Do artesanato à música, as árvores, animais e até as populações amazônidas são reproduzidas nas artes. Dia da Amazônia: maior floresta tropical do mundo inspira artistas de vários segmentos
Os artistas muitas vezes se inspiram nas próprias experiências e do local onde vivem para trabalhar. Seja na música ou no artesanato, os elementos da Amazônia são reproduzidos na cultura e ainda podem ser reutilizados para novas funções através das obras de arte.
Celebrado neste domingo (5), o Dia da Amazônia destaca o uso sustentável dos recursos que a floresta proporciona. Conheça a seguir algumas destas histórias de boa relação com a região que, a cada dia que passa, exige mais cuidados.
‘Descartes’ naturais que vão para o artesanato
Rosiane Valadares mostra artesanato que produz com cestos coletados de árvore do inajá, no Amapá
Rosiane Valadares/Arquivo Pessoal
Maior floresta tropical do mundo, a Amazônia ocupa quase metade do território brasileiro. Num universo único de flora, as cestas que envolvem o fruto de uma palmeira chamaram atenção da artesã Rosiane Valadares, de 41 anos.
Ela conta que em 2017, durante uma viagem pelo interior, observou com mais atenção o inajá e o cesto que envolvia os frutos, chamado popularmente de cruatá.
“Esse material eu descobri quando eu fui fazer um passeio no interior, olhando a natureza eu percebi que poderia fazer muitas coisas com o cruatá, como uma fruteira, cesta de café da manhã, substituindo muitas vezes por um produto de plástico. A decomposição dele é natural e não agride a natureza”, comenta.
Detalhe da árvore do inajá e os cruatás que envolvem o fruto
Paulo André Rodrigues da Silva/Embrapa/Divulgação
Rosiane lembra que é ela mesma quem colhe os cestos que já caíram da árvore para reaproveitar no artesanato, com ajuda de pintura e também aplicação de adereços.
“Ele chega cru, eu vou pintando e dando forma ao produto. Esse é o meu trabalho. […] Tem gente que não conhece esse material, não sabe nem o que é o inajá. Nosso estado é rico, rico em biodiversidade”, comentou a artesã.
Boa parte do artesanato produzido no Amapá tem como matéria-prima materiais retirados da própria floresta. É um hábito secular e que já faz parte da cultura de quem vive na região.
“Aqui na nossa comunidade, nosso grupo de mulheres trabalha somente com aquilo que a natureza nos oferece, como o tururi, as escamas de peixes, as fibras, os resíduos do açaí. O que eu gosto mesmo de produzir são as máscaras dos resíduos do açaí”, disse a artesã Rosângela Costa.
De óleos a sabonetes
Sabonete produzido com óleo de andiroba retirado de dentro da Flona Amapá garante renda para extrativistas
Associação Bom Sucesso/Divulgação
Outro exemplo de uso sustentável acontece na Floresta Nacional (Flona) do Amapá. Modelo de bioeconomia, o negócio é comandado por mulheres extrativistas da Associação Bom Sucesso, da comunidade Capivara. Elas extraem óleo de copaíba e andiroba para produção de sabonetes naturais.
É dessa forma que elas geram renda e cuidar da região onde vivem, que é protegida por lei federal, no Alto do Rio Araguari. Os produtos são escoados aos municípios de Oiapoque e Macapá, e também são vendidos pela internet.
“A gente começou a coletar seriamente a andiroba em 2014. Aí a gente começou a tirar óleo. Um ano depois fomos capacitadas para produzir sabonete de andiroba, sabonete de copaíba, vela repelente da andiroba. Aí começou todo o trabalho”, lembrou a extrativista Arlete Leal Pantoja, membro da associação.
Mulheres extrativistas após coleta de castanhas de andiroba
Associação Bom Sucesso/Divulgação
Apesar do bom desempenho, as extrativistas enfrentam desafios, como a concessão da floresta à iniciativa privada para exploração madeireira, não-madeireira e de turismo. São 4 áreas selecionadas dentro da Flona, área de atuação dessas mulheres.
“Hoje o que preocupa muito a gente é essa história do manejo florestal que tá vindo aí, tipo da andirobeira que a gente sabe que ela é muito usado para a madeira. A gente fica pensando: será se vão derrubar elas também para transformar em madeira?”, questionou Arlete.
A Amazônia em telas…
Fogo e fumaça se transformam em obras de arte nas mãos de J. Márcio
J. Márcio/Arquivo Pessoal
Artista visual há 30 anos, J. Márcio tem a Amazônia como inspiração para pintar telas com o fogo. Ele conta que começou a perceber o potencial das belezas da região depois que foi conhecendo mais a floresta.
“Já tive oportunidade de percorrer vários municípios do estado e pude perceber esse potencial que a gente tem de paisagens naturais e também as aquelas que foram modificadas pelo homem, e também dos costumes das nossas pessoas. Bicho, gente, tudo isso compõe nossa natureza e faz com que a gente perceba em nossa volta a beleza que a gente tem e a produção através da nossa arte”, recordou.
As obras do artista retratam de tudo um pouco, desde paisagens até pessoas que moram na região.
J. Márcio, artista plástico do Amapá, reproduz em telas cenários da Amazônia
Kelison Neves/Rede Amazônica
… e a Amazônia na música
Osmar Júnior, um dos cantores e compositores que integram a história do Amapá, interpreta muito do que vê e do que queria mudar. A maioria dos trabalhos dele carrega o dna amazônico.
“Minha literatura musical se sustenta nas coisas da Amazônia, da América do Sul. É difícil uma música minha que não tenha um retrato desse povo. A Amazônia precisa ser respeitada não só na preservação da floresta, mas também na preservação da cultura do seu povo”, destacou.
Osmar Júnior compõe e canta sobre a Amazônia
Facebook/Arquivo pessoal
O desmatamento tem aumentado consideravelmente na região. Na Amazônia Legal, só nos últimos 11 meses, foram 8,3 quilômetros quadrados de floresta derrubada. É uma situação que gera preocupação e revolta aos artistas que tanto lutam pela preservação.
“A floresta em pé vale muito mais pro mundo do que um campo cheio de pasto. Tudo tem que ter equilíbrio, pra poder não matar o povo da Amazônia, a floresta e a esperança”, concluiu Osmar Júnior.
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