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A 'cúpula de calor' que fez temperaturas baterem recordes históricos nos EUA e no Canadá

Especialistas afirmam que mudanças climáticas ligadas ao aquecimento global aumentarão frequência de eventos climáticos extremos, como ondas de calor. No entanto, é complexo associar um evento isolado à alta da temperatura do planeta. Homem se refresca em totem de vapor de água em Vancouver, no Canadá, neste domingo (27), dia de recorde de calor no país
Jennifer Gauthier/Reuters
O Canadá registrou a temperatura mais alta de sua história num momento em que o oeste do país e o noroeste dos Estados Unidos enfrentam uma onda de calor sem precedentes.
Em Lytton, na Colúmbia Britânica, os termômetros alcançaram no domingo (27) a marca de 46,6ºC, superando o recorde de 84 anos atrás, segundo as autoridades.
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Um fenômeno apelidado como domo ou cúpula de calor (alta pressão estática que atua como uma tampa de panela) tem levado a registros de temperaturas elevadas em outras regiões da América do Norte.
EUA e Canadá tem alertado os moradores sobre os perigos em torno desses níveis de calor que podem persistir durante a semana.
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Especialistas afirmam que as mudanças climáticas ligadas ao aquecimento global aumentarão a frequência de eventos climáticos extremos, como as ondas de calor. No entanto, é complexo associar um evento isolado ao aumento da temperatura do planeta.
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Nick Miller, meteorologista da BBC, explica que essa “cúpula de calor” não é um termo meteorológico com definição clara, mas ele costuma ser associado à descrição de grandes áreas de alta pressão que resultam em céus sem nuvens e dias quentes e ensolarados.
Quanto mais tempo perdura esse cenário de alta pressão, mais severa é a onda de calor, com temperaturas podendo aumentar a cada dia.
Esta zona de alta pressão é enorme, estendendo-se da Califórnia aos territórios árticos do Canadá passando pelo interior de Idaho.
As vendas de ares-condicionados e ventiladores explodiram e abriram-se abrigos de resfriamento. Alguns bares e restaurantes, e até uma piscina, foram considerados quentes demais para funcionar.
Lytton, que fica a cerca de 250 km a nordeste de Vancouver (oeste do Canadá), quebrou o recorde canadense anterior, de julho de 1937, quando a temperatura em duas cidades da província de Saskatchewan, Yellow Grass e Midale, atingiu 45°C.
David Phillips, climatologista-sênior da Environment Canada (departamento do Ministério do Meio Ambiente do país), disse à emissora CTV: “Gosto de quebrar um recorde, mas isso é como quebrá-lo e pulverizá-lo. Faz mais calor em partes do oeste do Canadá do que em Dubai (Emirados Árabes Unidos)”.
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O especialista disse que existe a possibilidade de regiões do país ultrapassarem os 47°C.
Os provedores de energia da Colúmbia Britânica disseram que houve um aumento na demanda por eletricidade para manter aparelhos de ar condicionado.
A Environment Canada disse que o alerta se estende para outras regiões do país e previu uma “longa, perigosa e histórica onda de calor que persistirá esta semana”, com temperaturas de 10°C a 15°C acima do normal.
Calor ‘histórico’ no noroeste dos EUA
O noroeste dos EUA também quebrou recordes. O Serviço Nacional de Meteorologia do país (NWS, na sigla em inglês) classificou as ondas de calor de “históricas” e disse que elas persistiriam durante a semana, “com numerosos recordes diários, mensais e até históricos que provavelmente serão estabelecidos”.
Portland e Seattle, cidades com climas famosos por suas chuvas, registraram as temperaturas mais altas de sua história. A primeira quebrou seu recorde anterior quando as temperaturas atingiram 44°C, e a segunda fez o mesmo quando atingiu 40°C, segundo dados oficiais.
O Estado do Oregon, onde fica Portland, flexibilizou as restrições adotadas contra a pandemia de covid-19 para permitir a abertura de piscinas e áreas com ar-condicionado, como shopping centers. Seattle, no entanto, teve que fechar uma piscina devido às “temperaturas perigosas e inseguras no deque da piscina”.
Produtores de frutas estão correndo para colher as safras, temendo que o calor possa estragar as cerejas e outros produtos. Mas a colheita precisa ser interrompida no almoço porque a temperatura se torna insuportável.
BJ Thurlby, presidente da Northwest Cherry Growers, comissão que reúne os produtores de cerejas, disse ao jornal Seattle Times: “Estamos navegando em águas absolutamente desconhecidas.”
No domingo, as eliminatórias olímpicas dos Estados Unidos tiveram que ser interrompidas em Eugene, no Oregon, por causa do calor. O público foi convidado a deixar o estádio por razões de segurança. Alguns centros de vacinação também fecharam pelo mesmo motivo.
Todos os cidadãos foram aconselhados a se manterem hidratados, evitar atividades extenuantes e monitorar vizinhos mais vulneráveis.
“Emergência climática”, análise de Roger Harrabin, especialista em temas ambientais:
“Não podemos dizer com certeza que essa onda de calor brutal foi causada por emissões de gases que agravam o efeito estufa, mas cientistas argumentam que cada onda de calor que ocorre hoje é mais provável e mais intensa devido às mudanças climáticas induzidas pela humanidade.
Na verdade, cientistas melhoraram muito a capacidade de associar eventos extremos às mudanças climáticas, como a onda de calor que atingiu a Europa em 2019 e que, segundo pesquisadores, foi 100 vezes mais provável de ocorrer por causa das emissões de gás carbônico.
O que é mais preocupante é que essas temperaturas foram atingidas com temperaturas globais apenas 1,1°C acima dos tempos pré-industriais.
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas considera que provavelmente ultrapassaremos 1,5°C acima desse nível em um curto espaço de tempo. E nas taxas atuais superaremos um aumento de 2°C, e possivelmente ainda mais.
No entanto, a China e a Índia continuam a construir novas usinas termelétricas a carvão. E o G7, o grupo das economias mais ricas do mundo, (Canadá, França, Alemanha, Japão, Reino Unido e EUA) não estabeleceu um prazo para acabar com esse tipo de geração de energia.
O Reino Unido e outros países ainda estão perfurando poços para queimar mais petróleo e gás, sob o argumento de que eles serão necessários até o ano de 2050.
Tudo isso certamente aponta para uma emergência climática.”

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