Ibraflor destaca vendas por delivery e em supermercados, que não fecharam na quarentena, além do aumento do consumo com o home office como fatores do bom resultado. Impulsionado por Holambra, estado de São Paulo é quem mais produz. Produção de dracenas, plantas de vaso, em Holambra (SP)
Roger Scholten
A pandemia do novo coronavírus mexeu com o mercado de plantas e flores. Se em março, início das medidas restritivas, o cenário era de pessimismo, com projeções de prejuízos e demissões, o setor chega à reta final de 2020 “renascido”, esperando aumento de pelo menos 5% no faturamento em comparação com o ano anterior.
Na avaliação do Instituto Brasileiro de Floricultura (Ibraflor), em Holambra (SP), as vendas por delivery e em supermercados, que não fecharam as portas durante a quarentena, além da mudança de hábito de consumidores que migraram para o home office, ajudaram a impulsionar o setor.
“Como as pessoas acabaram ficando mais tempo em casa, transformaram ambientes e compraram mais flores e plantas ornamentais. Além disso, com o distanciamento, muita gente enviou flores por delivery com presente, no Dia das Mães e Dia dos Namorados, por exemplo. Esse mercado foi bem aquecido”, avalia Ricardo Opitz, diretor do Ibraflor.
O aumento para o setor como um todo foi tão significativo, avalia o órgão, que compensa perdas que produtores de flores de corte tiveram com os cancelamentos de festas e eventos, que ainda retornam de forma tímida.
“Em janeiro, fevereiro e começo de março o mercado vinha bem, e o que projetávamos, de 10% a 15% de crescimento real, estava se concretizando. Daí veio a pandemia, e o final de março e abril foram duros, mas no final do primeiro semestre foi recuperando, mas abaixo do registrado em 2019. No entanto, julho, agosto e setembro foram meses muito bons, quando zeramos as perdas e equilibrou com o ano passado. Se mantiver essa expectativa, não vamos atingir o projetado lá atrás, mas devemos crescer 5%”, explica Opitz.
A flexibilização das medidas restritivas, que culminou com a reabertura de cemitérios para visitação em grande parte do país, também já ajudou o setor nas vendas do Dia de Finados. Segundo o Ibraflor, “apenas sobraram flores nas cidades onde os cemitérios permaneceram fechados”.
Produção de flores em Holambra (SP)
Márcio Silveira/EPTV
Tamanho do mercado
Com 8,2 mil produtores, 15 mil hectares de área cultivada e mais de três mil variedades produzidas em todo o Brasil, o mercado de flores é um setor bilionário, responsável por 200 mil empregos em toda a cadeia.
Dados do Ibraflor mostram que o setor movimentou R$ 8,7 bilhões em 2019, com um consumo per capita de R$ 42,00.
E esse mercado tem em São Paulo seu maior expoente. O estado, impulsionado principalmente pela região de Holambra, é o maior produtor e também o que mais consome flores e plantas ornamentais.
‘Plantas verdes’
Um dos setores que mais cresceu durante a pandemia foi o de plantas verdes, aquelas sem flor. De acordo com o Ibraflor, produtores chegaram a registrar aumento de até 20% nos negócios.
Especializado na produção de dracenas, que se adapta bem a ambientes internos, o produtor Roger Scholten, de Holambra, confirma o bom momento depois do susto provocado pela pandemia.
“Foi um baque, em efeito negativo para toda a cadeia, que ainda afeta quem tem como foco festas e eventos. Mas no meu caso eu posso dizer que depois desse susto, a procura foi acima do esperado, excepcional. Cheguei a perder negócio por não ter produto para atender”, comenta Scholten.
Estufa com plantas em propriedade de Holambra (SP), no interior paulista
Roger Scholten
Aumento de produção
Na avaliação do Ibraflor, há uma tendência de que o trabalho em home office e alguns hábitos de consumos adquiridos durante a pandemia perdurem, o que faz o setor investir em aumento de produção para os próximos anos.
Segundo Scholten, a ideia é otimizar a produção na estrutura que possui atualmente, de um hectare de estufa e meio de área viveiro (pelada), e dobrar a produção anual que atualmente é de 100 mil vasos de dracenas.
“Acredito que a tendência veio para ficar, o brasileiro gostou e muitos outros produtores estão investindo. Quero melhorar a produtividade na mesma área. Como faço minhas mudas, investi em matrizes, para ter mais mudas. Se conseguir manter tudo bem alinhado, é possível ter produções por ano, já que a planta, na média, fica pronta para comércio em quatro meses”, explica o produtor.
Assim como o Ibraflor, Scholten também já trabalha com o cenário de aumento no faturamento depois de um início de ano temeroso. “Atingi o mesmo do ano passado agora, em outubro, e já estou em um ponto de lucro”, completa.
Flores no pátio da Cooperativa Veiling, de Holambra
Reprodução Veiling Holambra
Ceasa Campinas
Principal entreposto do interior paulista, a Ceasa Campinas registrou encolhimento de indicadores com a crise. O Mercado de Flores e Plantas, por exemplo, ficou fechado entre 24 de março e 6 de maio, até que teve reabertura permitida após o Ministério da Agricultura considerar o setor como essencial para funcionamento durante a crise sanitária. Para isso, entretanto, foi estabelecida uma série de regras para evitar a transmissão do vírus.
Um levantamento feito pela prefeitura, a pedido do G1, mostra que 8,1 toneladas de produtos foram ofertadas de janeiro a setembro. O total significa 23% do total contabilizado no ano passado.
Além disso, neste período, o total de boxes em funcionamento passou de 462 para 333 – redução de 28%; e a movimentação financeira foi de R$ 103,7 milhões para R$ 28,2 milhões – baixa de 72,8%.
Os produtos mais vendidos na estrutura localizada às margens do km 140,5 km da Rodovia D. Pedro I (SP-065) são rosas de corte, alstroemérias, cactos, suculentas, orquídeas, temperos, ervas aromáticas e forrações em geral. As variações sobre cada item, entretanto, não foram confirmadas pela prefeitura.
Área da Ceasa, em Campinas
Ceasa Campinas
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