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Mudança climática: veja em 7 pontos como será a vida na Terra nos próximos 30 anos, segundo a ONU

Amazônia virando savana, fome, seca, doenças: painel de climatologistas alerta que efeitos do aquecimento global vão remodelar o mundo mesmo se a humanidade conseguir conter as emissões de gases estufa. Um esboço de um relatório histórico do Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas (IPCC) – órgão consultivo da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o clima – aponta que as mudanças climáticas fruto das ações humanas devem afetar fundamentalmente a vida na Terra já nos próximos 30 anos, mesmo se as emissões de gases estufa forem contidas.
Obtido em primeira mão pela agência de notícias France Presse, o documento, que tem 4 mil páginas, aponta riscos como extinção de espécies, disseminação de doenças, calor insustentável à vida e colapso dos ecossistemas, entre outros.
“O pior ainda está por vir e afetará as vidas dos nossos filhos e netos muito mais do que as nossas”, diz o relatório.
O texto só deve ser publicado em 2022 – tarde demais, dizem alguns cientistas, para influenciar decisões na conferência da ONU deste ano sobre o clima, a COP26, em novembro.
Nesta reportagem, você vai entender quais são os principais impactos apontados no relatório, divididos pelo G1 em 7 eixos temáticos. Ao final estão algumas possíveis ações de mudança listadas pelos especialistas:
Colapso de ecossistemas
Extinção de espécies
Aumento do nível e aquecimento de oceanos
Seca
Fome
Doenças
Calor extremo
1. Colapso de ecossistemas
Coral embranquecido é visto no local onde redes de pesca abandonadas o cobriram em um recife na área protegida de Ko Losin, na Tailândia, depois que um grupo de mergulhadores voluntários e o Centro de Pesquisa de Recursos Costeiros, auxiliado pela Marinha Real da Tailândia, removeram 2.750 m² de rede, no dia 20 de junho de 2021.
Jorge Silva/Reuters
Com emissões altas, a seca e os incêndios florestais podem transformar metade da Floresta Amazônica em savana, produzindo mais aquecimento.
Restaurar florestas pode estocar carbono e ajudar a reduzir a vulnerabilidade humana às mudanças climáticas. Entretanto, plantar árvores fora das florestas naturais – como em pastagens e savanas – pode prejudicar a biodiversidade e aumentar os riscos climáticos.
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Uma combinação de temperaturas mais elevadas, aridez e secas significa que as temporadas de incêndios florestais em todo o planeta serão mais longas, e as áreas com potencial de queima dobrarão de tamanho: na tundra ártica e na floresta boreal, a área queimada aumentou nove vezes em toda a Sibéria entre 1996 e 2015.
Muitos ecossistemas terrestres, de água doce, oceânicos ou costeiros estão atualmente “perto ou além” dos limites de sua capacidade de adaptação às mudanças climáticas.
Com um aquecimento de 2ºC – até agora, a temperatura do planeta já aumentou em 1,1ºC –, cerca de 15% do permafrost siberiano poderia se perder até 2100, liberando entre 36 bilhões e 67 bilhões de toneladas de carbono do solo congelado.
Há um risco de extinção cultural dos povos originários do Ártico se o ambiente no qual construíram seus modos de vida e sua história derreter.

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2. Extinção de espécies
A arara-azul-de-lear é uma espécie ameaçada de extinção
Marcelo Brandt/G1
“Mesmo com um aquecimento de 1,5º C, as condições vão mudar além da habilidade de muitos organismos de se adaptar”, destaca o relatório.
As taxas de extinção estão se acelerando drasticamente e são estimadas em cerca de mil vezes mais do que antes do impacto das atividades humanas na Terra no século passado.
Até 54% das espécies terrestres e marinhas do mundo estarão ameaçadas de extinção neste século, com o aquecimento de 2ºC a 3ºC com base nos níveis pré-industriais. Espécies de montanhas e ilhas estão particularmente em risco.
Mesmo com o aumento de 2ºC na temperatura, animais polares – como pinguins, focas e ursos – e áreas de rica biodiversidade – como recifes de coral de água quente e manguezais – estarão sob ameaça severa.
Entre 70% e 90% dos recifes de coral do mundo devem diminuir com um aquecimento global limitado a 1,5ºC. Para além disso, eles sofrerão “perdas mais extensas”.
Confrontados com o aumento das temperaturas, muitas plantas e animais irão se afastar em centenas de quilômetros de seus habitats naturais até o fim do século.
3. Aquecimento e aumento do nível dos oceanos
Foto de 15 de agosto de 2019 mostra um iceberg enquanto ele flutua ao longo da costa leste da Groenlândia perto de Kulusuk (também conhecido como Qulusuk).
Jonathan Nackstrand/AFP
Um aumento de 1,5°C na temperatura do planeta resultaria em um aumento de 100 a 200% na população afetada por enchentes em Brasil, Colômbia e Argentina, 300% no Equador e Uruguai e 400% no Peru.
No futuro mais imediato, algumas regiões – leste do Brasil, sudeste da Ásia, o Mediterrâneo, centro da China – e as zonas costeiras em quase todo o mundo serão atingidas por três, quatro ou mais calamidades de uma vez: seca, ondas de calor, ciclones, incêndios florestais, inundações.
Inundações, irão deslocar, em média, 2,7 milhões de pessoas anualmente na África. Até 2050, mais de 85 milhões de pessoas podem ser obrigadas a deixar suas casas na África Subsaariana devido a impactos induzidos pelo clima.
Em 2050, as cidades costeiras na “linha de frente” da crise climática terão centenas de milhões de pessoas expostas ao risco de tempestades cada vez mais frequentes e mais mortais devido à elevação do nível dos mares.
Pesquisas recentes mostraram que um aquecimento de 2ºC poderia levar o gelo derretido no topo da Groenlândia e no oeste da Antártica – com água congelada suficiente para elevar os oceanos em 13 metros – a passar do ponto de não retorno.
A última vez que os oceanos viram os níveis de acidificação e esgotamento de oxigênio projetados para 2100, com um cenário de altas emissões, ocorreu cerca de 56 milhões de anos atrás.
Ondas de calor marinhas – que podem danificar e matar corais, florestas de algas marinhas, prados de ervas marinhas e invertebrados – se tornaram 34% mais frequentes e 17% mais longas entre 1925 e 2016.
4. Seca
Barcos no lago Poopo, na Bolívia, região afetada pelas mudanças climáticas
Reuters/David Mercado
“A água é uma das questões com que a nossa geração vai se confrontar muito em breve. A falta de acesso a água potável afetará nossa saúde, não só na luta pela água, mas também em doenças relacionadas à falta de água e saneamento“, afirmou à AFP Maria Neira, diretora do Departamento de Meio Ambiente, Mudanças Climáticas e Saúde da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Interrupções no ciclo da água causarão o declínio de cultivos básicos dependentes de chuva na África Subsaariana. Até 40% das regiões produtoras de arroz na Índia podem se tornar menos adequadas para o cultivo do grão.
Até 2050, entre 31 e 143 milhões de pessoas terão que se deslocar devido à escassez de água, questões agrícolas e ao aumento do nível do mar na África Subsaariana, sul da Ásia e América Latina, a depender dos níveis de emissões de carbono.
“Haverá deslocamentos em massa, migrações em massa e precisamos tratar tudo isso como um problema global“, disse Neira.
Até 75% do suprimento de água subterrânea – a principal fonte de água potável para 2,5 bilhões de pessoas – também podem ser afetados até o meio do século.
Embora o custo econômico dos efeitos do clima sobre o abastecimento de água varie geograficamente, espera-se que ele reduza em 0,5% o PIB global até 2050.
Cerca de 350 milhões a mais pessoas morando em áreas urbanas serão expostas à escassez de água devido a secas severas com um aquecimento de 1,5º C, e 410 milhões com um aquecimento de 2º C.

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5. Fome
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“A base da nossa saúde é sustentada por três pilares: a comida que comemos, o acesso à água e o abrigo. Esses pilares são totalmente vulneráveis e estão prestes a desabar“, disse à AFP Maria Neira, diretora do Departamento de Meio Ambiente, Mudanças Climáticas e Saúde da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Até 80 milhões a mais de pessoas correrão o risco de passar fome até 2050.
Como acontece com a maioria dos impactos climáticos, os efeitos na saúde humana não serão sentidos da mesma forma por todos; o esboço do relatório sugere que 80% da população sob risco de fome vive na África e no sudeste da Ásia.
À medida que as mudanças climáticas reduzem a produtividade e a demanda por cultivos para biocombustíveis e florestas que absorvem CO2 cresce, os preços dos alimentos devem aumentar em quase um terço em meados do século, deixando mais 183 milhões de pessoas em famílias de baixa renda à beira da fome crônica.
Dezenas de milhões de pessoas a mais podem enfrentar fome crônica até 2050 e 130 milhões a mais poderão experimentar a pobreza extrema em uma década se permitirmos o aprofundamento da desigualdade.
Na Ásia e na África, mais 10 milhões de crianças sofrerão de desnutrição e atraso no crescimento em meados do século, sobrecarregando uma nova geração com problemas de saúde para o resto da vida, apesar do maior desenvolvimento socioeconômico.
A produção global de milho já caiu 4% desde 1981 devido às mudanças climáticas, e o aquecimento induzido pela atividade humana na África Ocidental reduziu a produção de milhete e sorgo em até 20% e 15%, respectivamente.
A frequência de perdas repentinas na produção de alimentos já vem aumentando de forma constante nos últimos 50 anos.
Entre 2015 e 2019, estima-se que 166 milhões de pessoas, principalmente na África e América Central, tenham necessitado de assistência humanitária devido a emergências alimentares relacionadas ao clima.
O potencial de captura da pesca marinha – da qual milhões de pessoas dependem como principal fonte de proteína – deve diminuir entre 40% e 70% em regiões tropicais da África, se não houver redução na poluição por carbono.
O teor de proteína do arroz, trigo, cevada e batata deve cair entre 6,4% e 14,1%, colocando cerca de 150 milhões de pessoas em risco de deficiência de proteínas. Os micronutrientes essenciais – que já estão em falta em muitas dietas do Sul Global – também caem com o aumento das temperaturas.
“Se você sobrepõe os locais onde as pessoas já passam fome com onde as safras serão mais prejudicadas pelo clima, verá que são os mesmos lugares que já sofrem com uma elevada desnutrição”, disse à AFP a pesquisadora Elizabeth Robinson, professora de economia ambiental da Universidade de Reading, no Reino Unido, e autora colaboradora na avaliação de saúde global da Lancet Countdown.
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6. Doenças
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Enquanto as temperaturas em elevação aumentam os hábitats dos mosquitos, estima-se que até 2050 metade da população mundial esteja exposta a doenças provocadas por vetores, como dengue, febre amarela e zika.
Sem reduções significativa das emissões de carbono, 2,25 bilhões de pessoas a mais poderiam ser colocadas em risco de dengue na Ásia, Europa e África.
Os riscos decorrentes da malária e da doença de Lyme devem aumentar, e as mortes infantis por diarreia tendem a crescer até pelo menos o meio do século, apesar do maior desenvolvimento socioeconômico em países de alta incidência.
As mudanças climáticas aumentarão o peso de doenças não transmissíveis: as doenças associadas à má qualidade do ar e à exposição ao ozônio, por exemplo, “aumentarão substancialmente”.
Haverá também maiores riscos de contaminação de alimentos e água por toxinas marinhas, indica o relatório. Assim como a maioria dos impactos relacionados com o clima, estas doenças irão castigar os mais vulneráveis.
As escolhas políticas feitas agora podem reduzir essas consequências para a saúde, mas muitas são simplesmente inevitáveis a curto prazo, segundo o relatório.
“A Covid tornou as fissuras em nossos sistemas de saúde extremamente visíveis”, disse Stephanie Tye, pesquisadora associada da Prática de Resiliência Climática do Instituto Mundial de Recursos, que não esteve envolvida no relatório do IPCC.
“Os efeitos e choques das mudanças climáticas irão sobrecarregar os sistemas de saúde ainda mais, por um período muito mais longo e de maneiras que ainda estamos tentando compreender totalmente”, acrescentou Tye.
7. Calor extremo
Termômetro marcou 42ºC em outubro de 2020 na Bela Vista, região central de São Paulo
Celso Tavares/G1
O aumento das temperaturas reduzirá a capacidade física de trabalho, com o sul da Ásia, a África Subsaariana e partes das Américas Central e do Sul perdendo até 250 dias de trabalho por ano até 2100.
Um adicional de 1,7 bilhão de pessoas serão expostas a um calor severo e 420 milhões serão submetidas a ondas de calor extremas a cada cinco anos se as temperaturas aumentarem de 1,5°C para 2°C de aquecimento.
Esse meio grau a mais na temperatura também significará mais 420 milhões de pessoas expostas a ondas de calor extremas e potencialmente letais.
Até 2080, de 390 a 490 milhões de moradores de cidades na África Subsaariana, e de 940 milhões a 1,1 bilhão no sul e sudeste da Ásia poderão enfrentar mais de 30 dias de calor extremo a cada ano.
Ações de mudança
O IPCC destaca que muito pode ser feito para evitar os piores cenários e nos prepararmos para os impactos que não podem mais ser evitados – esta é a lição final.
Mas simplesmente trocar um carro a gasolina por um modelo elétrico ou plantar bilhões de árvores para compensar o modo usual de fazer as coisas não irá resolver o problema.
“Nós precisamos redefinir nosso estilo de vida e consumo”, alerta o documento. “Precisamos de uma mudança transformadora em processos e comportamentos em todos os níveis: individual, comunitário, n`os negócios, instituições e governos”.
Veja algumas ações de mudança apontadas:
Reduzir à metade o consumo de carne vermelha e dobrar a ingestão de castanhas, frutas e vegetais poderia diminuir as emissões de gases-estufa em até 70% até 2050 e salvar a vida de 11 milhões de pessoas até 2030.
A preservação e a restauração dos chamados ecossistemas de carbono azul (que sequestram carbono), tais como florestas de algas e manguezais, por exemplo, aumentam o armazenamento de carbono e protegem contra tempestades, além de fornecer habitats para a vida selvagem, sustento para comunidades costeiras e segurança alimentar.
“A vida na Terra pode se recuperar de uma drástica mudança climática evoluindo para novas espécies e criando novos ecossistemas. Os seres humanos não podem”, sinaliza o relatório.

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