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'Parei de gastar energia colocando ponto de exclamação nos e-mails'

O ponto de exclamação é um recurso valioso na escrita, mas por isso mesmo deve ser usado com moderação. Ponto de exclamação é um recurso valioso na escrita, mas por isso mesmo deve ser usado com moderação
Getty Images/ BBC
Oi! Quanto tempo! Que bom receber uma mensagem sua!
Sou conhecida pelo meu entusiasmo. Mesmo nos meus piores dias, mantenho um semblante alegre para me comunicar com pessoas fora do meu círculo de amigos e colegas. Nos meus e-mails, esse comportamento se manifesta na forma de pontos de exclamação.
Preocupada em parecer legal, eu costumava me pegar usando ponto de exclamação no fim de todas as frases. E não tenho vergonha de admitir porque, provavelmente, você também já enviou e-mails assim.
Dá uma olhada na caixa de mensagens enviadas. Se você é como eu, encontrará exclamações e expressões amistosas espalhadas por toda parte: “Ansiosa para ver o resultado final!”, “Mal posso esperar a sua resposta!”, “Fico feliz em ajudar!”
Mas será que você, de fato, está?
Parlamento Europeu usou pontos de exclamação para protestar contra mudanças na constituição da Hungria em 2013
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Independentemente de quantos e-mails você envia por dia, você sempre toma pequenas decisões na hora de redigir, pontuar e apresentar suas ideias ao destinatário. E é neste momento que comportamentos a que estamos condicionados há décadas se manifestam, e a necessidade de aprovação dos outros vem à tona.
Especialmente no caso das mulheres, que usam pontos de exclamação com mais frequência do que os homens. Um estudo de 2006 analisou grupos de discussão de trabalho e constatou que as mulheres eram responsáveis por 73% dos 200 pontos de exclamação usados nas conversas.
De acordo com os pesquisadores, as mulheres usam esse tipo de pontuação com mais frequência do que os homens a fim de expressar simpatia em suas interações profissionais.
No meu caso, a questão por trás do ponto de exclamação é a seguinte: eu uso em excesso por causa da pressão que sinto para gerenciar os sentimentos do destinatário. Meu tom padrão é entusiasmado, mesmo quando não é necessário.
Ser gentil
As mulheres tendem a exagerar na gentileza nas relações de trabalho. E não é à toa. De acordo com o relatório Women in the Workplace de 2018, da consultoria McKinsey, as mulheres têm menos chance de serem contratadas ou promovidas para cargos seniores, e são pressionadas a fornecer mais evidências da sua competência do que colegas do sexo masculino. E, o que não é novidade para muitas mulheres, são mais suscetíveis a terem suas decisões questionadas dentro da sua própria área de especialização.
É por isso que eu tento compensar com entusiasmo?
Temo não conseguir o que eu quero ou preciso, então suavizo meu tom e enfatizo meu interesse. Acrescento ainda uma camada de simpatia, porque não quero parecer fria. E, assim, cada ponto de exclamação desnecessário se traduz em um apelo para que o destinatário goste de mim e dê uma resposta positiva.
Este tipo de comportamento vai além dos meus e-mails. Nem sempre sou a voz mais alta das salas de reunião, e costumava hesitar em fazer qualquer intervenção. Tinha receio de dar minha opinião e defender minhas ideias, mas era especialista em dar espaço para os outros colherem os louros. Isso quer dizer que não compartilhava minhas sugestões em nome da polidez.
As mulheres foram condicionadas a serem gentis, solidárias e a não ocuparem espaços – e isso é desgastante.
Ao longo da campanha de Jeb Bush à presidência dos EUA em 2016, mostrava-se o nome dele com um ponto de exclamação, o que foi alvo de gozação
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Perda de tempo
Quando comecei a reduzir os pontos de exclamação, notei como esse mesmo falso entusiasmo se manifesta no meu dia a dia. Descobri que o tempo que gasto ajustando meu tom consome muita energia.
Gerenciar os sentimentos de outras pessoas é exaustivo. E o que é pior, é desnecessário.
A verdade é que nem sempre fico animada ao interagir com alguém que não conheço. E nem sempre fico feliz em ajudar, porque tenho meu próprio trabalho a fazer. Gastar energia para satisfazer os outros é muito desgastante, quando na verdade eu poderia usar essa mesma energia para meus projetos pessoais e atividades profissionais.
Percebi que todo esse entusiasmo gramatical leva a uma política de portas abertas. Claro, as pessoas vão achar que eu sou legal, mas o que eu estou sacrificando neste processo?
Não são apenas as pontuações – é a maneira como falo nas reuniões. É a maneira como concordo com algo, quando na verdade queria contestar. É a maneira como defino (e não defino) limites para meu tempo pessoal. E quando sirvo aos outros de maneira que coloco minhas próprias necessidades e projetos em segundo plano, estou falhando comigo mesma e com minha equipe.
Uso com moderação
Como aprendi a controlar a pontuação, descobri que posso usar com maestria pontos de exclamação como uma ferramenta de interação social, em vez de um mecanismo de defesa. Como um sorriso na hora certa, uma exclamação bem colocada me conecta às pessoas com quem me comunico, seja um amigo próximo ou um desconhecido.
Em vez de abusar da simpatia, deixo minhas palavras falarem. Uso exclamações com moderação, e somente quando parece honesto e autêntico – não quando vem de uma sensação de insegurança. Se preciso causar a impressão certa, há muitas maneiras de construir uma conexão emocional além da pontuação. Em vez disso, aposto no conteúdo, elogiando o trabalho recente de alguém ou enviando um artigo que seja do interesse da pessoa.
Agora, substituo implacavelmente os pontos de exclamação desnecessários por pontos finais. Pontos finais sugerem firmeza, mostram que eu sei do que estou falando e sei exatamente o que quero.
E me desafia a gerenciar minha caixa de entrada com mais cuidado: ganho tempo refletindo se preciso enviar uma resposta e por que deveria. Se sentir que o e-mail não vai adicionar nada ou aprofundar o relacionamento, não escrevo.
Percebi que minha comunicação verbal também se tornou mais firme. Quando não me sinto confiante, às vezes uso uma entonação ascendente, terminando a frase com a inflexão de uma pergunta.
Estruturo minhas necessidades como perguntas, e não como diretrizes, e está na hora de começar a colocar um ponto final aqui também. Não precisamos pedir gentilmente para que nossas opiniões sejam ouvidas; nossos pensamentos e contribuições são válidos e dignos de consideração.
Estou tirando a máscara da pontuação que me consome e estabelecendo limites para não perder tempo e energia. Mas, às vezes, é claro, vou exclamar.
Porque um ponto de exclamação, assim como a gentileza, é um recurso valioso. E vou usá-lo adequadamente. Ponto final.

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