Com a pandemia, a procura por cursos digitais cresceu e abre oportunidade para quem quer usar seu conhecimento como um negócio. Especialistas falam sobre como começar na área, o que é preciso e dão dicas práticas sobre equipamentos e conteúdo. VÍDEO: 3 dicas para criar um curso digital
Aulas de culinária, música, artes, marketing, finanças pessoais, robótica… Os cursos no formato digital se tornaram os queridinhos desses tempos de isolamento social e têm muito empreendedor aproveitando para criar esse tipo de conteúdo e torná-lo um negócio.
A procura por cursos on-line cresceu durante a pandemia nas plataformas de hospedagem desse tipo de conteúdo. Em uma delas, a Hotmart, o volume de novas compras cresceu 161% entre maio de 2020 e o mesmo mês em 2021.
Empresários contam como transformam conhecimento em produto
Já a HeroSpark teve aumento de 1002% na busca por seus serviços na comparação entre os últimos dois meses de 2019 contra 2020. Em 2021, a venda de cursos aumentou 60% entre janeiro e julho, na comparação com o mesmo período do ano anterior.
Bolos na web
A confeiteira Bruna Rebelo criou seu primeiro curso on-line em 2018 e durante a pandemia viu o negócio crescer. Em maio de 2020, ela faturou R$ 1 milhão vendendo cursos nos quais ensina a fazer bolos espatulados com “buttercream”, um creme de manteiga.
Bruna Rebelo faz sucesso dando aulas on-line de como fazer bolos com buttercream
Arquivo pessoal
Hoje, a empresa Cakelover, em sociedade com o marido Fernando Rocha Rodrigues, não para de crescer. Eles não divulgam mais o faturamento, mas o negócio tem 18 funcionários e 2 cursos disponíveis, que atraem uma média de 1,4 mil alunos em cada turma aberta.
“Com a chegada da pandemia, repensamos as estratégias para saber o que fazer num momento de insegurança. Conseguimos crescer rápido e muita gente em transição de carreira, que perdeu dinheiro, viu no curso uma oportunidade. É uma tendência que veio pra ficar, porque esse formato leva muita facilidade pro consumidor”, afirma Bruna.
Lançamentos digitais
Ellen Salomão trabalhava com eventos quando percebeu que poderia entrar no mundo dos cursos digitais. Não exatamente para ensinar um assunto, mas para ajudar a produzir e divulgar esses cursos. Em 2018, criou a Agência Vê, especializada em infoprodutos e lançamentos digitais e fatura R$ 8 milhões por ano.
“Comecei meu negócio com uma estrutura enxuta e hoje a procura só cresce. O mercado digital é abundante e vai crescer muito ainda nos próximos anos. Tem vantagens com relação ao físico, o custo de investimento é menor, mas tem muito trabalho e você precisa se ver como empreendedor”, conta Ellen.
Ellen Salomão é especialista em criar e divulgar cursos on-line
Arquivo pessoal
A pandemia impulsionou o setor e trouxe muita gente que só atuava no offline. Mas, para produzir um curso, não basta ter o conhecimento técnico sobre determinado tema: é preciso conhecer o mercado e se planejar.
O G1 reuniu dicas para ajudar quem quer empreender no setor.
Como montar um curso do zero?
Para Ellen, antes de tudo é preciso analisar três fatores:
Sobre o trabalho: é preciso muito trabalho para estruturar o conteúdo e um plano de negócio como em qualquer empresa não digital. “Não é uma promessa de enriquecimento fácil, como muitos dizem por aí”, alerta a especialista.
Sobre o mercado digital: tem que buscar informações sobre educação on-line e conhecer bem o mercado em que está entrando. Pesquisar bem o setor onde vai atuar, para entender o que esse público busca. Na própria internet, é possível conseguir muitos dados com pesquisas realizadas anteriormente.
Sobre a parte técnica de um lançamento: também é preciso buscar conhecimentos técnicos, sobre ferramentas usadas para lançar um curso, estratégias de marketing e estrutura pedagógica para o curso on-line.
“Defina o nicho, o que você vai ensinar, crie conteúdo de valor e gere uma oferta. Conheça muito seu público-alvo e valorize a transformação que você vai trazer para a vida desse aluno com o aprendizado que ele vai adquirir através do seu curso”, sugere Ellen.
Conteúdo
Para preparar as aulas é preciso ter conhecimento sobre o assunto, é claro. Mas, além disso, tem que pensar no formato e em como conduzir essas aulas. Veja algumas dicas:
Conteúdo objetivo e prático: geralmente, quem procura um curso on-line quer um conteúdo mais focado em determinado assunto. “O objetivo de um curso on-line não é ser uma faculdade. Por isso, o ideal é sempre escolher um tema específico. Por exemplo, se você quer fazer um curso sobre confeitaria, não tente ensinar todo o universo da confeitaria em apenas um curso, escolha falar de apenas um tema”, diz Ellen.
Conteúdo atrativo: quando as aulas são dadas de forma fácil e simples, mas atraente, a chance de perder alunos pelo caminho é menor.
Quantidade de aulas: não existe um número exato. Isso vai variar conforme o assunto do curso. Há temas que podem ser ensinados em 5 aulas, outros são mais complexos e precisam de mais explicações, então serão necessárias mais aulas. O importante sempre é criar um conteúdo completo para o aluno. Já sobre a duração das aulas, segundo Ellen, o padrão do mercado é que cada aula não passe de 15 a 20 minutos. É melhor ter mais vídeos, com menor duração, do que poucos, mas muito longos.
Materiais extras: é interessante oferecer um conteúdo além do curso, como um material de apoio e leituras complementares – tudo que possa completar o que está sendo ensinado no vídeo.
Roteiro
Ellen diz que o segredo é fazer um roteiro da forma mais clara possível. Ela dá algumas dicas para transformar conhecimento em aula:
Faça uma aula com começo, meio e fim, e já apresente um resumo logo nos primeiros minutos do vídeo. Assim, o aluno já vai entender o objetivo daquela aula.
Use a parte gráfica para ajudar nas explicações: gráficos, legendas, imagens reforçam a mensagem principal.
Pense nas principais dúvidas que a aula vai gerar, e já insira elas no roteiro. Assim, você já esclarece os principais pontos com seus alunos durante o vídeo.
Faça um resumo no final do roteiro, recapitulando o conteúdo do vídeo.
Sempre perto do aluno
Para superar a falta das interações presenciais, é preciso dar muito suporte e atenção aos alunos, que na verdade são clientes.
Bruna e Fernando focam em responder todas as dúvidas de seus alunos. Embaixo de cada vídeo, na plataforma onde os cursos estão hospedados, há um espaço para enviar perguntas, que são respondidas por uma equipe de suporte. A Cakelover também tem uma comunidade no Facebook, onde os alunos interagem.
“A gente foca o suporte do aluno nessas plataformas, porque a dúvida de uma pessoa pode ajudar várias outras. Fica um FAQ orgânico e bem completo”, explica Fernando.
Quando o aluno tem uma dúvida mais complexa, que precise mandar uma foto ou um vídeo, por exemplo, eles ainda oferecem suporte exclusivo por email.
Detalhes técnicos
Equipamentos: é possível fazer um curso completo usando apenas o celular. Claro que tudo depende do tipo de curso e o público que quer atingir. Bruna e Fernando começaram usando apenas o celular. Hoje, gravam em estúdio e com equipamentos profissionais.
Plataforma de hospedagem: é preciso usar uma plataforma de ensino à distância que ofereça uma experiência agradável e de fácil acesso para os alunos. Ela precisa ser estável, para que os vídeos não travem, e tem que oferecer um suporte pós-venda para o aluno.
LGPD: é importante levar em consideração a proteção dos dados dos alunos que a plataforma oferece, principalmente com a implantação da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
Bruna durante a gravação de uma aula para seu curso on-line. Ela começou gravando com celular, mas hoje usa equipamentos profissionais.
Arquivo pessoal
Divulgação e vendas
O melhor lugar para divulgar um curso on-line não poderia ser outro: as redes sociais.
“Crie conteúdos estratégicos nas suas redes sociais, trabalhe sua marca, construa sua autoridade e conteúdo. Mostre o quanto você domina esse assunto e que, por isso, seu curso vai gerar conhecimento para o aluno”, diz Ellen.
Constância na publicação de conteúdo e aparição nas redes sociais são essenciais para Bruna e Fernando.
“É legal postar conteúdo de valor gratuitamente, sem ficar escondendo o jogo. As pessoas sabem quando marcas entregam informações que não são relevantes. O que você precisa é se tornar referência no mercado e uma forma de fazer isso é provar que você é bom no que faz, que é realmente especialista no assunto do curso que está vendendo”, afirma Fernando.
Saiba como usar as redes sociais em seu negócio
Na Cakelover, a maior parte dos alunos vem do Instagram, onde a marca tem mais seguidores, mas eles estão em outras redes sociais e investem em conteúdos patrocinados.
“A gente usa muito o patrocinado para trazer gente nova, já que a rede social organicamente não entrega o conteúdo pra todo o público. O patrocinado é o ponto chave para ter mais alcance e controle do público-alvo”, diz Fernando.
Feito isso, é esperar a construção da sua imagem a longo prazo, com um bom suporte, pós-venda, ouvindo sempre a opinião dos alunos e aprimorando o curso com esses feedbacks.
Setores em alta
Na plataforma HeroSpark, os cursos mais vendidos são dos seguintes segmentos:
Religião
Formação profissional
Concursos
Inglês
Marketing digital
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