Com 6.048 registros, número de incêndios no bioma ultrapassou o recorde mensal anterior, que era de 5.993, de agosto de 2005. Dados são do Inpe. Setembro já é o mês com o maior número de focos de incêndio no Pantanal
O Pantanal já registra o número mensal mais alto de focos de incêndio desde o início da série histórica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em 1998: foram 6.048 pontos de queimadas registrados no bioma desde o dia 1º de setembro até quarta-feira (23), o dado mais recente. O recorde mensal anterior era de agosto de 2005, quando houve 5.993 focos de incêndio no bioma.
Em comparação a 2019, quando setembro teve 2.887 focos detectados em 30 dias, o mesmo mês de 2020 já apresenta uma alta de 109%. O número de focos neste mês está 211% acima da média histórica do Inpe para setembro, que é de 1.944 pontos de incêndio.
Este mês já era o setembro com mais focos de incêndio no bioma. Em agosto, foi registrado o segundo maior número de queimadas para o mês; julho também registrou um recorde mensal.
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“Setembro é o mês mais crítico – então, no ritmo que os incêndios vinham no Pantanal, não é de se estranhar que esse mês tenha batido recorde, ainda que faltem seis dias para o mês terminar”, avalia o engenheiro florestal Vinícius Freitas Silgueiro, coordenador de inteligência territorial do Instituto Centro de Vida (ICV), que monitora o Pantanal em Mato Grosso.
“Esse é o resultado dessa seca bastante intensa – e, principalmente, dos incêndios que estavam ativos que não foram combatidos com a eficiência necessária frente ao tamanho desse problema”, afirma o engenheiro.
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A região enfrenta uma falta de chuvas histórica: é o maior período de estiagem em 47 anos, de acordo com o diretor-executivo da SOS Pantanal Felipe Augusto Dias. Ele avalia que a chuva é a única perspectiva de melhora na situação, e, apesar dos registros de chuvas nos últimos dias, elas não foram suficientes para apagar definitivamente os incêndios, segundo o diretor.
Já Silgueiro avalia que ainda é cedo para avaliar o reflexo das chuvas na redução dos incêndios, embora a umidade contribua para que eles se espalhem de forma mais lenta.
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“Estava um cenário sinistro aqui de fumaça, mas reduziu muito. Choveu bem, muito bem mesmo, no domingo, e mudou o tempo – ficou mais fresco e abaixou bem a fumaça que estava no ar. Certamente, os incêndios que estavam aqui deram uma controlada. Só que choveu bem mais [aqui] do que choveu na região do Pantanal”, pondera Silgueiro, que mora em Alta Floresta, no norte de Mato Grosso (onde o bioma já é o da Amazônia).
Recorde anual
Três meses antes de terminar, 2020 também já ultrapassou o recorde de queimadas em um ano para o Pantanal: foram 16.201 focos registrados desde janeiro até quarta-feira (23). Antes, o número mais alto havia sido registrado em 2005, com 12.536 focos em todo o ano. A alta é de cerca de 29% (veja gráfico).
O fogo já destruiu 85% do Parque Estadual Encontro das Águas, refúgio das onças pintas-pintadas. Dados do Inpe também apontam que, até 31 de agosto, havia uma perda de 12% do bioma neste ano – foram 18,6 km². Esse levantamento é divulgado mensalmente.
FOTOS: Rodovia Transpantareira antes e depois dos incêndios no Pantanal
“Este é mais um triste recorde que o Brasil está batendo. E ele é fruto direto da política antiambiental desse governo”, declara Rômulo Batista, porta-voz da campanha de Amazônia do Greenpeace, sobre os números de setembro (veja mais sobre as queimadas na floresta e os embates do governo com o Inpe mais abaixo nesta reportagem).
Foto feita com drone mostra vegetação queimando no Pantanal em Poconé (MT), no dia 31 de agosto.
Amanda Perobelli/Reuters
“É fato que a gente vive uma seca histórica no Pantanal, mas isso já era sabido. Era possível trabalhar na prevenção dessas queimadas que ocorreram, mas nem isso o governo fez. A ciência já vinha advertindo que isso poderia acontecer”, lembra Batista.
Em julho, o Serviço Geológico do Brasil alertou que o bioma enfrentaria uma seca severa neste ano, com o pico entre a segunda quinzena e o fim de outubro em Mato Grosso do Sul.
“Desde que se iniciou, o governo vem cortando verbas para o meio ambiente, para o MMA [Ministério do Meio Ambiente], desqualificando o ICMBio, o Ibama, a Funai, que são órgãos de fiscalização e controle. E andando de mãos dadas com aqueles que lucram com a destruição ambiental”, afirma o porta-voz do Greenpeace.
Um levantamento divulgado nesta quinta pelo IBGE aponta que, em 18 anos, o Brasil perdeu 8,3% da vegetação natural, com 42% virando pasto e 19%, plantação. A Amazônia e o Cerrado foram os biomas que mais sofreram perdas, segundo o instituto.
Alta na Amazônia
Na foto, trecho queimado da Amazônia é visto próximo a Apuí, no Amazonas, no dia 11 de agosto.
Ueslei Marcelino/Reuters
A Amazônia também já registrou mais focos de incêndio neste mês do que em todo o mês de setembro do ano passado. Em setembro de 2019, foram 19.925 focos de calor; neste ano, até quarta-feira (23), houve 28.279 focos, uma alta de cerca de 42%.
Há, ainda, uma alta no total anual de focos de incêndio. De janeiro até 30 de setembro de 2019, haviam sido registrados 66.749 pontos de fogo na floresta. Neste ano, de janeiro até o dia 23 deste mês, eram 72.292, aumento de 8,3%.
Somando Amazônia e Pantanal, o Brasil perdeu 53.019 km² de mata nativa devido às queimadas até 31 de agosto. O número é equivalente a 34 cidades de São Paulo, ou quase a soma das áreas dos estados de Sergipe e Alagoas.
Embates com governo
Funcionários de uma fazenda são vistos próximos ao fogo em uma fazenda no Pantanal, em Poconé (MT)
Amanda Perobelli/Reuters
Os dados do Inpe têm causado embates com membros do governo federal.
Na terça-feira (22), em discurso na Assembleia Geral da ONU, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que o Brasil era “vítima” de uma campanha “brutal” de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal. O presidente disse que a floresta amazônica é úmida e só pega fogo nas bordas, e que os responsáveis pelas queimadas são “índios” e “caboclos”. A declaração, entretanto, é falsa, conforme apuração do G1 junto a especialistas no assunto.
No mesmo discurso, Bolsonaro disse, ainda, que “as grandes queimadas [no Pantanal] são consequências inevitáveis da alta temperatura local, somada ao acúmulo de massa orgânica em decomposição”. Essa afirmação, no entanto, também é falsa, conforme checagem do G1 com especialistas na questão.
Na semana passada, o vice-presidente, Hamilton Mourão, afirmou que “alguém” no instituto que faz “oposição” ao governo de Bolsonaro prioriza a divulgação de dados negativos sobre queimadas na Amazônia.
Mourão também disse que desconhecia que os dados das queimadas são públicos e pediu uma análise qualitativa ao instituto.
No dia 11, o vice-presidente declarou que o Inpe estava “se contradizendo” quanto aos dados de queimadas na Amazônia. A fala foi proferida após ele ser questionado sobre uma reportagem publicada pelo jornal “O Globo”, que mostrava um aumento no número de queimadas de janeiro a 9 de setembro deste ano em comparação ao ano passado.
Em entrevista ao G1, Alberto Setzer, coordenador do programa de monitoramento de queimadas do Inpe, alertou que não há contradições e que são “períodos diferentes” sendo comparados. (Entenda detalhes neste link). Setembro, ele explica, é o mês em que a floresta mais queima.
“Setembro é o mês que mais tem focos. Temos que esperar o mês de setembro para poder dar uma análise um pouco mais sólida. Não adianta deixar o mês mais marcante de todos fora dos cálculos”, disse Setzer.
Veja VÍDEOS sobre os incêndios no Pantanal:
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