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Pop-it: como macaco lançou febre do brinquedo que alivia stress

Sensação é parecida com apertar um papel-bolha – mas o produto não é descartável e pode ser apertado infinitamente. Gaitlyn Rae brinca com o pop-it
@GaitlynRae
Novo brinquedo da moda entre crianças (e adultos), o pop-it é uma peça de silicone coberta por pequenas saliências que podem ser empurradas de um lado para o outro, fazendo um barulho estranhamente satisfatório. É um tipo de “fidget toy” (brinquedo para inquietação, em tradução literal), ou seja, um brinquedo anti-stress para ficar mexendo naquele momento que as mãos estão inquietas.
Os pop-its surgiram aparentemente do nada no ano passado em lojas e na internet e neste ano se tornaram uma febre internacional.
Mas o que parece ser uma moda que surgiu do dia pra noite, na verdade, é um brinquedo de mais de quarenta anos. Ele deve recente sucesso à influência de um macaco-prego da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, que tem um grande número de seguidores nas redes sociais.
‘Pop it’: Conheça o brinquedo que virou febre entre as crianças; saiba os benefícios e restrições
O original
O pop-it original foi ideia de dois designers de jogos: Theo e Ora Coster. Eles inventaram mais de 190 jogos, entre eles o Cara a Cara – um jogo de dedução que foi traduzido para vários idiomas ao redor do mundo.
Theo nasceu em Amsterdã em 1928 e foi colega de classe de Anne Frank, autora do diário que se tornou um dos mais conhecidos relatos do holocausto nazista.
Theo sobreviveu à guerra vivendo com uma família não judia e abandonando seu nome de batismo, Morris Simon.
Em 1955, ele foi para Israel de moto e acabou se mudando para lá, onde conheceu sua esposa, Ora, que era professora de arte. Juntos, eles criaram a empresa Theora Design.
A dupla começou fazendo objetos para as empresas darem como brinde, incluindo um palito de sorvete que também servia como brinquedo de montar. Isso rendeu dinheiro suficiente para permitir que eles se concentrassem no design de jogos.
O primeiro pop-it teve uma inspiração trágica, quando a irmã de Ora, uma artista, morreu de câncer de mama em 1974. Ora contava que teve a ideia em um sonho.
“Ela disse ao meu pai: ‘imagine um grande campo de seios, seios de senhora, em que você pode empurrar o mamilo.’ Ela era muito aberta, dizia o que estava em sua mente, para qualquer pessoa”, diz Boaz Coster, filho de Theo e Ora que hoje dirige a empresa com seu irmão Gideon.
O protótipo original do jogo, de 1975
Theora Design
“Ela foi até ele e disse: faça um tapete de mamilos para você apertar de um lado para o outro. E ele fez exatamente isso.”
A dupla produziu alguns protótipos, mas a ideia não deu em nada, em parte porque o tipo de silicone com a qual os pop-its de hoje são feitos ainda não era amplamente disponível. Alguns anos atrás, os irmãos recuperaram a ideia de seus pais, que havia sido arquivada nos anos 70, e fecharam um acordo com a Foxmind, empresa de jogos de Montreal.
O brinquedo foi reformulado como um jogo em que os jogadores se revezam para empurrar as bolhas e tentam evitar empurrar a última bolha.
Lançado em 2014, o brinquedo acabou sendo comprado pela loja americana Target em 2019.
“Eles começaram a vender um pouco mais, mas ainda nada muito fora do normal, até que alguém criou alguns vídeos no TikTok e no Youtube”, conta Boaz.
“Tinha um clipe específico com um macaquinho que pressiona de um lado e depois gira e aperta do outro lado. Foi a essência da ideia que nossos pais pensaram. O vídeo teve 500 milhões de acessos”, diz Boaz.
Garota propaganda
O nome do macaco influenciador era Gaitlyn Rae – uma fêmea, na verdade.
Ela mora em Elizabeth City, Carolina do Norte, nos EUA, com seus tutores, Jessica Lacher, que possui uma fazenda, e Paul Lacher, que dirige uma empresa de irrigação.
“Alguém deu um pop-it de aniversário para ela”, disse Jéssica. “Foi a primeira vez que vimos o brinquedo. Não sei se era original. Mas então começaram a fazer todas essas outras marcas, e os fãs dela continuaram enviando e enviando. Temos caixas e mais caixas de pop-its.”
E assim nasceu a mania.
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Agora é possível comprar pop-its em formato de abacaxis, dinossauros, unicórnios, pistolas, logotipos da Apple e até mesmo da Peppa Pig – nenhum deles licenciado pela Foxmind ou pela Theora Design.
“A estimativa de vendas é de 500 milhões a um bilhão de cópias”, diz Boaz.
“Mas 99,99% são cópias falsas”, acrescenta Gideon.
Na Amazon brasileira, os itens mais vendidos não são licenciados, e as versões oficiais são difíceis de encontrar, mesmo se você digitar o nome da empresa ou as marcas oficiais – Last One Lost and Go Pop!. A Amazon afirma que está trabalhando com a Foxmind para proteger seus direitos de propriedade intelectual, e os produtos oficiais estão listados com mais destaque na Amazon dos Estados Unidos.
A BBC contatou algumas das empresas que vendem pop-its não licenciados, mas nenhuma quis falar sobre o assunto.
A Foxmind, por sua vez, está planejando reconquistar parte desse mercado com designs próprios mais inovadores. E eles fazem o que podem para enfrentar as imitações.
Embora tenham gerado mais dinheiro para os fabricantes piratas do que para eles próprios, os irmãos estão maravilhados com como a ideia da família tem sido usada com grande criatividade.
Os pop-its têm sido usados para diversas finalidades – desde forma para bolo até para ajudar pessoas com autismo.
“Não estamos reclamando”, diz Boaz.
Ora morreu há alguns meses, com mais de 90 anos, feliz por sua invenção ter se tornado um sucesso mundial após todos esses anos.
Ela foi enterrada em um cemitério em Tel Aviv, ao lado de seu marido Theo, que havia morrido dois anos antes.
Suas lápides são projetadas para imitar uma das criações mais famosas do casal para os jogadores do mundo – os cartões do Cara a Cara.
“Para nossa grande tristeza, nosso pai nunca viu o pop-it virar febre”, diz Boaz. “Mas eu sei, como designer, que ele ficaria muito grato.”

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