Obras de Duhigó representam tradições indígenas da etnia Tukano com lembranças da própria vivência da artista. O intuito é de representar e preservar a cultura indígena através da arte. Artista amazonense Duhigó se tornou primeira indígena do estado a ter uma obra em exposição no Museu de Arte de São Paulo.
Patrick Marques/G1 AM
A artista visual Duhigó se tornou a primeira indígena amazonense a ter uma obra em exposição no Museu de Arte de São Paulo (MASP). Formada em artes visuais desde 2005, ela produz quadros que representam tradições indígenas da etnia Tukano com lembranças da própria vivência da artista. O intuito é de representar e preservar a cultura através da arte.
Duhigó contou ao G1 que viveu uma parte da vida em uma aldeia e se mudou para Manaus após morar em São Gabriel da Cachoeira com o marido. O relacionamento não deu certo e ela lembrou que precisou buscar meios para sobreviver e cuidar dos filhos na cidade.
“Fiquei passando dificuldades com meus filhos. Fomos morar com minha tia, quando surgiu o Instituto Dirson Costa. Chegou um conhecido avisando que surgiu uma escola de artes para as pessoas indígenas que moravam aqui em Manaus. Eu falei para ele que queria participar. Eu fiz esse curso, mas nunca imaginei que chegaríamos a esse sucesso que estamos fazendo”, contou.
Enquanto ainda aprendia as técnicas das artes visuais, Duhigó lembrou que leu livros em uma biblioteca sobre arte que mostravam pinturas de outros artistas. Foi quando ela soube sobre o que iria representar em suas obras. A cultura de seu povo através das próprias lembranças.
Artes de Duhigó representam tradições de seu povo através de lembranças da artista.
João Floriano/Rede Amazônica
Com os quadros que representam momentos e tradições indígenas que ela viveu quando jovem, a artista explicou que o intuito é de mostrar para as outras pessoas e eternizar os momentos e tradições através da arte.
“Hoje em dia as pessoas falam tanto, mas não sabem o que pode acontecer no futuro. Vai ser esquecido. Eu quero deixar essas coisas para as pessoas terem ideia para a continuação dos novos trabalhos indígenas”.
“Rede Macaco”
Um dos últimos quadros feitos por Duhigó se chama “Rede Macaco”. A obra representa o parto de uma irmã da artista, que ela presenciou em uma aldeia quando ainda era criança.
A obra foi feita para participar de uma exposição itinerante que percorreu quatro estados do país e chamou a atenção do Museu de Arte de São Paulo (MASP). O museu entrou em contato com a Manaus Amazônia Galeria, que representa as obras da artista.
“A diretoria do Masp tomou conhecimento da obra da Duhigó e achou que seria uma obra relevante para compor o acervo do museu. A partir daí, todo um caminhar foi feito para que pudéssemos sensibilizar colecionadores e mecenas de arte para doar essa obra ao MASP”, explicou o diretor da Manaus Amazônia Galeria, Carlysson Sena.
Quadro de Duhigó “Rede Macaco” representa lembrança de como foi parto de sua irmã, quando ainda era criança.
Divulgação
Segundo Sena, o MASP não compra obras, mas aceita doações. Para que o quadro de Duhigó não fosse doado sem um retorno para a artista, a galeria encontrou um casal que se interessou em adquirir o quadro para doação ao museu.
“Felizmente encontramos o casal Mônica e Fábio Ulhoa que tiveram a sensibilidade não só de adquirir a obra para doação ao museu, mas por entender que a obra de Duhigó, que conta uma história da Amazônia, era relevante de estar no maior museu do país“, explicou o diretor.
O quadro já está em exposição no MASP desde o dia 28 de agosto.
Quadro da artista indígena amazonense está em exposição no Museu de Arte de São Paulo desde o dia 28 de agosto.
Divulgação
Representação da cultura
Duhigó se tornou a primeira mulher indígena a ter uma obra em exposição no MASP. Para ela, ter o quadro exposto no museu traz a oportunidade de levar a memória do povo indígena e da geração vivida por ela para o mundo.
Ela lembrou dos tempos antes de conhecer a arte, quando não sabia o que faria para sobreviver, e da trajetória que a levou a se tornar a primeira mulher indígena a ter um quadro em exposição no MASP.
“Fiquei dentro do Instituto Dirson Costa 13 anos. Nunca imaginei que poderia ter chegado nesse sucesso que está acontecendo pelas minhas obras de arte e sendo colocada em São Paulo para todo mundo ver. Para que o mundo conheça as minhas obras de arte da região amazônica, do meu grupo Tukano, do Alto Rio Negro, expondo minhas obras para as pessoas conhecerem como o grupo Tukano vivia”, finalizou Duhigó.
Para Duhigó, ter um quadro exposto no MASP trás uma oportunidade de levar a memória do povo indígena e a geração vivida por ela para o mundo.
João Floriano/Rede Amazônica
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