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Refugiados climáticos: 17 milhões de pessoas na América Latina poderão ser forçadas a migrarem até 2050

Relatório do Banco Mundial alerta que, ao todo, 216 milhões de pessoas poderão ter que deixar suas regiões por causa das alterações do clima. Pessoas passam diante de uma casa destruída pelo terremoto em Les Cayes, no Haiti
Joseph Odelyn/AP
O Banco Mundial publicou um alerta preocupante sobre os efeitos das mudanças climáticas na vida dos seres humanos já para os próximos anos: 216 milhões de pessoas em seis regiões do mundo, incluindo a América Latina, poderão ser forçadas a se mudarem de seus países até 2050 para fugirem de eventos climáticos adversos.
De acordo com o relatório “Groundswell”, publicado nesta segunda-feira (13) pelo Banco Mundial, as pessoas serão forçadas a se mudarem das suas regiões por causa, principalmente, de:
Escassez de água
Diminuição da produtividade no campo como um todo
Temperaturas muito elevadas (estresse térmico)
Aumento do nível do mar, o que levará a perda de terras
Eventos climáticos extremos, como tempestades
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A região mais afetada deverá ser a África Subsaarinana, concentrando quase 40% dos migrantes climáticos (86 milhões) das próximas três décadas. Na sequência aparece o Leste Asiático e Pacífico, com 22,6% (49 milhões) das futuras migrações do tipo.
A América Latina também é classificada como área de alerta, de onde deverão sair 17 milhões de migrantes climáticos até 2050, mais de 7% do total para o período. Demais populações que deverão sofrer com as alterações do clima estão no Sul da Ásia, Ásia Central, África do Norte e a Europa Oriental.
Migração por causa das mudanças climática no mundo, segundo Banco Mundial
Arte/G1
O vice-presidente de Desenvolvimento Sustentável do Banco Mundial, Juergen Voegele, aponta que os mais afetados pelas mudanças climáticas já são e continuarão sendo os mais pobres do mundo, justamente “aqueles que menos contribuem para suas causas”.
Porém, ele lembra que os efeitos do aquecimento global são sentidos por todos.
“Os impactos das mudanças climáticas são cada vez mais visíveis. Acabamos de viver a década mais quente já registrada e estamos vendo eventos climáticos extremos em todo o mundo, com mudanças no clima da Terra ocorrendo em todas as regiões”, diz Voegele.
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Dois homens observam mar agitado pela chegada dos ventos do furacão Hanna, em Corpus Christi, Texas, no sábado (25)
AP Photo/Eric Gay
Em agosto, o Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês), afirmou que as mudanças climáticas causadas pelos seres humanos são irrefutáveis, irreversíveis e levaram a um aumento de 1,07º na temperatura do planeta, afetando todas as sub-regiões do mundo. Um dos alertas diz que a influência humana aumentou a chance de eventos extremos desde 1950 e isso inclui a frequência da ocorrência de ondas de calor, secas em escala global, incidência de fogo e inundações.
América Latina
O relatório anterior do Banco Mundial sobre os refugiados climáticos, publicado em 2018, já destacava a América Latina como local de alerta para refugiados ambientais.
“Três anos atrás, o primeiro relatório Groundswell projetou que, até 2050, as mudanças climáticas poderiam levar 143 milhões de pessoas em três regiões do mundo (Sul da Ásia, América Latina e África Subsaariana) a migrar dentro de seus próprios países”, lembrou Voegele.
Moradores removem destroços de suas casas destruídas pela passagem do furacão Iota em Puerto Cabezas, na Nicarágua, no dia 17 de outubro de 2020
Oswaldo Rivas/Reuters
O Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas também apontou a América Latina como área de preocupação para as mudanças climáticas nas próximas décadas. Entre as projeções para a América do Sul estão:
Crescimento na duração das secas no Nordeste brasileiro;
Redução nas chuvas no Nordeste da América do Sul (Nordeste do Brasil) e Sudoeste da região (Chile e sul do Peru).
Crescimento da seca, da aridez e/ou das queimadas no sul da Amazônia brasileira e em parte do Centro-Oeste.
Número de dias com temperaturas máximas superiores a 35°C na Amazônia aumentarão em, no mínimo, 60 dias por ano até o final do século (podendo passar de 150 dias em um cenário mais extremo);
Mudança no regime das monções no sul da Amazônia brasileira e em parte do Centro-Oeste, com atraso nas chuvas torrenciais;
Impacto das mudanças na América do Sul: as projeções do IPCC
Editoria de Arte/G1
Janela de oportunidade
Apesar dos alertas, o documento conclui que, caso os países em todo o mundo adotem medidas imediatas para reduzir as emissões globais dos gases de efeito estufa, apoiar o desenvolvimento sustentável e restaurar seus ecossistemas, os fatores que impulsionam a migração climática poderão ser reduzidos em até 80%. Ou seja, a migração climática poderá ser reduzida para 44 milhões de pessoas em 2050.
Em 2018, o Banco Mundial anunciou um investimento de US$ 200 bilhões (cerca de R$ 773 bilhões na época) para “apoiar países a tomarem ações climáticas ambiciosas”, como sistemas de alerta antecipado sobre eventos climáticos e serviços de informação climática para melhor preparar 250 milhões de pessoas em 30 países em desenvolvimento, além de investimentos em agricultura inteligente em 20 nações. O dinheiro deve ser investido entre 2021 e 2025.
Outra metade do investimento do Banco Mundial anunciado em 2018 deve ir para “construir casas, escolas e infraestruturas melhor adaptadas, e investir em agricultura inteligente, gestão sustentável de água e redes de segurança social”.

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