Queima de fogos em Copacabana
Divulgação/Emiliano/Arquivo
Quem tem bicho de estimação em casa também tem um motivo para se preocupar no dia da festa de fim de ano. Animais e gatos (por pura indignação, nem vou me referir a quem tem o mau gosto de manter pássaros em gaiolas) têm uma audição muito mais sensível do que dos homens.
Segundo o site Bicho Saudável, mantido pela veterinária Rita Ericson, a proporção é assim: o ouvido humano alcança uma frequência que vai de 20Hz a 20 KHz. Já os animais alcançam de 20Hz a 40KHz, o que significa que eles ouvem sons que nós não conseguimos ouvir.
Além disso, vejam a diferença: quando ouvimos o barulho de uma bomba, ou já estamos preparados para isto (no caso dos fogos da praia, especificamente) ou, imediatamente após o barulho, vamos procurar o que houve e tentar fugir se for algum ato de violência.
Já os cães e gatos são pegos de surpresa. Eles não sabem de onde vêm o barulho e podem achar que algo de muito ruim está acontecendo no universo.
“Quem não se lembra dos animais fugindo da Tsunami minutos antes de ela acontecer?”, pergunta-se a veterinária.
Mas, calma! É sempre possível ajudar nossos pets. Ideal mesmo é que o cão não se assuste tanto, e isto pode acontecer se os tutores, desde cedo, o expuserem aos sons da rua, tanto o barulho das caçambas de lixo sendo jogadas na calçada quanto as buzinas, freadas, sirenes…
Se você não fez isto, caro leitor, e tem um bichinho que se incomoda, verdadeiramente, com os fogos, há algumas providências que podem ser tomadas para evitar que ele sofra muito. Rita Ericson dá as dicas:
“Deixe seu cão no local preferido da casa, de preferência com uma peça de roupa sua usada perto dele. Ligue o som, com uma música suave, feche as janelas e ligue o ar condicionado ou ventilador na modalidade mais barulhenta. Ofereça brinquedos interativos (existem vários tipos para rechear com petiscos, por exemplo ) e não se despeça, se for sair”.
Existe a possibilidade de dar algum sedativo, mas isto tem que ser decidido pelo seu veterinário. Se o cão ou o gato for do tipo que quer atravessar a parede de tanto pânico por causa do barulho, talvez seja necessário. De qualquer forma, outra dica importante é: “Evite consolá-lo. As palavras e gestos carinhosos que usamos para confortar um cão pode confundi-lo. Ele pode achar que estamos elogiando aquele comportamento medroso, fóbico”.
Ontem recebi o pedido de uma amiga que viajou para o Rio com sua cadelinha. Ela está em casa de parentes, mas vai passar a noite de amanhã em outro território. Pediu-me ajuda para ficar com a bichinha, infelizmente eu não vou poder acolhê-la. Mas passei para ela uma experiência que funcionou comigo uma vez, quando eu tinha o Fred, um Shih Tzu bem medroso.
Na hora do foguetório, eu punha um edredom no chão do quarto mais calmo da casa, ligava o ar condicionado e deixava-o lá, indo vê-lo de vez em quando. Ele buscava se esconder, enfiava-se debaixo do pano, cobria a cabecinha o mais que podia e, assim, eu pude oferecê-lo a chance de se livrar do problema, o que não seria possível caso ele estivesse sedado. Deu certo, fica a dica.
Mas, de qualquer forma, o melhor dos mundos para quem tem bicho de estimação em casa seria mesmo que não houvesse queima de fogos de artifício. Aqui, vale uma nota, apenas por curiosidade: o Brasil é o segundo maior produtor mundial de fogos de artifício, e fica atrás apenas da China.
Em um pequeno município em Minas Gerais, com cerca de 28 mil habitantes, chamado Santo Antônio do Monte, é o maior polo de produção do país. Soltar fogos em celebridades é algo tão antigo quanto a própria antiguidade. Logo, dificilmente se conseguiria adesões para evitar queimas de fogos de artifício no Ano Novo, mesmo por uma causa tão nobre, que é garantir o bem estar de nossos bichos. Nem pensar.
Lembro-me bem nitidamente de uma viagem que fiz a Parintins, a trabalho, para acompanhar de perto o Festival Folclórico da cidade, que acontece sempre na última semana de junho na cidade amazônica. Eu estava num grupo de pesquisadores, e fomos convidados a percorrer o Rio Amazonas à noite, em pequenos barcos, para ver jacarés que ficam à beira.
Enquanto fazíamos a bizarra, e para mim incômoda, volta pelo rio, perturbando a paz dos bichos, os fogos para o início da festa dos bois espocaram do outro lado da margem, longe alguns quilômetros dali. Foi nítida a sensação de revoada de bichos, certamente incomodados com o barulho. Saí do barco praguejando internamente, sem entender o motivo da excursão.
Mas, quando falei o que eu pensava, era como se meus interlocutores estivessem ouvindo um ET, de outra galáxia. Ainda está distante o tempo em que o homem vai perceber que a natureza precisa de parceria, não de intromissões violentas.
Mas, como estou escrevendo o último texto de 2019, vou me permitir sonhar um pouco e convido os leitores que compactuam da minha visão a seguirem comigo nesse reino de fantasia. Dia desses recebi, pela internet, mensagem de alguém sugerindo que, em vez de soltar fogos no dia 31, se soltassem balões de gás de cor branca, com sementes variadas dentro de cada um.
Seria uma homenagem à Terra, quase um pedido de desculpas por tantos estragos que a humanidade lhe tem feito. De quebra, não é difícil pensar que, no lugar em que caírem, os balões espalharão coisas boas. Vou fazer isto, e convidei alguns vizinhos que, como eu, vão passar a noite de 31 no bairro, para me fazerem companhia.
Que, em 2020, vocês, caros leitores, consigam buscar simplicidade e encontrar bem-estar nas coisas simples da vida. Deixo de presente uma poesia de Manoel de Barros, o poeta que mais soube sentir a beleza daquilo que nos cerca e que, muitas vezes, não nos damos conta:
“Aprendo com abelhas do que com aeroplanos.
É um olhar para baixo que eu nasci tendo.
É um olhar para o ser menor, para o insignificante que eu me criei tendo.
Fui criado no mato e aprendi a gostar das coisinhas do chão –
Antes que das coisas celestiais.
Pessoas pertencidas de abandono me comovem: tanto quanto as soberbas coisas ínfimas.”
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