'O crescimento não virá sozinho pela força da gravidade', diz Gustavo Franco, ex-presidente do BC thumbnail
Economia

'O crescimento não virá sozinho pela força da gravidade', diz Gustavo Franco, ex-presidente do BC

] https://www.caixa.gov.br/vem/Paginas/default.aspx

Economista afirmou que país não está sendo capaz de avançar e que sensação é de “tempo perdido”. Ele lançou o livro “Lições Amargas: Uma História Provisória da Atualidade”. Ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco afirma que Brasil ficou para trás
A coleção de indicadores recentes apontando a recuperação da economia brasileira não anima o ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco.
Segundo o economista, a melhora representa apenas o retorno para onde estávamos antes da pandemia e onde estávamos nos últimos 20 anos. Além disso, o país está há muitos anos debruçado sobre o tema do desenvolvimento econômico, com um cardápio de reformas à sua frente.
PIB do Brasil cresce 1,2% no 1º trimestre e volta ao patamar pré-pandemia
Veja 5 fatores que explicam a surpresa com o PIB do 1º trimestre e 5 pontos de preocupação
Na contramão do PIB, renda do brasileiro cai 10% com inflação em alta e desemprego recorde
Não fazemos as reformas, não saímos do lugar e estamos esperando uma recuperação conjuntural. O crescimento não virá sozinho pela força da gravidade. Virá dos esforços reformistas bem-sucedidos que formos capazes de empreender. A normalização agora nos põe de volta ao ponto de partida do jogo. Mas não estamos sendo capazes de avançar, infelizmente”, disse Franco.
A analogia entre o curto prazo marcado pela pandemia e as últimas décadas é feita pelo economista no recém-lançado livro “Lições Amargas: Uma História Provisória da Atualidade”.
Gustavo Franco foi presidente do Banco Central e ficou conhecido pela implantação do Plano Real
Fiesc/Divulgação
“As duas trajetórias são frustrantes. A sensação é de tempo perdido. Todos tínhamos anos atrás a expectativa de que o Brasil seria um país rico e isso não aconteceu. É frustrante”.
Ele ressalta que países que deram certo nas últimas décadas em matéria de desenvolvimento econômico, que transitaram de uma situação de renda média e se tornaram ricos, colocaram em prática muitas ações que estão consagradas nos livros de economia.
“Se a gente não adotar as melhores práticas internacionais em economia, em meio ambiente, em contabilidade, as coisas não vão funcionar. E, no entanto, por serem práticas internacionais, a gente acha que é uma submissão ao imperialismo adotar o que o resto do mundo adotou e deu certo. É mais ou menos o que acontece nessa discussão sobre a ciência. Aqui no Brasil, nós temos um ambiente muito amistoso para as visões alternativas sobre economia. A gente quer sempre fazer diferente. E não funciona”, avalia.
Segundo o economista, as recuperações no Brasil não são mais do que conjunturais e efêmeras. Ele cita o caso da Coreia do Sul, que nos anos 80 tinha o mesmo nível de renda do Brasil e hoje é três vezes mais rica do que nós.
“Nós ficamos para trás. E não vamos sair do buraco se não reconhecermos que estamos no buraco. Temos toda a capacidade de sair e criar uma economia dinâmica. Mas não fazendo tudo o que temos feito”.
Ele diz que a pandemia talvez tenha nos ensinado o valor da medicina convencional, assim como de outras áreas do conhecimento, onde se acumulou experiências e sabedorias que podem ser aproveitadas.
“Isso não é mau. Mau é fingir que isso não existe. É o negacionismo.”

Tópicos