Pesquisa adaptou o sistema de plantio direto, famoso nas lavouras de grãos, para a produção dos alimentos. Saiba como funciona. Agricultores de SC usam técnica com menos agrotóxicos na produção de hortaliças
O plantio direto é uma técnica muito conhecida em grandes culturas do agronegócio, como na produção de soja, milho e algodão. Esse método de cultivo deixa o solo mais fértil, utiliza menos agrotóxicos e evita o desperdício de água (leia mais abaixo).
A diferença é que produtores de hortaliças da Serra Catarinense apostaram no método, em um trabalho desenvolvido há anos pela assistência técnica rural do estado.
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Antigamente, a qualquer sinal de capim ou mato na lavoura, já se aplicava agrotóxico para eliminar a planta invasora da produção. Hoje, as plantações de hortaliças convivem bem com as ervas daninhas.
A família Hofmann, composta pelos irmãos Almir e Alexandre, que se casaram com Graziela e Ana Regina, curiosamente irmãs também. Juntos, tocam uma propriedade de 65 hectares em Angelina, que alia plantio direto e hortaliças há 8 anos.
Marcelo Zanella, agrônomo da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), conta que foi difícil convencer esses e os produtores da região a tentarem o plantio direito.
“Continua sendo difícil, o sistema de plantio direto de hortaliças você tem que desenvolver conhecimentos, novas formas de pensar e, principalmente, observar a natureza”, diz.
Menos agrotóxicos
Estudos da Epagri mostram que, em algumas hortaliças, a redução no uso de agrotóxicos chega a 90%. O motivo é que as pragas atacam mais as plantas de cobertura do que o cultivo principal.
A rotação da lavoura também ajuda a evitar que os problemas de uma cultura se tornem permanentes no talhão. Outra vantagem do plantio direto nas hortaliças é a preservação do meio ambiente, especialmente no menor consumo de água.
“É o processo mais avançado que a gente tem hoje pensando em mínimo de impacto ambiental e pensando em qualidade de alimentos”, diz Marcelo Zanella, agrônomo da Epagri.
Como é feito
A primeira fase é a análise do solo, que vai checar quais são os insumos e nutrientes necessários para que terra seja produtiva.
Com o solo corrigido, é hora de fazer o plantio da cobertura, ou seja, são cultivadas plantas que vão proteger o terreno para formar a palhada necessária do plantio direto. Algumas delas são indicadas como: aveia, azevém, no inverno; e milheto, capim Sudão e crotalária, no verão.
“O que a gente mais usa é o milheto, o capim Sudão, que é um tipo de sorgo… são gramíneas e leguminosas que a gente usa muito”, afirma Zanella.
No caso do milheto, quando ele está com os cachos formados é sinal de que é hora de derrubar a planta com um rolo compressor para formar a palhada.
Diferente do plantio direto de grãos, onde a palhada é aproveitada da cultura anterior e seca com produtos químicos, neste método, quanto mais verde a planta de cobertura, melhor.
Depois, hora de colocar as mudas na terra.
Resultados
O agrônomo da Epagri explica que a palhada vai proteger a muda do vento, do sol e da chuva forte. Vai também fornecer nutrientes, manter o solo úmido e evitar algumas pragas. E o melhor: com o passar dos anos, a terra fica cada vez mais fértil.
A família Hofmann diz que, no plantio tradicional, apenas metade das mudas de couve flor sobrevivia. Depois do uso da técnica, 90% delas conseguem chegar ao ponto de colheita.
Atualmente, 10% dos cerca de 2 mil produtores de hortaliças em Santa Catarina optaram pelo plantio direto, e o projeto de cultivo desenvolvido no estado já avança para outras regiões do país.
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