JN traz uma série de reportagens sobre o novo sistema de pagamento instantâneo criado pelo Banco Central. A partir do dia 16, será possível fazer transferências em até dez segundos, inclusive nos fins de semana e feriados. Saiba mais sobre o PIX, o novo sistema de pagamento instantâneo criado pelo Banco Central
A partir desta segunda (2), o Jornal Nacional exibe uma série especial de reportagens sobre o PIX, o novo sistema de pagamento instantâneo criado pelo Banco Central, que começa a funcionar no dia 16 de novembro. Será possível fazer pagamentos e transferências de forma imediata pelo celular, a qualquer dia e hora, inclusive nos fins de semana e feriados. A primeira reportagem da série é do Alan Severiano.
Em dez segundos, 15 milhões de litros d’água passam pelas Cataratas do Iguaçu. Em dez segundos, dá para fazer história nos cem metros rasos. Esse início de reportagem durou 10 segundos. É o tempo máximo que, segundo o Banco Central, o brasileiro vai levar para fazer uma transferência de dinheiro com o PIX. O sistema de pagamento instantâneo foi criado com a promessa de ser uma revolução na forma como a gente lida com dinheiro. Com apenas alguns cliques no celular, vamos levar menos tempo na hora de pagar no caixa, por exemplo. As filas podem andar mais rápido e, um dia, quem sabe, desaparecer.
“Quero esperar esse dia aí logo. Quanto mais rápido melhor”, diz Regina Diniz, técnica de segurança do trabalho.
O nome PIX vem das iniciais de “pagamento instantâneo”, e o x representa a letra que, na matemática, tem múltiplas finalidades. O cérebro desse sistema, que custou R$ 13,5 milhões, fica em Brasília. Cada vez que alguém inicia um PIX em uma instituição financeira, computadores do Banco Central checam as informações do pagador e do recebedor. Se estiver tudo certo, o dinheiro é liberado imediatamente na conta de quem recebe.
A conveniência é outro atrativo. As transferências podem ser feitas por pessoas e por empresas – 24 horas por dia, todos os dias da semana, inclusive feriados. O que pode acabar com a desculpa de quem deixa para fazer uma transferência na sexta-feira à tarde.
“Você já conta da sexta, vai receber na segunda. Tomara que isso mude”, destaca Alessandra Tuner, representante comercial.
Para usar o PIX, basta ter conta corrente, poupança ou uma conta pré-paga em uma instituição financeira ou de pagamento. É uma tendência mundial, 55 países já têm sistemas de pagamento instantâneo. O da Índia, a segunda maior população do planeta, estreou há quatro anos.
O especialista em fintech Guilherme Mota mora lá. Ele paga a diarista, o restaurante e o táxi tuk tuk pelo celular. “Não precisa preocupar se tem troco ou não para os passageiros, é uma simplicidade para ambos, tanto para quem oferece o serviço, quanto para quem está contratando o serviço”, conta.
No Brasil, a transferência pelo PIX será feita pelo aplicativo ou pelo site da instituição financeira de cada cliente. A pandemia obrigou muita gente a se familiarizar com pagamentos sem dinheiro e sem contato físico.
A empregada doméstica Cristiane fez a primeira compra pelo celular há dois meses, quando o governo depositou em um aplicativo o dinheiro da merenda do filho. No supermercado, ela passou a usar a tecnologia do QR code, que também será utilizada no PIX. É só apontar a câmera e confirmar o valor que aparece na tela.
“Você não anda com dinheiro, não anda com cartão, só colocar e já passa. Não precisa pegar em nada, tocar, só põe na tela e pronto”, diz Cristiane Cerqueira de Lima, empregada doméstica.
O PIX é o capítulo mais novo da evolução das formas de pagamento. Na pré-história, eram as trocas de animais. Depois, de grãos – até a invenção das moedas, cédulas de papel, cheques, cartões de débito e de crédito, e o pagamento digital.
A família Loureiro é testemunha dessas mudanças. O bar no mercadão de São Paulo foi fundado em 1933 pelo avô de Marco e agora é administrado por ele e pelo filho. A máquina registradora trabalhou muito nos anos 80, em uma época em que o cheque, que hoje muitos jovens nem conhecem, fazia sucesso como meio de pagamento e também dava muita dor de cabeça.
“Aí voltava, porque às vezes voltava sem fundo, aí tinha que buscar descobrir de quem era o cheque”, lembra Marco Loureiro, comerciante.
Com o PIX, e o dinheiro caindo na conta na hora, a empresa quer melhorar o planejamento. “Você não precisa de esperar um mês, às vezes 15 dias, para o dinheiro cair”, destaca William Loureiro, comerciante.
O PIX não vai acabar com outras formas de pagamento. Mas a expectativa é que boa parte das transações com cartão de débito, boletos, TEDs e DOCs passe a ser feita pelo novo sistema por uma questão de economia. Transferências e pagamentos de pessoa para pessoa serão de graça.
O comerciante Marco Buono fez as contas de quanto vai poupar por ano. Hoje, o banco dele cobra R$ 10 por uma transferência. “Eu faço quatro, cinco TEDs por semana, são R$ 50. No mês R$ 200, em média. Nada nada, por ano, vou economizar R$ 2.400”, diz.
Já as empresas vão pagar uma tarifa quando enviarem ou receberem dinheiro pelo PIX. Mas o mercado espera que a taxa seja menor do que agora. Primeiro, porque o PIX só tem os bancos como intermediários entre pagador e recebedor. Em uma compra por cartão de débito, por exemplo, até 4% do valor vão para as empresas de cartão e as donas das maquininhas, que não são necessárias no PIX.
Outro motivo é que o Banco Central vai cobrar menos dos bancos pelo PIX: um centavo a cada dez transações. Por uma TED, os bancos pagam R$ 6 centavos, 60 vezes mais.
“Cabe também às empresas fazerem a sua parte de procurar ali um leque de agentes para verificar dentre aquelas instituições que atendem, aquelas que lhe oferecem o menor custo, todo esse processo vai levar a uma redução de preços para as empresas também no médio prazo”, destaca Carlos Brandt, chefe adjunto do Departamento de Competição e Estrutura do Banco Central.
Serão mais concorrentes disputando a preferência do cliente. Além dos grandes bancos, estão autorizados a fazer PIX as cooperativas de crédito, as empresas de pagamentos e de varejo, e as fintechs ou bancos digitais.
“Hoje para eu ter um usuário em uma região distante, isolada do país eu preciso emitir um cartão e enviar o cartão até aquela cidade. Então, eu tenho o custo da emissão e da logística. No PIX, é diferente. Eu vou fazer tudo digitalmente”, comenta Marcelo Martins, coordenador do Grupo de Trabalho do Pix no Abfintechs.
Com a esperança de custos menores, o comércio e as grandes redes de lojas avaliam que os preços dos produtos possam cair no futuro. “Se nós vamos ter um custo menor nas transações financeiras, isso deve gerar também melhores preços, melhor desempenho não só da empresa, mas melhores ofertas para os clientes”, afirma Jorge Gonçalves Filho, vice-presidente do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV).
A poucos dias da estreia, tem quem resista ao PIX. “Ainda estou na era do dinossauro, prefiro continuar com dinheiro”, revela um idosa.
E tem gente ansiosa para experimentar a novidade. “Já cadastrei já”, conta um entrevistado.
“Toda a tecnologia quando surge, dá medo. Foi assim com cartão de crédito, foi assim um cartão de débito, com as contas digitais. E é por isso que a gente precisa primeiro estudar muito bem. Comece pequeno, não precisa sair transferir o seu salário todo pelo PIX. Começa transferindo o pagamento da manicure de R$20, R$ 30, começa pagando mercadinho. E aí você vai se apropriando dessa tecnologia”, comenta Gabriela Mendes Chaves, economista do Nofront.
Na terça (3), tem a segunda reportagem da série, com alguns exemplos práticos do uso do PIX. Na hora de pagar um táxi, na hora de dividir uma conta entre amigos.
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