Indigenista foi entrevistado por Ana Suelly Arruda Câmara em 2016 para a Revista Brasileira de Linguística Antropológica sobre trabalhos de proteção aos indígenas isolados de Rondônia. Sertanista morreu nesta semana após ataque de um grupo que ele monitorava à distância. Rieli Franciscato.
Reprodução/Rede Amazônica
Generosidade, entrega e parceria com a floresta. É dessa forma que a doutora em linguística e professora da Universidade de Brasília (UnB) Ana Suelly Arruda Câmara se lembra de Rieli Franciscato, um dos mais renomados indigenistas do Brasil.
O sertanista de 56 anos morreu nesta semana após levar uma flechada no peito de um grupo de indígenas isolados em Seringueiras, interior de Rondônia.
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PERFIL: quem era Rieli Franciscato
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Ele era coordenador da Frente de Proteção Etnoambiental Uru-Eu-Wau-Wau, da Fundação Nacional do Índio (Funai). Instantes antes de morrer, Rieli estava acompanhado de dois policiais na região com objetivo de monitorar a circulação deles à distância para entender a razão do deslocamento.
“[Rieli] tinha uma parceria com os isolados, com os animais, com tudo que faz parte desta natureza, desse meio ambiente tão importante para a humanidade. O Rieli faz parte dela. Infelizmente, ocorreu esse incidente, que foi confundido com o inimigo, quando na realidade ele era um dos maiores amigos desses povos. E ironicamente veio uma flecha em seu coração, logo o seu coração, que era o coração do Rieli, todos nós sabemos que era dos índios, que era da natureza”, disse a pesquisadora.
O trabalho de 30 anos de Rieli era justamente de tentar conscientizar a população sobre a importância da preservação da reserva para que os povos continuassem no interior da mata.
Para registrar parte da luta à favor dos povos isolados da Amazônia, Ana Suelly Arruda entrevistou Franciscato, dando-o a oportunidade de falar sobre sua história como referência à formação de indigenistas ao trabalho de campo. A entrevista foi publicada na Revista Brasileira De Linguística Antropológica.
Morre, com uma flechada, um dos mais importantes indigenistas do Brasil
Rieli Franciscato contou para Ana Suelly sobre como se tornou um sertanista e da vivência que construiu com os povos indígenas de Rondônia ao longo de três décadas.
“Nós pensamos em fazer esses registros, do Rieli contar a sua história de indigenista, como tudo começou e que falasse da importância desse trabalho de proteção aos indígenas isolados de Rondônia. Essa entrevista faz parte da história como registro desse novo indigenismo que se desenvolve a partir da década de 1980 no Brasil”, contou Ana Suelly.
A entrevista contou com a colaboração de outro sertanista importante no país: Antenor Alexandre de Albuquerque Vaz. Ele foi uma das pessoas que ajudou Franciscato enquanto indigenista, como um professor.
“Rieli significava para todos nós uma referência de integridade da defesa dos povos indígenas isolados no Brasil”, declarou.
Rieli Franciscato foi morto após ser atingido por flechada em Seringueiras.
Arquivo pessoal
Ao G1, o amigo de Rieli, Roberto de Barros Ossak, explicou que a circulação dos indígenas está diretamente ligada às invasões de território, principalmente na região de Buritis, Parecis e Campo Novo: “Estão vindo para a borda em busca de alimentos. Eles são coletores, não cultivam, então precisam migrar de uma região para a outra coletando alimentos, como: castanha, mel, açaí”.
“Ele [Rieli] foi confundido com aqueles que agrediam os povos. Os indígenas não sabiam. Ele era seu defensor que passou mais de três décadas lutando pela proteção”, complementou Ana Suelly Arruda.
Indígenas foram avistados em junho
Em junho deste ano, um grupo de indígenas isolados foi visto por uma dona de casa no quintal de um sítio em Seringueiras. Eles trocaram uma carne de caça por uma galinha e levaram um machado. A moradora Gabriella Euvira Moraes disse que correu para o banheiro e filmou a visita.
“Eu nem cheguei a sair ou me colocar para fora. Eu vi pela fresta na porta e vi um homem parado. Foi quando prestei atenção, e ele estava sem roupa. Nisso que eu me escondi, escutei três homens chegando perto da casa e conversando. Não dava para entender nada. Eles andaram ao redor da casa”, contou Gabriella na época.
Segundo a Kanindé, esse é o mesmo grupo que Rieli cruzou antes de ser atingido.
Protetor dos índios
Rieli Franciscato, de 56 anos, morreu após ser atingido no tórax por uma flecha de bambu, de 1,5 metro, disparada pelos indígenas. Logo que foi atingido, houve uma tentativa de socorro, mas o sertanista chegou morto ao hospital.
Ele era uma das grandes referências nos trabalhos de proteção aos indígenas isolados da Amazônia. O coordenador defendia o não contato com o grupo e atuava para evitar um conflito com a população local. Também fez parte da equipe que demarcou a primeira terra exclusiva para indígenas isolados.
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