Depois de eliminar com sucesso as espécies invasoras, esta ilha de Antígua e Barbuda viu a vida selvagem prosperar novamente. Redonda é a terceira e menos conhecida das ilhas de Antígua e Barbuda
Hanna Challenger via BBC
Não há resorts, praias, tampouco serviços — e sua contribuição para o Produto Interno Bruto (PIB) é praticamente nula. No entanto, Redonda, uma ilha rochosa de apenas 1,6 km de comprimento no Caribe, é considerada um dos locais mais valiosos da região.
Praticamente intocada pelo homem por séculos, a terceira ilha menos conhecida de Antígua e Barbuda é há muito tempo um local estratégico para a nidificação de pássaros migratórios de todo o mundo e lar de animais selvagens que não são encontrados em nenhum outro lugar do planeta.
Quando ambientalistas cogitaram pela primeira vez a ideia de remover milhares de ratos-pretos invasores e um rebanho de cabras que estavam ameaçando a vida selvagem da ilha, parecia, na melhor das hipóteses, um plano ambicioso.
Cinco anos depois, o que antes era um terreno árido é hoje um paraíso ecológico fértil, com vegetação nova em abundância e populações endêmicas de pássaros e lagartos em ascensão.
‘Contraste forte’
O esforço começou em 2016, mas o verdadeiro sucesso do projeto só foi revelado recentemente, quando conservacionistas fizeram sua primeira viagem de volta à ilha em 18 meses para conferir.
Shanna Challenger, da organização Environmental Awareness Group (EAG), que assumiu o trabalho em parceria com o governo e agências internacionais, diz que foi um “momento de emoção”.
“Foi um contraste forte em relação à primeira vez que vi Redonda em 2016, quando ela estava literalmente desmoronando no mar”, relembra.
Vista aérea de Redonda em 2017
Gemma Handy via BBC
“À medida que o helicóptero se aproximava, pude ver todos esses pequenos círculos verdes e percebi que eram árvores e arbustos novos. Não só a vegetação se recuperou, como também está prosperando.”
Antes de serem realocadas, as cabras de chifres longos introduzidas pelos primeiros colonizadores há 300 anos tinham comido progressivamente todas as plantas de Redonda ao ponto de estarem morrendo de fome.
Os roedores, que chegaram no século 19 com uma comunidade exploradora de guano, caçavam répteis e se alimentavam de ovos de aves raras.
Ponte aérea incomum
A remoção de ambas as espécies foi um desafio.
As cabras, que não estavam acostumadas com o contato humano, foram colocadas em um curral e levadas de helicóptero ao continente para serem criadas por fazendeiros interessados em seus genes resistentes à seca.
A erradicação dos ratos envolveu a tarefa meticulosa de colocar iscas em recantos e fendas por toda a paisagem, aromatizadas com tudo, desde creme de amendoim a chocolate “para garantir que pegássemos os mais exigentes”, explica Challenger.
A isca foi misturada com um pesticida irresistível para ratos, mas intragável para pássaros e répteis.
Fotos tiradas em 2012 (acima) e 2020 (embaixo) mostram a transformação da ilha
Jenny Daltry e Cole White
A Fauna & Flora International (FFI), que também estava envolvida no projeto, erradicou com sucesso mamíferos não-nativos de cerca de 25 ilhas desde 1995, mas a implacável topografia vulcânica de Redonda apresentava obstáculos específicos.
A erosão severa causada pelo desmatamento deixou a ilha perigosamente instável, com precipícios em ruínas e desmoronamentos de pedra frequentes.
“Também lançamos iscas de helicóptero e alpinistas fizeram rapel nos penhascos para garantir que nenhuma parte da ilha ficasse de fora”, conta Challenger.
Redonda foi oficialmente declarada livre de ratos e cabras em julho de 2018. A equipe fez viagens regulares de volta à ilha para monitorar o progresso do projeto até a pandemia de covid-19 afetar o transporte até lá.
Atobás-pardos com filhotes, rabos-de-palha-de-bico-vermelho, fragatas e falcões-peregrinos estavam entre as aves que os saudaram em seu retorno.
O atobá-grande é uma das aves avistadas em Redonda
Zaine Airall via BBC
A equipe também viu atobás-de-patas-vermelhas
Edward Marshall via BBC
“E nem te conto sobre os lagartos”, sorri Challenger.
“A vegetação significa que eles têm mais insetos para comer, e sua população aumentou tanto que eles literalmente rastejam sobre você.”
“Foi um momento gratidão ver essas espécies criticamente ameaçadas de extinção capazes de prosperar em um habitat apropriado, e os impactos de nosso trabalho refletidos de maneira tão óbvia e visual.”
Sem ratos, repleta de lagartos
A FFI diz que o número de lagartos de árvores exclusivos de Redonda aumentou oito vezes.
Os lagartos da ilha, criticamente ameaçados de extinção, estão presentes agora em abundância, após o desaparecimento dos ratos
Geofrey Giller via BBC
Com a erradicação das espécies invasoras, a vida selvagem conseguiu prosperar
Jenny Daltry via BBC
O número de espécies de plantas da ilha também disparou (antes eram 17, agora são 88), incluindo uma nova figueira, cactos e samambaias, enquanto mais de uma dúzia de espécies de pássaros terrestres reapareceram.
E a equipe ficou satisfeita por não encontrar nenhum sinal dos ratos.
Um por cento dos atobás-pardos do mundo se reproduz em Redonda, de acordo com Helena Jeffery-Brown, do Ministério do Meio Ambiente do governo.
“Tem sido incrível reabilitar o lar de uma espécie globalmente importante”, diz ela.
“Historicamente, não era possível dar um passo em Redonda sem pisar em ovos de pássaros, e nós estamos voltando lentamente a esse ponto. Estou muito feliz com o que alcançamos.”
Este atobá-de-patas-vermelhas foi avistado pela equipe que retornou à ilha
Edward Marshall via BBC
Jenny Daltry, da FFI, diz que Redonda é “um modelo” de como recuperar outras ilhas do Caribe, onde espécies invasoras devastaram a vida selvagem nativa.
“Redonda se transformou bem diante de nossos olhos e mais rápido do que acreditávamos ser possível, de uma rocha nua em uma joia verde”, explica.
“Em um momento em que grande parte das notícias sobre o estado do nosso planeta são compreensivelmente pessimistas, o renascimento desta ilha mostra que, se dermos uma chance à natureza, ela pode e vai se recuperar.”
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