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'Não basta': após saída de Salles, especialistas cobram mudança na política ambiental de Bolsonaro

Entidades afirmam que as mudanças promovidas na gestão do Ministério do Meio Ambiente, as chamadas “boiadas”, precisam ser revertidas para evitar que os recordes de desmatamento continuem a ser registrados no Brasil. Ricardo Salles, ministro do Meio ambiente, pede demissão
Entidades ambientais, especialistas e ex-ministros avaliam que a demissão de Ricardo Salles do Ministério do Meio Ambiente precisa ser acompanhada de uma mudança na política ambiental da gestão Jair Bolsonaro. Do contrário, afirmam as entidades, as “boiadas” já passadas pelo ex-ministro não deixarão de causar mais devastação no país.
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Abaixo, veja o posicionamento de entidades e ambientalistas:
“Madeireiros sentirão saudades”
O secretário-executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini, diz que não há nenhum indício de que a mudança será feita na gestão Bolsonaro.
“”Salles sai assim como entrou: devendo para a Justiça. Recuso chamá-lo de ex-ministro do Meio Ambiente porque nunca o foi, não merece este título. Sua falta só será sentida por madeireiros ilegais, grileiros e desmatadores de florestas. No mais, é bom considerar que, neste governo, mudam os urubus, mas a podridão continua a mesma. Quem agora sentar na cadeira de ministro, será para obedecer as ordens de Bolsonaro e continuar a implementar política de destruição ambiental, assim como Salles fez” – Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima
“Aliado do agronegócio”
O Greenpeace divulgou nota na qual afirmou que “o Brasil não podia mais ter à frente do Ministério do Meio Ambiente alguém que, de forma intencional e deliberada, agia contra a própria pasta e estava trazendo graves danos ao país”, mas alerta que mudar o ministro não garante alteração no “projeto antiambiental nefasto” do governo.
“Por um lado, a sociedade civil recebe com alívio o pedido de demissão do ministro, após diversas investigações de desvio de finalidade de sua função, confirmando aquilo que vem sendo denunciado desde o início de seu mandato. Por outro, é evidente que a troca de peças por si só não deve mudar a estratégia do governo, agora com o novo ministro Joaquim Álvaro Pereira Leite, antigo membro da Sociedade Rural Brasileira (SRB), até então subordinado de Salles e aliado aos interesses do agronegócio” – Greenpeace
“Não basta!”
O ex-ministro Carlos Minc listou uma série de medidas que ainda precisariam ser revertidas para efetivar uma mudança efetiva na gestão.
“Foi tarde. Não basta. Há que anular seus atos contra biodiversidade. Há que desatar os braços do Ibama e ICMBio. Há que destravar Fundo Amazônia e Fundo Clima. Há que retirar garimpeiros ilegais de Terras indígenas. Há que combater queimadas e desmatamento que aumentarão com a temporada seca” – Carlos Minc, ex-ministro do Meio Ambiente.
“A vez das boiadas legislativas”
Para Brenda Brito, pesquisadora do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), com o deputado Arthur Lira na Presidência da Câmara, as “boiadas infralegais” de Salles não eram mais necessárias, porque agora os interesses do setor serão tratadas diretamente no Legislativo.
“Não consigo comemorar a queda do Salles com o #PL490Nao passando na CCJ no mesmo dia. E infelizmente outros PLs que atentam contra os brasileiros devem entrar direto pra votação plenário nos próximos dias, como o PL da Grilagem. 2021 é o ano das boiadas legislativas.” – Brenda Brito, pesquisadora do Imazon
“B de boiada não é de Ricardo Salles”
A WWF-Brasil destacou em nota que o “b de boiada não é de Ricardo Salles. É do governo Bolsonaro”. Além disso, lembrou que a exoneração de Salles ocorre no mesmo dia em que o PL 490 foi aprovado em comissão na Câmara, “provando que o correntão de retrocessos socioambientais continua destruindo a todo motor”.
“Trocar seis por meia dúzia não trará alívio ao país. O nome anunciado para a substituição de Ricardo Salles é Joaquim Álvaro Pereira Leite, com quem trabalhou por anos na Sociedade Rural Brasileira. Convidado pelo agora ex-ministro a ocupar a Secretaria da Amazônia e Serviços Ambientais, chegou com a promessa de atrair recursos para a área ambiental, por meio de programas de Pagamento por Serviços Ambientais e venda de créditos de carbono por desmatamento evitado.” – WWF-Brasil
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