Para a Aprosoja, governo deveria implementar uma regulamentação mais forte do defensivo antes de ter liberado o uso da tecnologia. Ministério da Agricultura diz que prepara portaria sobre tema. Já a Bayer afirma que, na bula do produto, orienta o uso eficaz e seguro do herbicida. A Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil) expressou preocupação com o uso de uma semente de soja resistente ao herbicida dicamba, em um comunicado publicado na terça-feira (17).
Para a entidade, o Ministério da Agricultura deveria implementar uma “regulamentação mais forte do dicamba” antes de liberar a soja transgênica, diz o diretor executivo da entidade, Fabrício Rosa. O agrotóxico já tem registro no país, mas o setor quer o governo detalhe melhor o seu uso.
Outra questão é que a entidade critica a Bayer, criadora da tecnologia, por ter excluído a recomendação do uso do dicamba no pós-plantio na bula e no registro, após ter feito “todo o marketing sobre o benefício” do produto nesta etapa da produção.
O alerta da entidade, que representa cerca de 240 mil agricultores no país, ocorre dias antes do início do plantio da nova safra em Mato Grosso, no próximo mês.
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A soja geneticamente modificada Intacta2 Xtend foi lançada comercialmente pela Bayer em junho. Ela é resistente também ao agrotóxico glifosato e a lagartas. No Brasil, o dicamba é considerado “perigoso” ao meio ambiente pelo Ibama. Já pela Anvisa, é classificado como “Improvável de Causar Dano Agudo”.
Sobre essa questão, o ministério afirma que está finalizando uma proposta de portaria para regulamentar o herbicida. “Esta portaria, que está sendo discutida com o setor, irá trazer elementos para diminuição dos riscos e aumento dos controles sobre as tecnologias”, disse ao G1.
O uso desse agrotóxico preocupa por ser um produto que dispersa facilmente no ar, podendo atingir prejudicar lavouras vizinhas, o que ocorreu nos Estados Unidos (EUA) a partir de 2017, com o lançamento da soja resistente ao herbicida, conta Rosa.
Ele lembra que, por causa disso, o agrotóxico chegou a ser proibido pela Justiça dos EUA em junho de 2020, decisão que foi revertida no final do mesmo ano pela Agência de Proteção Ambiental do país (EPA, na sigla em inglês), que liberou o químico por 5 anos.
É justamente a aplicação no pós-plantio que gera o risco de dispersão do agrotóxico pelo ar, afirma Rosa.
A Bayer afirmou, em nota, que, na bula do produto, a empresa orienta o uso “eficaz e seguro do herbicida, tanto agronomicamente quanto para o meio ambiente” (veja nota na íntegra no final da reportagem).
E acrescentou que o ajuste na recomendação foi feito em “março de 2021, antes do lançamento comercial” como consequência de um trabalho feito “há mais de 4 anos em parceria com produtores, consultores e acadêmicos para desenvolver programas de manejo integrado de plantas daninhas para os diferentes sistemas de produção no Brasil”.
Problemas no uso do Dicamba
Rosa, da Aprosoja, explica que um dos problemas do dicamba é a sua maior propensão a volatilizar, evaporar, o que, junto a um vento forte, pode levar o químico para plantações vizinhas.
Segundo ele, essa volatilização pode ocorrer, por exemplo, caso ocorra um calor muito intenso em até 72 horas após a aplicação do produto.
O dicamba é um herbicida hormonal que acelera a maturação das lavouras. Se ele é dispersado para lavouras de soja que não são resistentes ao químico, o defensivo pode causar um envelhecimento precoce das folhas, causando um retorcimento delas, por exemplo, diz Rosa.
“Dependendo do estágio de desenvolvimento da planta, ela pode não se recuperar e vai ter perda de produtividade”.
Ele conta que a dispersão por volatilização foi vista em grande escala nos EUA, causando não só prejuízos nas lavouras de soja, como também em plantações de frutas e verduras, que seriam até mais sensíveis ao químico. “Estados como Missouri, Tennessee e Arkansas ainda proíbem o uso do dicamba”, diz.
Onde é autorizado, o uso do dicamba precisa seguir algumas regras. “Nos EUA, para fazer uma aplicação, você tem que cumprir mais de 20 itens, como condições de temperatura, vento, ter um equipamento muito específico, com bico, pressão, volume de calda específicos. O produtor precisa seguir tudo isso e, mesmo assim, ainda pode dar problema”, afirma.
Segundo Rosa, a entidade não é “contra pesticidas e nem a biotecnologias”, mas espera que a regulamentação do governo detalhe o uso correto do produto, no modelo dos EUA, e “corresponsabilize as empresas” por eventuais consequências dele.
O dicamba tem registro pela Basf e Rainbow Defensivos.
Em nota, a Bayer afirma que as recomendações indicadas pela empresa para a aplicação do dicamba nas lavouras de soja seguem as “boas práticas de aplicação já conhecidas pelo produtor rural, uma vez que são compatíveis com o uso de outros herbicidas amplamente utilizados. Da mesma maneira, a responsabilidade pelo uso de Xtendicam [à base do dicamba] permanece seguindo a dos demais produtos disponíveis no mercado hoje”, diz.
Pós-plantio
Na visão de Rosa, da Aprosoja, a exclusão da recomendação do uso do dicamba no pós-plantio, tanto na bula, como no registro, sinaliza que a companhia “não vai se responsabilizar por eventuais problemas” com o uso do químico, apesar do “marketing realizado anteriormente sobre os benefícios dessa tecnologia” nessa etapa da produção.
Já a Bayer reafirma que quando a tecnologia “foi lançada comercialmente, em junho deste ano, ela já veio com a recomendação de uso em pré-plantio”.
“Para este lançamento, a Bayer vem trabalhando há mais de 4 anos em parceria com produtores, consultores e acadêmicos para desenvolver programas de manejo integrado de plantas daninhas para os diferentes sistemas de produção no Brasil. Ao longo desse período, foram exploradas diferentes aplicações que a tecnologia possibilita. O ajuste na recomendação da bula, que ocorreu em março de 2021, antes do lançamento comercial, foi consequência deste trabalho colaborativo”, diz a empresa.
Nota da Bayer
“A Bayer está levando ao mercado a plataforma INTACTA 2 XTEND®, terceira geração de biotecnologia de soja no Brasil. Entre os produtos integrantes da plataforma, o Xtendicam, herbicida à base de dicamba para o uso no pré-plantio, traz em sua bula as recomendações de aplicação de forma detalhada. As orientações auxiliam no uso eficaz e seguro do herbicida, tanto agronomicamente quanto para o meio ambiente, e que o usuário deve seguir criteriosamente
As recomendações indicadas pela Bayer para a aplicação de dicamba nas lavouras de soja seguem as boas práticas de aplicação já conhecidas pelo produtor rural, uma vez que são compatíveis com o uso de outros herbicidas amplamente utilizados. Da mesma maneira, a responsabilidade pelo uso de Xtendicam permanece seguindo a dos demais produtos disponíveis no mercado hoje.
A Bayer consolidou as recomendações para o uso do produto no Brasil após diversos estudos agronômicos, ambientais e toxicológicos. Acadêmicos das principais instituições do país adequaram e validaram cientificamente os resultados levando em conta as particularidades da agricultura brasileira. A implementação do manejo correto com o uso do herbicida prevê os passos abaixo:
Treinamento de operadores;
Tamanho da planta daninha;
Escolha adequada de formulações e pontas de pulverização;
Volume de calda;
Velocidade de aplicação e altura da barra;
Condições meteorológicas;
Distanciamento mínimo de culturas sensíveis;
Limpeza prévia de pulverizador (tríplice lavagem).
Na safra 2020/21, o manejo de plantas daninhas com o uso de dicamba respondeu por mais de 2 mil hectares em áreas experimentais, todas com resultados satisfatórios. Nas áreas de INTACTA 2 XTEND®, os estudos ainda mostraram que o uso do Xtendicam no pré-plantio ou até no dia do plantio oferece controle efetivo das principais espécies de folhas largas. O plantio em áreas livres de plantas daninhas reduz a matocompetição e protege a produtividade das cultivares de soja.
A Bayer indica o uso do Xtendicam no pré-plantio da cultura, tal como orientado na bula, não recomendando o produto na pós-emergência de soja INTACTA 2 XTEND®. Para demais formulações de mercado, a Bayer mantém sua recomendação e aconselha a adoção de formulações com o sal de Diglicolamina (DGA), com baixo potencial de volatilidade.
O conhecimento construído com consultores e produtores será compartilhado em plataformas online e disponibilizado para todos que tiverem interesse em se capacitar sobre essas boas práticas. A Bayer entende que, quando seguidas todas as recomendações, o agricultor poderá extrair o máximo potencial da utilização do herbicida.
A Bayer reforça seu compromisso com a qualidade e segurança de seus produtos. Os lançamentos passam por longos períodos de pesquisa e condução de ensaios para levar as recomendações técnicas mais adequadas, favorecendo os melhores resultados. Os produtos também são submetidos para a aprovação das principais agências regulatórias do mundo, atendendo exigentes requisitos internacionais de segurança.”
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