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Arcebispo de RO diz que lideranças indígenas mortas por Covid-19 são 'bibliotecas que partiram'

Dom Roque Paloschi fez um breve discurso e se referiu às lideranças indígenas que morreram em decorrência do novo coronavírus. Cimi apresentou novo relatório sobre situação dos povos indígenas brasileiros nesta quarta-feira (30). Dom Roque Paloschi.
Guilherme Cavalli/Cimi
“As comunidades indígenas choram e sentem a falta de suas lideranças, dos seus avós, dessas bibliotecas que partiram e nos deixaram hoje sem essa riqueza”. A declaração foi dada por Dom Roque Paloschi, presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e arcebispo de Porto Velho, em Rondônia, no lançamento do novo relatório sobre situação dos povos indígenas brasileiros em 2019 nesta quarta-feira (30).
No início da cerimônia, Dom Roque fez um breve discurso e se referiu às lideranças indígenas que morreram em decorrência do novo coronavírus.
O relatório lançado pelo Cimi é resultado de uma apuração feita com as entidades e associações dos povos sobre a situação dos indígenas no país.
Crimes contra meio ambiente e povos indígenas
O documento revela que houveram 256 casos de “invasões possessórias, exploração ilegal de recursos e danos ao patrimônio em territórios indígenas” em 2019. No ano anterior foram 109 casos, o que representa alta de 135% de um ano ao outro.
Em Rondônia, foram 21 casos de invasões possessórias e exploração ilegal de recursos naturais apenas em 2019 contra 17 em 2018. O aumento é de 23,5%.
“No ano passado, por ocasião do lançamento do relatório das violências contra os povos indígenas relativo ao ano de 2018, estavámos impactados com os incêndios criminosos e da avassaladora devastação das florestas do Brasil. Um ano depois a situação só piorou”, declarou o arcebispo.
O estado também registrou em 2019, conforme o relatório:
27 casos de “omissão e morosidade na regularização de terras;
3 casos de “desassistência geral”;
6 casos de “desassistência na área de educação escolar indígena”;
3 casos de “desassistência na área da saúde”; e
duas mortes por “desassistência à saúde”.
“No Brasil em 2019 se promoveu o inverso das boas práticas, das boas relações e do bom direito. Aqui se incentivou uma das maiores tragédias ambientais e sociais do mundo através de incêndios criminosos, desmatamentos, loteamentos de terras indígenas, invasões de toda ordem, ameaças, espancamentos e assassinatos de indígenas, quilombolas e comunidades de pequenos agricultores que defendiam seus territórios e a mãe natureza. Não há como dormir um sono sossegado vendo tanto sofrimento. Só haverá um amanhã se hoje criarmos as condições para que a vida seja respeitada em sua integridade, em suas variadas culturas”, complementou Dom Roque.
Relatório do Cimi
O relatório ainda apresenta as motivações para as invasões de terra. As cinco mais comuns: exploração ilegal de madeira/desmatamento (89 registros); garimpo e exploração mineral (39); criação de fazendas agropecuárias (37); incêndios (31); e pesca predatória (31).
Neste ano, as entidades relatam ainda mais mortes entre os povos indígenas – mesmo sem contabilizar os conflitos de terra. A Covid-19 foi adicionada à violência e às invasões.
Em uma estimativa que não contabiliza os índios que moram em áreas urbanas, a Secretaria Saúde Indígena (Sesai), órgão vinculado ao Ministério da Saúde, aponta que 443 pessoas morreram em todo o país até 17h de terça-feira (29). A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) contabiliza quase o dobro: 833 óbitos de índios devido à doença, com 33.935 casos confirmados também até terça-feira.
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