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'Amor não é turismo': os casais separados pela pandemia no Japão thumbnail
Turismo

'Amor não é turismo': os casais separados pela pandemia no Japão

Casais vêm impulsionando a hashtag #LoveIsNotTourism (‘o amor não é turismo’), mobilização internacional de petições, fóruns de discussões e disparo de e-mails endereçados a autoridades para pedir a flexibilização das regras de restrições de viagem para casais a diversos países Gabriela e Michael se conheceram online e namoram desde 2018
Arquivo Pessoal/BBC
Quase dez mil quilômetros separam o britânico Michael Card, 35, e a nipo-brasileira Gabriela Abe, 32. A distância é o equivalente a atravessar o Brasil do Oiapoque ao Chuí, ida e volta.
Recém-casados, eles estão separados desde março devido às rigorosas restrições de acesso ao Japão, cujas fronteiras estão fechadas a passageiros vindos de mais de 100 países por conta da pandemia de covid-19.
Gabriela e Michael se conheceram online e namoram desde 2018. Em janeiro deste ano, eles se casaram no arquipélago asiático.
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Ela faz doutorado na Universidade de Osaka e possui visto de estudante desde 2017. Ele voltou ao Reino Unido após o casamento, a fim de organizar e enviar os documentos para seu pedido de visto vinculado a Gabriela, mediante o certificado de elegibilidade, um importante documento emitido pelo Departamento de Imigração do Ministério da Justiça do Japão.
Munido de certificado e demais documentos, o britânico deu entrada no pedido em março. Dias depois, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a pandemia do novo coronavírus e o Japão, atingido pela covid-19 logo após a cidade chinesa de Wuhan, decidiu fechar fronteiras a diversos países – em abril, eram 111; em julho, 129, entre eles o Brasil, os Estados Unidos e quase toda a Europa. A emissão de novos vistos foi suspensa até segunda ordem.
“Estava prestes a obter o visto, era uma questão de dias. Agora, estou no escuro sem saber, como muitos estrangeiros, quando vou poder reencontrar minha família. Estou sem passaporte, que ficou na embaixada. Estou sem emprego e sem casa própria, pois minha vida não é mais aqui, já era para ter começado minha vida nova no fim de março. Não quero ir ao Japão para turismo, quero ir para casa, para Gabi”, conta Michael à BBC News Brasil.
“E estou vivendo sozinha, na casa onde deveríamos morar juntos”, acrescenta Gabriela. “É estressante e emocionalmente desgastante não saber o que vai acontecer amanhã, não há estimativa de tempo, não há certeza de nada. Ninguém sabia que a situação da covid-19 escalaria tão dramaticamente.”
Michael agora passa os dias em busca de informações para conseguir entrar legalmente no país – além da embaixada japonesa no Reino Unido, ele já escreveu para o gabinete do primeiro-ministro Shinzo Abe, para o Ministério da Justiça e o Ministério das Relações Exteriores.
“Caro Sr. Card, sinto informar que não há progresso no seu pedido de visto. Compreendo que são notícias desanimadoras”, diz um dos últimos e-mails da embaixada, o único órgão oficial que lhe deu algum retorno.
Enquanto a resposta final não vem, eles tentam vencer o fuso de 8 horas de diferença entre Leeds e Osaka para conversar online.
Na internet, inclusive, casais como Gabriela e Michael vêm impulsionando a hashtag #LoveIsNotTourism (“o amor não é turismo”), mobilização internacional de petições, fóruns de discussões e disparo de e-mails endereçados a autoridades para pedir a flexibilização das regras de restrições de viagem para casais a diversos países.
#LoveIsNotTourism
O movimento é forte na União Europeia, que recomenda vetar o ingresso de passageiros procedentes de países onde a pandemia não está sob controle.
Atualmente, apenas 14 passaportes possuem livre acesso ao território europeu; entre os latino-americanos, somente o Uruguai está liberado.
Já no Japão as restrições deixaram diversos estrangeiros impedidos de voltar para casa – entre eles, residentes estrangeiros, cônjuges de residentes estrangeiros e até cônjuges de japoneses.
Segundo dados do Departamento de Imigração divulgados neste ano, no arquipélago de cerca de 127 milhões de habitantes vivem quase 3 milhões de residentes legais estrangeiros, um recorde histórico.
Entretanto, apenas japoneses podem viajar ao exterior e voltar a qualquer momento; mesmo com os documentos em ordem, os demais correm o risco de serem barrados no aeroporto e mandados de volta.
“Na maioria dos países, especialmente entre os desenvolvidos, ao menos residentes permanentes não são barrados, mas no Japão é diferente. […] Todos os estrangeiros, inclusive residentes permanentes que não viveram em nenhum lugar além do Japão por décadas, também são barrados”, escreveu o acadêmico europeu Sven Kramer, radicado no Japão, no abaixo-assinado na plataforma Change, endossado por 11 mil signatários até 13 de julho.
Desde abril, estrangeiros que tiveram o visto aprovado e estavam prontos para embarcar perderam o timing também pois as fronteiras se fecharam e venceu o prazo de 90 dias para ingressar no país. Agora, vão precisar pedir um novo visto, do zero.
Em junho, o país anunciou a abertura de exceções nas regras de retorno de estrangeiros, mediante “circunstâncias excepcionais” e “considerações humanitárias”, conforme diz o informa oficial do Departamento de Imigração, como ir a um funeral ou visitar um familiar que está no leito de morte no exterior, desde que o destino não esteja entre os países proibidos até o dia de saída do Japão. Isto é, a diretriz deixa de fora estrangeiros de dezenas de países a depender da data.
Em julho, segundo a agência pública NHK, o governo japonês sinalizou que pretende permitir o retorno de residentes estrangeiros em breve em certos casos, incluindo empresários, estudantes e trainees técnicos.
Até o fim do mês, a expectativa é flexibilizar restrições a estrangeiros nas viagens de negócios a dez países asiáticos, entre eles China e Coreia do Sul.
Também há diálogos em andamento para viagens de negócios com Austrália, Nova Zelândia, Tailândia e Vietnã, que se destacaram no controle do coronavírus. Turistas estão no fim da fila de espera para voltar a atravessar as fronteiras japonesas.
Demissão e incerteza
Turista é o status da americana Hillary Maxson, 34, que está noiva do japonês Yuhei Kobayashi, 29. Hillary, historiadora, mora em Washington; Yuhei, corretor de ações no mercado financeiro, vive em Chiba.
Juntos desde 2015, eles ficaram noivos no verão de 2019 – ela, uma acadêmica especializada em estudos de gênero no Japão moderno, foi quem fez o pedido romântico.
Em janeiro, eles viajaram para Yamagata, cidade natal de Yuhei. Foi o último encontro feliz, que reuniu toda a família japonesa do noivo.
Em fevereiro, ela voltou para os Estados Unidos, pediu demissão do posto de professora assistente na Universidade do Oregon, pois pretendia se mudar para o outro lado do mundo.
Enquanto ela cumpria o aviso prévio na universidade, estourou a pandemia e seu voo marcado para dia 9 de junho foi cancelado.
“Nós estávamos prontos para começar uma família. A separação é absolutamente desoladora para nós”, relata Hillary, que procurou a embaixada japonesa nos Estados Unidos, a embaixada americana no Japão e o Departamento de Imigração do Ministério da Justiça do Japão.
“A imigração japonesa nos orientou a tentar casar à distância, o que poderia nos dar uma chance de nos reencontrarmos não tão tarde. Ainda estamos tentando conferir se isso é possível. Mas, até lá, nós nos sentimos presos e profundamente abalados por não podermos estar juntos.”
Final feliz?
O técnico dinamarquês Jonas Damgaard Stephensen, 23, e a enfermeira japonesa Kana Takahashi, 24, também estão no limbo. Eles começaram a namorar em fevereiro, ela iria visitá-lo na Dinamarca em maio e ele voltaria ao Japão em julho.
“Foi um salto da esperança de um namoro novo a sequer saber se vamos nos ver novamente”, lamenta Jonas, que mobilizou um fórum de discussão no Facebook.
Uma das ideias é tentar pressionar as autoridades japonesas para que casais (casados no papel ou não) envolvendo estrangeiros sejam incluídos nas viagens essenciais por motivos humanitários.
“A campanha #LoveIsNotTourism deveria se espalhar pelo mundo todo. Passar a pandemia com quem você mais precisa deveria ser do interesse de todos, não é? A mensagem é importante, mas não sei como será recebida [no Japão].”
As restrições imigratórias vêm abalando jovens casados, noivos e namorados. Mas os brasileiros Thais Morissawa, 44, e Adriano Castro, 42, tiveram mais sorte.
Namorados desde 2011 e casados desde 2016, eles se mudaram no ano seguinte para o Japão, trabalhando junto a uma empresa de exportação de cosméticos asiáticos para o Brasil.
Em dezembro de 2019, decidiram passar férias no Brasil, já com as passagens marcadas de volta para o Japão: ela retornaria em janeiro, ele em abril. Thais voltou a Nagoia, mas Adriano ficou preso em São Paulo – seu voo foi cancelado três vezes pela companhia aérea após as restrições da imigração japonesa.
“Ele precisou alugar um AirBnb de última hora em São Paulo e precisou negociar, pois senão ia ficar sem teto. Ele, isolado lá, sem conseguir trabalhar. Eu, literalmente ilhada aqui, longe de toda a família. Cada cancelamento de voo foi uma frustração imensa. Cada notícia da pandemia no Brasil, uma angústia. Vem o sentimento de que o mundo está desabando e as fronteiras cada vez mais fechadas, as cidades sob lockdown. E, num momento como esse, a gente só quer estar perto de quem a gente ama”, diz Thais.
Em dezembro de 2019, Thais e Adriano decidiram passar férias no Brasil
Arquivo Pessoal/BBC
No dia 6 de julho, Adriano finalmente desembarcou em Tóquio – como eles tinham viajado para o Brasil pré-pandemia, ele se enquadrou nas exceções às regras de retorno de residentes estrangeiros.
No aeroporto de Narita, ele fez o teste de covid-19, que deu negativo. “Foi tudo tão tenso e tumultuado que nem tiramos foto do reencontro tão esperado. O voo estava marcado para Nagoia, no fim foi para Narita; a mala foi extraviada; a espera dentro do aeroporto durou 3 horas”, lembra Thais.
“Mas, enfim, o importante é que a gente conseguiu se reencontrar. Para quem está separado agora, sei que é difícil, que a distância dói, mas não pode perder a esperança. Isso é passageiro e, até passar, a gente precisa se como unir como pode.”
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