Seca provocada pelo La Niña somada à alta do desmatamento ocorrida desde 2019 é combinação perigosa para incêndios ainda piores em 2021. ‘só esperando alguém chegar com o fogo’, afirma instituto. Queimadas na Amazônia em 2020.
GloboNews
Uma área de 5 mil quilômetros quadrados desmatados na Amazônia, correspondente a 5 mil campos de futebol ou quatro vezes a cidade de São Paulo, está sob risco de queimada na temporada do fogo de 2021, com início previsto para julho .
O alerta é de um levantamento do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e do Woodwell Climate Research publicado nesta quarta-feira (30). Segundo os pesquisadores, as áreas desmatadas e ainda não queimadas desde 2019 e uma seca intensa provocada pelo fenômeno La Niña indicam atenção especial para a ocorrência do fogo na Amazônia especialmente no sul da região.
“Há quase 5 mil quilômetros quadrados de área, quase quatro vezes o município de São Paulo, com vegetação derrubada e seca só esperando alguém chegar com o fogo. A queimada, nesse caso, é a última etapa do desmatamento, a forma mais barata e rápida de limpar o terreno para seu uso posterior”, diz o levantamento.
Além do tamanho da área vulnerável ao fogo este ano, mais de um terço dessa região está concentrado em apenas dez municípios do Amazonas, Mato Grosso, Pará e Rondônia.
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O levantamento também esclarece que o fogo na Amazônia não é natural, mas provocado, principalmente, pelo desmatamento da floresta, e piorado pelas mudanças climáticas.
“Quando as florestas são cortadas, as árvores e os galhos mortos são empilhados para secar, completando o ciclo do desmatamento. Esse fogo, de grande intensidade, pode escapar para florestas e, se combinado a condições secas, causar grandes danos. Tais condições têm se tornado mais frequentes como resultado da combinação dos efeitos locais do desmatamento com as mudanças climáticas globais”, diz o documento.
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Moratória do fogo
Um decreto do governo federal publicado na terça-feira (29) suspendeu por 120 dias, a contar de sua publicação, o uso de fogo no território nacional, conforme o previsto no decreto 2.661, de 1998, que trata de práticas agropastoris e florestais.
O pesquisador sênior do Ipam, Paulo Moutinho, lembra que o governo federal teve a mesma atitude no ano passado, mas o decreto não serviu para proteger a floresta na prática: os focos de incêndio foram 15% maior em 2020 do que em 2019.
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“Se não há atuação forte de controle do desmatamento e do fósforo em campo, a tendência é que a moratória fique no papel”, diz Moutinho.
Em agosto, o Ministério do Meio Ambiente chegou a suspender todas as operações de combate ao desmatamento ilegal na Amazônia e às queimadas no Pantanal. Outras paralisações dos brigadistas se seguiram em 2020, mesmo dados do Inpe mostrando que o número de focos de incêndio registrados na Amazônia de janeiro a setembro já era o maior desde 2010.
Para o Observatório do Clima, a nova moratória, feita nos moldes da de 2020, é uma “cortina de fumaça” sobre o problema das queimadas e não apresenta nenhum plano de combate ao fogo, treinamento de brigadas e fornecimento de equipamentos.
“O governo assina decretos ao mesmo tempo em que distribui gasolina e fósforo na Amazônia” afirmou o secretário executivo do OC, Márcio Astrini, na terça.
Apesar da suspensão, o decreto da terça-feira permite uso do fogo nas seguintes hipóteses:
práticas de prevenção e combate a incêndios realizadas ou supervisionadas pelas instituições públicas responsáveis pela prevenção e pelo combate aos incêndios florestais no País;
práticas agrícolas de subsistência executadas pelas populações tradicionais e indígenas;
atividades de pesquisa científica realizadas por Instituição Científica, Tecnológica e de Inovação – ICT, desde que autorizadas pelo órgão ambiental competente;
controle fitossanitário, desde que autorizado pelo órgão ambiental competente;
queimas controladas imprescindíveis à realização de práticas agrícolas e autorizadas por autoridade ambiental estadual ou distrital, em áreas não localizadas nos biomas Amazônia e Pantanal.
Fogo na Amazônia já preocupa
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Dados do Instituto de Pesquisa Espacial (Inpe) mostra que a situação já preocupa na Amazônia antes mesmo do início da temporada: em maio, os focos de queimadas registrados no bioma foram 49% maior que o número registrado no mesmo mês de 2020. O número deste ano é ainda 34,5% superior à média histórica do mês.
Em 2020, a região teve mais de 100 mil focos de queimadas registrados pelo Inpe, o maior em uma década. Em 2019, também houve aumento das queimadas e o número de focos de calor registrados foi 30% maior do que em 2018.
Outro dado preocupante do Inpe mostra onde ocorreram os incêndio na Amazônia: um terço deles está em terras públicas sem destinação.
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Entre agosto de 2019 e setembro de 2020 – período das queimadas – ocorreram quase 150 mil focos de queimadas no bioma. Segundo o Inpe, Mais de 35% deles ocorreram em terras públicas sem destinação, que são terras da União e que deveriam ser preservadas pelo governo. Foram 53.359 mil focos de incêndio no período em terras da própria União, equivalente a 127 queimadas ilegais ocorridas todos os dias apenas nestas áreas de preservação.
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