Trabalhadores informais sem alfabetização enviam informações pelo celular para que Marcos Batata, de 38 anos, faça o cadastro no programa de apoio criado por conta da crise do coronavírus. Jovem do Morro do Macaco, Grande SP, ajuda moradores com cadastro do auxílio emergencial
“Pensei: ‘minha galera vai ser a que tem mais dificuldade para acessar [o auxílio de R$ 600 para trabalhadores informais]’. Essa galera normalmente fica para trás”.
Desde quando viu as primeiras notícias sobre o pagamento de um auxílio emergencial para os trabalhadores informais por conta do coronavírus, o fotógrafo Marcos Silva Santos, de 38 anos, sabia quem mais ia precisar. Morador do Morro do Macaco, em Cotia, na Grande São Paulo, Marcos Batata, como é conhecido, conhece a realidade de muitos de seus vizinhos, alguns trabalhadores informais, outros desempregados, e também mães solteiras que sustentam a casa sozinhas. Muitos, sem alfabetização.
“O ajudante de pedreiro, por exemplo, trabalha a semana inteira e pega o dinheiro no final de semana. É assim que ele leva a vida dele. Vai de uma obra para outra, não é registrado, é eternamente informal. Como esse dinheiro vai chegar a essa pessoa?”, questiona Marcos.
Ele acompanhou cada etapa da tramitação do auxílio, informando-se sobre quais seriam as pessoas que poderiam receber. “Eu fui tentar entender a lei da forma mais prática para poder passar para os possíveis beneficiários desse programa”.
Quem tem direito e como funciona o benefício?
Tire suas dúvidas sobre o auxílio emergencial de R$ 600
Veja passo a passo para pedir o auxílio
Fotógrafo do Morro do Macaco, na Grande SP, ajuda moradores com cadastro de auxílio emergencial
Marcos Batata#cinekordel/Arquivo pessoal
Assim, desde que o cadastro foi aberto, na terça-feira (7), Marcos auxilia pessoas sem acesso à internet ou sem alfabetização a se inscrever para tentar receber o benefício. Os interessados passam os dados cadastrais ou a fotografia de seus documentos pelo Whatsapp, e o fotógrafo os cadastra pelo seu computador pessoal ou pelo aplicativo no celular.
“Óbvio que por um motivo de isolamento social eu também estou aqui sem sair de casa, então esse processo foi todo feito remotamente”. Marcos já cadastrou cerca de 10 pessoas e passa o dia tirando dúvidas e buscando novas informações para ajudar as pessoas que o procuram.
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Para além do Morro do Macaco, o fotógrafo se tornou um tira-dúvidas de moradores de outras comunidades. “Estou devendo no banco”, “não votei na última eleição”, “não tenho conta no banco”, foram algumas das situações relatadas de pessoas que o procuraram do Itaim Paulista, na Zona Leste, e também do Capão Redondo, da Zona Sul.
“Eu também sempre digo, olha, se você conhece mais alguém que esteja nessa situação, pode dizer para ele que pode contar comigo”, disse Batata.
Marcos Batata registra o cotidiano de seus vizinhos do Morro do Macaco em fotografias
Marcos Batata#cinekordel/Arquivo pessoal
O cuidado e o carinho de Marcos com o Morro do Macaco, onde nasceu e cresceu, não é de hoje. Antes da pandemia, o fotógrafo auxiliava quem precisasse a fazer currículos, tirar atestado de antecedentes criminais, tirar xerox, e outras tarefas que envolvessem internet ou tecnologia. “Faço tudo que está ao meu alcance. Num ambiente de vulnerabilidade, tem muitas coisas básicas que fazem falta e são fáceis de resolver”.
O fotógrafo, que herdou a profissão do pai, tem o costume de fazer retratos de moradores da comunidade, assim como do local. “A minha tentativa é colocar o Morro do Macaco no mapa. Tem muita gente que nasce, vive uma vida incrível, e depois morre, e ninguém sabe da vida dela”.
Marcos Batata registra o cotidiano de seus vizinhos do Morro do Macaco em fotografias
Marcos Batata#cinekorde/Arquivo pessoal
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