Caverna só foi divulgada no começo deste ano, mas morador diz que já sabia da existência dela há mais ou menos 15 anos. Expedição em abril vai colher dados da caverna para validar descoberta. Caverna tem entre 8 metros a 10 metros de comprimento, diz gestor da unidade de conservação
Aécio dos Santos
No último inventário anual do patrimônio espeleológico brasileiro, o Acre era o único estado do Brasil que não havia registrado dados sobre cavernas. Status que mudou, este ano, após a divulgação de que um morador havia encontrado uma caverna dentro do Parque Nacional da Serra do Divisor.
Porém, entre a descoberta e a divulgação, passaram-se 15 anos, segundo Edson Cavalcante, de 61 anos – morador mais antigo da área de conservação e quem achou a cavidade. Ele conta que encontrou o espaço enquanto caminhava pelas trilhas do parque, mas não sabia que isso poderia ser de interesse público.
“Não sabia que isso interessava a alguém. Acho que está com uns 15 anos que achei, até que no ano passado vieram uns alemães aqui e comentei sobre essa caverna e de uns lagos que achei. Eles disseram que informariam para um amigo. Só assim, eu soube que eu devia ter divulgado. Agora, vou sempre dizer tudo que eu encontrar aqui dentro do parque”, explica.
Além de uma água límpida, Edson conta que a caverna está bem conservada e define como se tivesse sido acabada com “verniz”. “É uma coisa linda da natureza. Só você vendo”, completa.
Edson Cavalcante diz que achou caverna há mais ou menos 15 anos enquanto caçava
Edson Cavalcante/Arquivo pessoal
Divulgação
O Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas (Cecav), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), informou ao G1 que recebeu a informação de que havia uma caverna na região em fevereiro deste ano por intermédio do próprio gestor da unidade e que a partir de agora devem se organizar para colher os dados.
A divulgação da descoberta fez com que Edson, que também recebe turistas em sua pensão, ficasse animado com a possibilidade de mais turistas para conhecer o parque e, assim, movimentar a economia das famílias que moram na região.
“Agora, precisa o poder público melhorar os incentivos para o turismo, porque tem gente que não gosta de andar de barco (única forma de chegar até o parque), dizem que a viagem é muito longa. Então, deveria mudar isso aí”, explica.
Ele acredita ainda que ao tornar pública a descoberta da caverna, mais turistas devem sentir curiosidade de conhecer o parque, que está no centro de uma polêmica, pois há um projeto de lei que quer reclassificá-lo e tirar a proteção integral da área.
O caçador diz ainda que a área tem mais coisas naturais ainda não catalogadas. “Tem um lago que fica perto de um paredão de rocha, que já estive na beira dele. Preciso lembrar onde é e é preciso fazer uma trilha”, diz.
Após caçador achar primeira caverna no Acre, equipe do ICMBio deve ir à Serra do Divisor
Aécio dos Santos/Arquivo pessoal
Ecoturismo
Aécio dos Santos, ex-gestor da unidade, chegou a ir no local onde a caverna foi encontrada no final de fevereiro deste ano. Ele diz que a caverna tem entre 8 a 10 metros de comprimento. Destacou ainda que pode ser mais um atrativo turístico para o local.
Por ano, ele diz que o parque recebe uma média de mil visitantes de todos os lugares do Brasil e até de outros países.
“Consegui entrar até um determinado ponto, porque a caverna vai ficando estreita e ainda não temos dados sobre ela. Agora, um estudo vai ser feito para que a gente consiga ter essas informações”, explica Aécio.
Primeira caverna do Acre
Depois da divulgação, o ICMBio deve visitar a área e colher os dados da caverna para que eles sejam validados. A base do Cecav da base avançada de Minas Gerais é que deve coordenar os estudos nos próximos meses.
O analista ambiental do centro, Mauro Gomes, explicou ao G1 que existem procedimentos que precisam ser respeitados para que o cadastro de cavernas seja atualizado.
“Para este tipo de caso, a orientação, não apenas para as cavernas encontradas em unidades de conservação, mas também para aquelas fora de uc’s [unidades de conservação], é que sejam coletadas informações básicas da sua localização para registro no Cadastro Nacional de Informações Espeleológicas [Canie]”, explica.
O projeto Inventário Anual do Patrimônio Espeleológico Brasileiro, desenvolvido pelo Cecav, tem como intuito justamente gerar e disseminar informações sobre o patrimônio espeleológico.
“Por se tratar do primeiro registro de uma cavidade natural subterrânea no estado do Acre, achou-se oportuno o deslocamento de uma equipe até o Parque Nacional para levantar informações mais detalhadas da caverna para complementar o cadastro. Será aproveitada também a oportunidade para prestar à equipe da unidade de conservação e comunidade do entorno informações mínimas sobre espeleologia e patrimônio espeleológico”, pontua.
Essa visita para que todas as ações sejam desenvolvidas está marcada para ocorrer já entre 1º e 7 de abril.
Após caçador achar primeira caverna no Acre, equipe do ICMBio deve ir à Serra do Divisor
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