Videoinstalação está no Museu da Borracha em Rio Branco. ‘É um cenário que hoje a gente vê como majoritariamente masculino, mas dentro do seringal, as mulheres trabalhavam tanto quanto os homens’, diz artista. Exposição reforça o protagonismo feminino nos seringais da Amazônia
Documentar as histórias de mulheres seringueiras que foram apagadas ao longo do tempo é o objetivo da exposição “Seringueira: as páginas arrancadas da história”, assinada pela artista Roberta Marisa. Cada mulher contou a sua própria jornada em áudios e a artista decidiu registrar as mãos calejadas de todas elas em telas que estão expostas em uma videoinstalação no Museu da Borracha, no Centro de Rio Branco.
“Registrei as digitais delas com arte, como se as mãos calejadas e cheias de história fossem a tela. Então, esse trabalho começou de forma artística. Primeiro com a conversa, com a entrevista, a história oral, e a documentação dessa mão, dessa digital, dessa história dessa força de forma artística e, a partir daí as páginas que iam sendo arrancada de cada arte dessa mulher, eu fui guardando e surgiu a ideia da exposição.”
Ideia é resgatar a figura feminina no trabalho dentro dos seringais na época da borracha
Reprodução/Rede Amazônica Acre v
Com o projeto, a artista quer mostrar o protagonismo feminino nos seringais da Amazônia e revelar a força da mulher seringueira, mas também o sofrimento em um cenário que era majoritariamente masculino.
“As mulheres sim fizeram parte desse movimento muito forte de trabalho no seringal, de produção, um trabalho denso, árduo, que foi muito protagonizado pelos homens. É um cenário que hoje a gente vê como majoritariamente masculino, mas dentro do seringal, as mulheres trabalhavam tanto quanto os homens. Então essa exposição traz essa história, documenta esse fato tão importante que é não só a presença, mas o protagonismo dessas mulheres dentro dos seringais. Muitas delas trabalhavam, cortavam e não vendiam porque muitos dos senhores nem aceitavam as borrachas de mulheres”, relata.
Com digitais de mulheres seringueiras, artista compõe exposição
Reprodução/Rede Amazônica Acre
História ilustrada
Com a pandemia de Covid-19, a exposição precisou ser adaptada. A obra foi toda registrada em vídeo e dividia em três partes que estão disponíveis em uma galeria on-line. Além disso, todos os vídeos foram gravados da perspectiva de um visitante para se aproximar o máximo possível de uma visita presencial.
O primeiro episódio mostra as obras que deixaram as paredes e foram colocadas no chão em toras de madeira como uma passagem por estradas de seringa na floresta. Já o segundo, mergulha na história dessas mulheres que trabalhavam na extração de seringa, no roçado e na quebra de castanha enquanto percorre as pinturas a óleo feitas em mantas de casca.
Tudo isso enquanto ao fundo se ouve o relato forte e vívido dessas mulheres esquecidas.
“Não sou eu quem conta a história, eu ilustro essa história. Quem conta essa história são elas. Então, o áudio da exposição vem com todo o recorte das histórias reais dessas mulheres. É uma história humana, verdadeira, que tá dentro da galeria e se manifesta de forma simples e ao mesmo tempo muito potente. Procuro usar várias técnicas de pintura e de forma bem simples relatar essas histórias com a narrativa ilustrada. A forma mais simples e poderosa de se tratar essa história é com humildade e gentileza”, pontua.
Exposição on-line pode ser acessada no site da artista
Reprodução/Rede Amazônica Acre
As histórias retratadas no projeto se conectam com a história da própria artista, que é neta e filha de seringueiros cresceu ouvindo esses relatos. O trabalho é uma forma de honrar as jornadas das seringueiras do Acre. O último vídeo da galeria on-line mostra o processo da artista para criar a exposição e registrar essas memórias.
“A gente traz toda essa atmosfera do museu também. É um lugar que muitos acreanos conhecem, já é familiar. Até o terceiro episódio que fala um pouco sobre a obra e como foi construída essa história. E aí a equipe traz um pouquinho da sua experiência para dentro desse vídeo”, finaliza.
VÍDEOS: Acre rural
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