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Economia

A regra do ganho marginal de 1% que ajuda a explicar o sucesso de pessoas excepcionais

O pesquisador Kumar Mehta investigou como são as pessoas excepcionais e o que podemos aprender com elas. Nesta entrevista, ele revela suas descobertas e explica por que a “microexcelência” é tão importante para capacitar seus talentos. O americano Michael Phelps tornou-se uma pessoa excepcional prestando atenção até nos menores detalhes para atingir seus objetivos
Getty Images/via BBC
Kumar Mehta passou anos estudando o que torna as pessoas excepcionais.
Ao longo desse caminho, ele vem fazendo descobertas surpreendentes sobre o que têm em comum as mulheres e os homens que brilham por sua excelência, e como cada um de nós pode alcançar o melhor potencial de nossos talentos.
“Descobri que a maioria de nós se propõe grandes objetivos, mas tenta enfrentá-los todos ao mesmo tempo para obter resultados imediatos. Isso faz com que acabemos fracassando”, diz o pesquisador em entrevista à BBC News Mundo, o serviço de notícias em espanhol da BBC.
É por isso que ele desenvolveu o conceito de “microexcelência”, no qual pequenas mudanças levam a grandes resultados.
Esse conceito está relacionado a outra ideia que vem se tornando bastante popular: a regra do ganho marginal de 1%.
Essa estratégia, que tem sido aplicada com nomes diferentes, afirma que se você melhorar apenas 1% de cada vez, terá uma chance melhor de atingir a meta que estabeleceu do que se tentar alcançar aumentos maiores.
Kumar Mehta publicou dois livros que giram em torno da excelência: “The Innovation Biome” (“O bioma da inovação”, em tradução livre) e “The Exceptionals: How the Best Become the Best and How you Can Too” (“Os Excepcionais: Como os melhores se tornam os melhores e como você também pode”, em tradução livre). Ambos os livros não foram lançados no Brasil.
Pesquisador do Centro para o Futuro Digital da Universidade do Sul da Califórnia, palestrante, consultor e autor, Mehta conversou com a BBC News Mundo sobre as lições que aprendeu em seus estudos.
BBC News Mundo: O que é uma pessoa excepcional, qual é o conceito que o sr. usa em sua pesquisa?
Kumar Mehta: Tornar-se uma pessoa excepcional significa se destacar dos demais. Em alguns casos, pode ser uma pessoa conhecida internacionalmente, como Michael Jordan (jogador de basquete americano), mas também pode se referir a pessoas que não têm esse nível de fama.
Por exemplo, alguém que ganhou um Prêmio Nobel de Física ou Economia, que mudou o mundo de forma significativa, ou simplesmente alguém que se tornou o melhor em sua área, seja o que for – arquitetura, enfermagem, contabilidade ou o que seja. Uma pessoa excepcional é aquela que conseguiu maximizar seu potencial físico, mental e social.
BBC News Mundo: Alguém pode se tornar excepcional, mesmo que não pareça ter um grande talento?
Mehta: Sim. Isso é interessante porque nem todos temos os mesmos talentos. Temos oito tipos de inteligência. Você pode ser talentoso como escritor ou orador, mas se desenvolver uma carreira profissional que não esteja alinhada com esses tipos de habilidades, você não será excepcional.
Você tem que combinar seu talento natural com o que você faz. É muito importante que as pessoas que desejam se tornar as melhores em algo entendam quais são seus talentos, quais são seus pontos fortes.
BBC News Mundo: O sr. poderia me dar um exemplo de pessoa excepcional que admira pessoalmente?
Mehta: Provavelmente, a pessoa excepcional que mais admiro é Bill Gates. Tive o prazer e a honra de trabalhar na Microsoft e interagir com ele, vendo como sua mente funciona.
“A pessoa excepcional que mais admiro é Bill Gates. Tive o prazer e a honra de trabalhar na Microsoft e interagir com ele, ver como sua mente funciona”, diz Mehta
Getty Images/via BBC
Lendo sobre as coisas que está fazendo para mudar o mundo e torná-lo um lugar melhor, parece-me que ele mostra as características de uma pessoa excepcional.
BBC News Mundo: Como o sr. se interessou por fazer pesquisa neste campo?
Mehta: No começo, eu estava interessado em entender como podemos tornar nossas vidas melhores. Como resultado, pensei que a única coisa que torna nossas vidas melhores é a inovação.
Inovações que podem melhorar nossas vidas ao longo da história, como novos medicamentos, novas tecnologias. Então, comecei a estudar inovação no sentido de o que torna possíveis as grandes inovações.
Estudei centenas e centenas de inovações, desde a roda até cirurgias robóticas, smartphones e todas as coisas legais que usamos hoje.
Kumar Mehta publicou em dezembro, em inglês, um livro sobre pessoas consideradas excepcionais em suas áreas de atuação
Getty Images/via BBC
Isso me levou a publicar o livro “The Innovation Biome”, tentando entender como acontecem as inovações.
Então, comecei a pensar o que torna as pessoas por trás dessas grandes inovações tão especiais. E foi aí que comecei a estudar o que torna as pessoas excepcionais.
Entrevistei vencedores de medalhas olímpicas, músicos, arquitetos e várias pessoas de diferentes origens para encontrar um terreno comum.
Cada um tem sua própria história, e cada história é perfeita para cada indivíduo, mas se você olhar para os elementos que eles compartilham, certos padrões emergem.
BBC News Mundo: E quais são esses elementos comuns?
Mehta: Escrevi sobre o que chamo de elementos de excelência. Quando uma pessoa é excepcional, 50% é determinado desde o nascimento, 25% é esforço e os 25% restantes são um conjunto de elementos facilitadores.
Esses facilitadores são: acreditar em si mesmo, no ambiente de onde você vem, no sistema de apoio que você tem (porque é impossível fazer tudo sozinho), microexcelência e comprometimento.
Esses são todos os recursos que encontrei como resultado de minha pesquisa.
BBC News Mundo: Qual é a sua história acadêmica, ou seja, a partir de qual área do conhecimento o sr. abordou a questão da excepcionalidade?
Mehta: Tenho doutorado em Economia Social Farmacêutica, algo que estudei há muito tempo e não continuei desenvolvendo. Mas na faculdade você aprende como aprender, aprende a fazer pesquisas e então segue seu próprio caminho.
Comecei no setor farmacêutico, mas trabalhei muito tempo na Microsoft e trabalhei em análise de dados. Depois fiz pesquisas sobre questões de inovação e agora me dedico ao tema da excelência pessoal, trabalhando com atletas.
A parte mais emocionante da minha vida foi aprender algo novo e construir um conjunto de experiências e conhecimentos.
BBC News Mundo: Já que agora o sr. se dedica ao tema da excelência, qual é a coisa mais incrível que aprendeu nessa área?
Mehta: A ideia de microexcelência, o fato de que pessoas excepcionais se concentram em coisas muito pequenas para alcançar grandes objetivos.
O que me impressiona é o foco sistemático na precisão cirúrgica. Os excepcionais prestam atenção a cada detalhe, não prestam atenção às “grandes coisas”.
Uma pessoa excepcional é aquela que conseguiu maximizar seu potencial físico, mental e social. Na foto, Emmanuelle Charpentier, ganhadora do Prêmio Nobel de Química em 2020
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Outra coisa que me surpreendeu nas pessoas excepcionais é que não se trata apenas delas.
São excepcionais porque têm uma rede, um sistema de apoio completo que lhes permite tornar-se excepcionais, como o Usain Bolt ou o Michael Phelps.
BBC News Mundo: Ao colocar o foco em cada detalhe com precisão cirúrgica, os conceitos de microexcelência e a regra do ganho marginal de 1% são semelhantes?
Mehta: Já escrevi sobre micro excelência. Outros pesquisadores falam da regra do ganho marginal de 1%, mas o conceito é semelhante, é a mesma ideia de focar nas coisas que os outros consideram irrelevantes.
BBC News Mundo: Quem inventou esse conceito de ganho marginal de 1%?
Mehta: A expressão sobre os ganhos marginais de 1% vem do ex-técnico da equipe britânica de ciclismo Dave Brailsford. Não sei se ele tirou de outra pessoa, mas Brailsford é quem o popularizou aplicando-o ao ciclismo.
É interessante porque no final chegamos a conclusões semelhantes e meu conceito de micro excelência foi validado por outras pessoas.
BBC News Mundo: E se alguém quiser entrar no caminho da microexcelência ou aplicar a regra do ganho marginal de 1%, qual seria o primeiro passo?
Mehta: Seja qual for a sua atividade, você deve dividi-la em pequenos componentes. Se você dividi-la em quatro ou cinco componentes, provavelmente não será o suficiente. Você tem que dividi-la em 20 ou 30 componentes.
Cada um desses componentes influencia a atividade que você realiza. E então você pode fazer um exercício simples: avalie seu desempenho em cada um deles, em uma escala de um a cinco.
A outra coisa é se comparar com seus colegas, não com os famosos. Se você se comparar a eles em cada um dos componentes que selecionou, esse exercício pode abrir seus olhos.
Você identificará onde se sai bem e onde está em desvantagem. E nas áreas em que não obteve uma boa pontuação é que é necessário aplicar a microexcelência.
E quando você tiver melhorado em cada uma dessas pequenas coisas, verá que passou para outro nível, um pouco mais alto.
Então você faz o mesmo exercício novamente, mas agora se comparando ao novo grupo de pares mais avançados.
Portanto, você constrói esses microelementos um por um como se fosse uma escada, passo a passo, para maximizar seu potencial.
BBC News Mundo: Embora, se alguém não for excepcional, nenhuma estratégia vai me tornar excepcional…
Mehta: Todos nós podemos maximizar nossos talentos e ser o melhor que podemos ser. Em alguns casos, alguém se tornará o melhor do mundo fazendo algo e, em outros casos, alguém será o melhor que pode ser.
E essa é a única coisa que você e eu podemos fazer, nos tornarmos a melhor versão de nós mesmos. Isso vai te dar a satisfação de ter dado tudo e te deixar mais feliz.
Isso, para mim, também é excepcional.
Esther Duflo, Prêmio Nobel de Economia, é uma pessoa excepcional que desenvolveu importantes pesquisas sobre pobreza e desenvolvimento
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Quando você identifica seus talentos e sabe onde está, define uma meta de longo prazo. Você pega um pedaço de papel e escreve o que chamo de “declaração pessoal”.
Lá você escreve o que deseja alcançar e o que está disposto a deixar para trás para alcançá-lo. Esse é o começo.

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