Belterra.
O especialista defende, principalmente, análises de riscos de contaminação dos seus recursos hídricos.
O professor adverte, ainda, que alguns compostos químicos presentes nos agrotóxicos podem se movimentar com mais facilidade na Região Metropolitana de Santarém devido ao seu tipo de solo mais aerado. “Essa contaminação pode atingir o lençol freático”. Para o especialista, isso precisa ser mais amplamente investigado.
Das seringueiras à soja
O passado de Belterra foi marcado, no início do século passado, pela tentativa frustrada de Henry Ford, na época o empresário mais rico do mundo, de produzir borracha na Amazônia, a partir de concessões governamentais para exploração de cerca de 1 milhão de hectares.
No Pará, o projeto de plantio de seringueiras para a fabricação de pneus dos automóveis da companhia americana foi iniciado por Fordlândia, atualmente pertencente ao município de Aveiro. Como o projeto falhou, por uma série de razões envolvendo as particularidades naturais do bioma (incluindo a sazonalidade de seus rios), a praga que atingiu as árvores plantadas e a resistência cultural de seus povos aos hábitos estrangeiros que se tentou impor, Belterra foi a segunda escolha pela sua localização, solo e relevo considerados privilegiados à expansão dessa monocultura.
Embora essa nova investida também não tenha dado certo, resquícios da presença americana ainda são perceptíveis na atualidade. Os traços são visíveis na arquitetura de prédios públicos e da vila de casas construída para as famílias dos funcionários que vieram viver na cidade, fundada em 1934, com objetivo de abrigar um polo industrial.
Seu nome deriva de Bela Terra, uma expressão de surpresa diante das riquezas naturais existentes em abundância, até então.
Arquitetura americana em Belterra: resquícios da passagem da montadora Ford pela região
Elizabeth Oliveira
A família da professora Laura Chagas vive na casa número 2, construída em madeira de pequiá e castanheira para hospedar o então presidente Getúlio Vargas, que visitou o megaprojeto em 1940.
Há 54 anos, a residência passou à propriedade da família já que o pai dela veio para a região, como agrônomo, para atuar no polo da borracha e, posteriormente, foi contratado pelo Ministério da Agricultura.
A casa número 1, também erguida em madeira nobre, foi projetada para receber o empresário Henry Ford, que nunca veio à região temendo contrair doenças tropicais.
Ela conta que, além da vila residencial, a Ford providenciou a instalação de infraestrutura urbana de Belterra, cidade que foi projetada em quadras. Água tratada e canalizada, hospital, telecomunicações, entre outros serviços foram trazidos à cidade em caráter pioneiro na região.
“Esse passado deixou uma infraestrutura que continua servindo à cidade. E hoje o que a soja deixa para nós?”, questiona a professora, graduada em biologia e preocupada com os impactos socioambientais desse modelo de monocultura que se expandiu na região.
No documentário Beyond Fordlândia (Muito além de Fordlândia, no título em português), dirigido pelo pesquisador Marcos Colón, é traçado um paralelo entre passado e presente da região, a partir de uma narrativa que ilustra como a cultura da soja se beneficiou do caminho aberto pelo projeto megalomaníaco de Ford, cujo desmatamento buscava a substituição da floresta nativa pela monocultura de seringueiras.
Cortada pela controversa rodovia Santarém-Cuiabá, a BR-163, Belterra, com cerca de 17 mil habitantes, está inserida num polo regional de produção da oleaginosa que se expandiu nos últimos 20 anos.
O aposentado Francisco Bezerra Oliveira, 80 anos, conhece bem a história de se tentar, sem sucesso, fazer de Belterra um laboratório a céu aberto de produção de borracha natural. Ele conta que seus pais vieram com a família do Ceará, atraídos por essa promessa não cumprida de progresso para a Amazônia.
Entre passado e presente, o aposentado também busca traçar um paralelo pela experiência de vida. “Assim como aconteceu com as seringueiras, a soja também não vai dar certo”, opina. “O solo não é apropriado”, acrescenta, destacando a necessidade de uma grande quantidade de produtos químicos para viabilizar os plantios. Ele diz que a riqueza da Amazônia está na sua floresta de pé.
“O solo é apropriado à floresta”, reforça ao reclamar que o desmatamento da região, também associado à expansão da soja, contribui para o desaparecimento das abelhas e de muitas outras espécies.
O aposentado diz conhecer famílias que sofrem diretamente “os efeitos dos jatos de veneno” da pulverização de agrotóxicos, precisando vedar janelas e outras entradas de ar de suas casas durante essas aplicações nas plantações no entorno.
Mas reclama da falta de fiscalização e de mobilização da sociedade para enfrentamento mais enérgico do problema.
Lamenta, ainda, que, historicamente, seja recorrente na Amazônia a concessão de terras públicas para plantio de culturas que não são nativas da região.
Sua visão crítica se reflete nas músicas e paródias que gosta de criar. Ao violão entoa: “…A soja plantada, a mata sumindo e o povo assistindo sem nada fazer”. Outros versos dão o tom do entendimento da interface entre desmatamento e o agravamento da crise climática: “Motosserra zoando e o clima só faz aquecer….”.
O aposentado reconhece que existem leis para a salvaguarda da natureza, mas que não estão sendo cumpridas devido aos inúmeros interesses econômicos e políticos envolvidos. Suas ideias também se transformam em versos críticos que soam ao violão em questionamento: “… A lei protege, mas que proteção é essa, se o trator e a motosserra todo dia fazem festa?….”.
A reportagem manteve contatos com o prefeito de Belterra, Jociclélio Castro Macedo, e com a assessoria de imprensa da ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina. Mas, até a publicação desta reportagem, não houve retorno às solicitações de entrevistas para discutir possíveis soluções para os problemas relatados.
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