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Meio Ambiente

Caribe em alerta por causa de ventos e Trump libera mega oleoduto: relatos das mudanças climáticas

Imagem de arquivo mostra grande onda atingindo rocha.
Gabriel Barreira/G1
O Instituto de Hidrologia, Meteorologia e Estudos Ambientais (Ideam) da Colômbia emitiu ontem um alerta vermelho por causa dos ventos fortes e do aumento das ondas em grande parte do mar do Caribe colombiano, incluindo áreas insulares e continentais, com atenção especial no centro da costa e nas áreas marítimas. A expectativa é de ondas de até cinco metros, o que faz com que as embarcações de baixo calado tenham que pedir permissão antes de partir. As autoridades reconhecem o risco e pedem à população de áreas costeiras que tenha cuidado.
Alguns quiosques que ficam à beira de algumas praias de Puerto Colômbia, no Pacífico, já foram destruídos. Não há danos físicos, as perdas estão sendo registradas no setor econômico. E, como sempre, atingindo os mais pobres e vulneráveis. Ao menos o alerta está funcionando bem.
O serviço de mudanças climáticas Copernicus, gerenciado pela União Europeia, forneceu a primeira imagem global dos níveis de temperatura e concentração de carbono em 2019. As descobertas mostram que o ano ficou apenas 0,04 grau abaixo do que todo o ano de 2016, o ano mais quente já registrado na história da humanidade. Ou seja: não sofremos mais, mas estivemos em pé de igualdade com um período bastante seco e pleno de eventos extremos.
“Os últimos cinco anos foram os mais quentes desde que os registros começaram, no século XIX, com temperaturas médias entre 1,1 ° C e 1,2 ° C superiores aos tempos pré-industriais. O Acordo de Paris de 2015 estabelece uma meta de limitar o aquecimento global a “bem abaixo” de 2 ° C acima dos tempos pré-industriais, ao mesmo tempo em que se esforça por um limite de 1,5 ° C”, diz o texto do relatório publicado no site Climate Home News .
Para a agência norte-americana de oceanos (NOAA, na sigla em inglês), que também faz previsões e alertas meteorológicos, 2019 foi um ano de clima recorde nos Estados Unidos e o segundo mais chuvoso desde 1973. A temperatura em todo o país ficou acima da média, e a consequência disto veio nos incêndios, sobretudo no Alasca e na Califórnia, com prejuízos calculados em um bilhão de dólares.
Hoje, seguimos estarrecidos acompanhando as notícias sobre o fogo que já devastou mais de três milhões de hectares em três estados na Austrália, matando milhões de animais, destruindo casas, causando a morte de, no mínimo e até agora, 15 pessoas.
O quadro não tem sido muito diferente daquele já anunciado, em outubro de 2018, pelos cientistas do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC na sigla em inglês) principal órgão para avaliar os impactos das atividades humanas no clima. Na ocasião, uma das principais mensagens que saiu do relatório é que as consequências de 1° C de aquecimento global, já registrado, têm sido observadas “através de condições climáticas mais extremas, aumento do nível do mar e diminuição do gelo do Ártico”. O que quer dizer: mais secas, tempestades, furacões em todo o mundo.
Diante deste quadro, o que faz Donald Trump, o presidente dos Estados Unidos, segundo país mais poluidor do mundo? Divulgou ontem um “plano para acelerar a permissão de grandes projetos de infraestrutura, como oleodutos, expansões de estradas e pontes.”. O plano, divulgado pelo Conselho de Qualidade Ambiental (CEQ) da Casa Branca, ajudaria a administração a avançar em grandes projetos de energia e infraestrutura, como o oleoduto Keystone XL, além de estradas, pontes e prédios federais.
“Pela primeira vez em mais de quarenta anos, hoje estamos emitindo uma nova regra sob a Lei Nacional de Política Ambiental (NEPA) para revisar completamente o sistema burocrático disfuncional que criou essas enormes obstruções”, disse Trump na Casa Branca.
A nova regra, que enche de orgulho o presidente norte-americano, diz claramente que as agências federais não precisam levar em conta os impactos cumulativos de um projeto, o que inclui as mudanças climáticas. E, como era de se esperar, já tem uma grita, por parte de ambientalistas, contra a atitude dele.
“O presidente Trump está tentando, mais uma vez, vender a saúde e o bem-estar de nossos filhos e famílias aos poluidores corporativos. Esta proposta para alterar a implementação da Lei Nacional de Política Ambiental é uma das ações mais flagrantes que seu governo tomou para limitar ainda mais a resposta às mudanças climáticas. ”, disse ao “The Guardian” Gene Karpinski, do League of Conservation Voters (LCV), organização ambientalista criada em 1969.
As grandes corporações adeptas do “business as usual” estão comemorando, como sói acontecer, porque consideram um entrave as limitações e o controle sobre seus empreendimentos para que eles não violem a lei universal que garante o direito a todos de se beneficiarem dos bens comuns. E não destruí-los até a exaustão. O plano de Trump, se for levado ao cabo e passar pelo Senado, vai extinguir uma ferramenta poderosa para proteger as comunidades locais dos impactos adversos de um projeto elaborado e revisado às pressas.
Para ilustrar melhor: o Keystone é um oleoduto de 1.930 quilômetros transportaria até 830 mil barris (35 milhões de galões) de petróleo (queimados a partir da areia betuminosa local) diariamente do oeste do Canadá para os terminais na costa do Golfo. A cidade de Hardisty, em Alberta, no Canadá, atualmente com cerca de 700 habitantes, abriga cerca de 700 tanques de petróleo maciços e se tornou o maior centro de armazenamento de petróleo do Canadá. A empresa TC Energy do Canadá, encarregada do projeto, propôs pela primeira vez há mais de uma década, mas não conseguiu superar os inúmeros processos judiciais contra ela. O ex-presidente Barack Obama rejeitou o projeto em 2012 e Trump agora dá permissão para a largada.
Há cerca de cinco anos, o Departamento de Energia dos EUA informou que a produção de areias betuminosas gera até 20% mais emissões de carbono do que o petróleo bruto convencional, devido à intensa energia necessária para extrair o combustível viscoso ou vapor no lugar e transportá-lo por grandes distâncias . É por isso que cem cientistas líderes pediram o fim da expansão da mineração em areias betuminosas. Mas, como tem acontecido, esta não é a abordagem que o progresso (entre aspas) quer ouvir.
Além da questão das emissões, há também o risco de vazamento neste enorme cano que transporta o petróleo. Em novembro do ano passado, por exemplo, a empresa teve que fechar o transporte por causa de um vazamento e ficou dez dias parada. Quais os impactos desse vazamento à saúde humana e aos bens naturais locais? Isto é pouco registrado, ou não é, de jeito nenhum.
Enquanto isso, tempestades, secas, furacões, vão atormentando, causando prejuízos e exigindo, muitas vezes, um gasto enorme para consertar os danos. Esta conta não fecha e o valor da vida vai ficando abaixo dos lucros.
VÍDEOS
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