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Meio Ambiente

Tempestade na Indonésia, fogo na Austrália: vidas humanas em risco por causa do clima

5 de janeiro – Animais são vistos durante queimadas em Cobargo, na Austrália
Tracey Nearmy/Reuters
As piores chuvas de monções em mais de uma década inundaram Jacarta, a capital da Indonésia, na primeira semana de 2020 e os rios submergiram pelo menos 182 bairros, enquanto deslizamentos de terra nos arredores da cidade enterraram pelo menos uma dúzia de pessoas.
Estimam-se, até agora, cerca de 60 pessoas mortas, além de sérios transtornos na vida, na economia do país. Indonésia tem cerca de 265 milhões de habitantes que se aglomeram num território de 1,9 milhão de km2 e emite, por pessoa, 0,18 tonelada de CO2. Este é o gás poluente que tem causado o efeito estufa e, consequentemente, as mudanças climáticas, como temporais.
Um incêndio, considerado dos piores da estação seca em Austrália, até agora provocou a morte de 24 pessoas e a destruição total de quase duas mil casas. Três estados australianos foram atingidos, queimando cerca de cinco milhões de hectares (12,35 milhões de acres) de terra.
A fumaça já chega ao país vizinho, Nova Zelândia, aumentando o caso de asma nas pessoas de lá. Uma quantidade ainda incalculável de animais morreu, outros tantos estão agonizando queimados e outros ainda estão confusos, vagando sem rumo entre os rolos de fumaça.
Austrália tem uma população estimada em 25 milhões de pessoas que vivem num território de cerca de 7,7 milhões de km2. O país emite 0,37 toneladas per capta de CO2 e em dezembro passado, na COP25, reunião convocada pela ONU para debater sobre a necessidade de se mudar paradigmas para conter as mudanças climáticas que causam a seca, responsável por incêndios florestais, decepcionou os ambientalistas, entre outras coisas porque pôs barreiras para atingir objetivos no comércio de créditos de carbono. Scott Morrison, o primeiro-ministro australiano, irritou bastante os colegas de parlamento preocupados com as emissões, quando há dois anos levou um pedaço de carvão a uma reunião, dizendo: “Não tenham medo, é apenas carvão”.
A comparação entre os dois países e entre as tragédias ambientais que ambos estão vivendo, é necessária se queremos acabar de vez com o negacionismo em torno do efeito homem/emissões de carbono nas mudanças climáticas. Não é a primeira vez que a Austrália enfrenta incêndios. No início do ano passado, o fogo chegou a 500 metros da Floresta da Tasmânia, 26ª maior do mundo, e causou grandes estragos.
Não é a primeira vez, também, que a Indonésia enfrenta tempestades que reviram vidas ao avesso, causam destruição e mortes. O elo de ligação entre tais catástrofes é o homem, a maneira como ele vem fazendo com a própria vida condições para que o meio ambiente o expulse do planeta. Este é o novo normal.
Aqui no Brasil também vivemos nossa tragédia provocada por secas na maior floresta tropical do mundo. Seca provocada por desmatamento. Desmatamento provocado, em parte por empresários que insistem no “business as usual” , em parte por madeireiros e grileiros ilegais entusiasmados com a política do presidente Jair Bolsonaro, desenvolvimentista em alto grau.
Tão logo irromperam os focos de incêndio na Austrália, Jair Bolsonaro veio às redes sociais, como é seu costume, cutucar Greta Thunberg, jovem sueca alçada à posição de líder dos ativistas atualmente. Segundo ele, Greta é uma pirralha que se calara diante do fogo australiano enquanto vociferara, em alto e bom som, contra o incêndio na Amazônia.
Não é bem assim. A ativista sueca já está nas redes fazendo o devido discurso crítico, desta vez contra os chefes do poder na Austrália:
“Tudo isto ainda não resultou em nenhuma ação política. Por que ainda não conseguimos fazer a ligação entre a crise climática e o aumento dos eventos climáticos extremos e desastres da natureza como o fogo na Austrália?
Isso tem que mudar.
E tem que mudar agora.
Os meus pensamentos estão com as pessoas da Austrália e os afetados por estes incêndios devastadores”, escreveu ela.
E mais e mais ambientalistas estão se manifestando, como sói acontecer. A questão é perceber que muitos líderes de nações estão, de fato, preocupados em manter o poder não para espalhar bem-estar e segurança aos cidadãos, mas para se perpetuar nele. Se há democracia, é possível mudar isto? É no que acreditam muitos ativistas.
Na noite de quinta-feira (2), por exemplo, manifestantes na Nova Inglaterra pararam com seus corpos os trens que levariam carvão a uma das grandes usinas na localidade. Nova Inglaterra fica na ponta nordeste dos Estados Unidos, este mesmo país cujo presidente está mais preocupado em se lançar numa empreitada de guerra contra o Irã.
O trem que os manifestantes pararam perto de Harvard, Massachusetts, estava transportando mais de dez mil toneladas de carvão da Virgínia Ocidental para a Estação Merrimack Generation em Bow, New Hampshire, de acordo com o Climate Disobedience Center, uma organização ambiental que ajudou a organizar a manifestação.
Pouco ou nenhum impacto teve o ato de paralisação do trem diante do negócio em si, mas é uma forma de chamar atenção, de alertar outros cidadãos comuns para a questão. Isto é bom. Chama-se ativismo ambiental e tem seguidores potentes, celebridades que emprestam sua imagem para a causa, com bons resultados.
Greta Thunberg, a pirralha na concepção de Bolsonaro, conseguiu reunir seis milhões de pessoas, globalmente, que foram para as ruas protestar enquanto os engravatados representantes de nações estavam nos escritórios aclimatados da COP25 debatendo cifras e números de emissões para baixo ou para cima.
A questão é: se os cidadãos comuns serão impactados em primeiro lugar, e se o chefe da nação e outros representantes legais não estiverem adeptos à causa, os protestos de rua precisam acontecer. Mas, mais do que isto: a mudança de paradigmas precisa vir de cada um de nós. Há uma série de pensadores que auxiliam nessa prática.
É impossível, por exemplo, que um cidadão do mundo que mora em locais onde há acesso à internet não saiba que precisa moderar o consumo de carne vermelha, por exemplo. Isto ajuda a baixar as emissões de carbono, já que pode diminuir a quantidade de gado sendo transportado, de gado precisando de soja, aquela soja que desmata e causa incêndio. Tudo interligado.
Mas, acima de tudo, consumir menos carne faz bem à saúde humana. Comer comida processada causa problemas, como já está mais do que provado em estudos científicos. Logo, as mudanças de paradigma que se propõe são, no fim e ao cabo, uma ajuda e tanto para as vidas humanas. E este é e sempre deverá ser o valor maior.
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