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Meio Ambiente

Amazônia teve 1.359 km² sob alerta de desmatamento em agosto, mostram dados do Inpe

Área é a segunda maior em cinco anos e é maior que a da cidade de Belém; Cerrado teve 189 km² de área sob alerta. Agosto marca o início da temporada de medições de desmatamento nos biomas brasileiros. Vista aérea mostra gado pastando em área desmatada da Amazônia próxima a Porto Velho, no dia 14 de agosto.
Ueslei Marcelino/Reuters
A Amazônia Legal teve uma área de 1.359 km² sob alerta de desmatamento em agosto, a segunda maior em cinco anos, mostram dados desta sexta-feira (11) do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), vinculado ao Ministério de Ciência e Tecnologia. A área com alertas é cerca de 300 km² maior que a de Belém (PA). Já o Cerrado teve 189 km² de área sob alerta, o menor número desde 2018.
Os alertas foram feitos pelo Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), que produz sinais diários de alteração na cobertura florestal para áreas maiores que 3 hectares (0,03 km²), tanto para áreas totalmente desmatadas como para aquelas em processo de degradação florestal (exploração de madeira, mineração, queimadas e outras).
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O sistema aponta áreas com marcas de devastação que precisam ser fiscalizadas pelo Ibama, e não as taxas oficiais de desmatamento (veja detalhes mais abaixo nesta reportagem).
“Em agosto de 2020, foram 1.359km², a segunda maior marca para o mês desde o início da série histórica, porém 21% menor do que em 2019, quando tivemos a marca máxima para o mês, 1.714 km²”, disse, em nota, Rômulo Batista, porta-voz de Amazônia do Greenpeace.
A Amazônia Legal corresponde a 59% do território brasileiro, e engloba a área de 8 estados (Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins) e parte do Maranhão. A maior parte da área desmatada da floresta em agosto foi no Pará (veja gráfico).
Os municípios que mais desmataram foram:
Porto Velho: 96,79 km²
São Félix do Xingu (PA): 73,31 km²
Altamira (PA): 72,69 km²
Lábrea (AM): 57,99 km²
Novo Progresso (PA): 40,94 km²
Itaituba (PA): 40,53 km²
Colniza (MT): 35,14 km²
Pacajá (PA): 25,15 km²
Cujubim (RO): 24,73 km²
Portel (PA): 24,55 km²
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Temporada
Incêndios na Amazônia: Moradora olha enquanto fogo se aproxima de sua casa perto de Porto Velho, no dia 16 de agosto.
Ueslei Marcelino/Reuters
Agosto marca o início da temporada de medições de desmatamento nos biomas brasileiros; as medições são feitas até julho do ano seguinte. Desta forma, é possível detectar o acumulado de destruição da Amazônia levando em conta os ciclos de chuva e seca e de desmatamento e queimadas.
O monitoramento do Deter para a temporada 2019-2020 mostrou cerca de 35% de aumento na área em risco da Amazônia em relação ao ano anterior. (Inicialmente, os dados apontavam 9.205 km² de desmatamento; depois, foram atualizados para 9.216 km²).
No Cerrado, a temporada de 2019-20 registrou uma queda no desmatamento em comparação ao ano anterior, de cerca de 32%: foram 4.138 km² desmatados contra 6.049 km² em 2018-19. Em 2017-18, o número ficou em 4.763 km².
Por causa da cobertura de nuvens variável de um mês para outro e da resolução espacial (tamanho mínimo da área imageada pelo sensor), o Inpe não recomenda comparar dados de meses e anos diferentes medidos pelo Deter.
Deter x Prodes
Vista aérea de área queimada na Amazônia, perto de Apuí, no Amazonas, no dia 11 de agosto.
Ueslei Marcelino/Reuters
Os alertas do Deter não representam, entretanto, a taxa oficial de desmatamento considerada pelo governo – essa é medida por outro sistema do Inpe, o Prodes (Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite), que trabalha com imagens de melhor resolução espacial.
A taxa oficial é divulgada uma vez por ano e também considera os números de agosto de um ano a julho do ano seguinte. Os dados de 2019-2020 ainda não foram divulgados, mas, no ano passado, a taxa oficial foi 42% maior do que apontavam os satélites do Deter. Os números do Prodes costumam ser, historicamente, maiores do que os do Deter.
Queimadas
Incêndio é visto na Floresta Amazônica no distrito de Janaucá, em Careiro Castanho, a 113 km de Manaus, no dia 4 de agosto.
Chico Batata/AFP
O desmatamento e as queimadas estão relacionados. O fogo é parte da estratégia de “limpeza” do solo que foi desmatado para posteriormente ser usado na pecuária ou no plantio. É o chamado “ciclo de desmatamento da Amazônia”.
Em agosto, os incêndios na Amazônia superaram, mais uma vez, a média histórica: foram 29.307 registros de queimadas de 1º a 31.
Em julho, houve 28% mais focos na floresta do que em julho de 2019; no mesmo mês, a floresta também teve um recorde diário de focos de calor: foram mais de mil registros no dia 30. Segundo o Ipam, 71% das queimadas em imóveis rurais na região ocorreram para manejo agropecuário.
“Houve um aumento nas queimadas em julho, agosto permaneceu praticamente igual ao desastre do ano passado e os 10 primeiros dias de setembro registraram assombroso número de 13.810 focos de queimadas, o que representa um aumento de 85% em relação ao mesmo período do ano anterior”, comentou, em nota, Rômulo Batista, porta-voz de Amazônia do Greenpeace.
O Pantanal também registrou recorde nos incêndios: julho foi o mês com mais focos desde o início das medições feitas pelo Inpe, em 1998. Em agosto, o bioma viu o segundo maior número de queimadas para o mês em sua história: 5.935 focos de calor detectados de 1º a 31 de agosto.
“Os desmatadores ilegais podem ter diminuído um pouco o ritmo da derrubada das florestas, mas o que vemos é o aumento assustador das queimadas, que é a outra face da mesma moeda do desmatamento. Esses números são reflexos da política antiambiental do governo e de suas ações comprovadamente ineficazes em conter a destruição”, diz, ainda, a nota do Greenpeace.
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