Agricultores possuem tecnologias para separar frutos de maior valor agregado, permitindo melhores negociações do produto e mais renda. Produtores de café de MG investem no tratamento de grãos para conseguir mais vendas
O café é cultivado em mais de 250 mil propriedades rurais do Brasil, e a maior parte da atividade é composta por pequenos e médios agricultores. E para garantir uma boa renda, o cafeicultor precisa cuidar muito bem da qualidade do grão antes e depois da colheita.
O provador de café da Cooperativa Agrária de Machado (Coopama), do Sul de Minas, explica o que um grão de qualidade deve oferecer. “Um café com qualidade é um café, doce, floral… um café frutado. É um café em que ele (produtor rural) soube trabalhar no terreiro, cuidou.”
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No linguajar do campo, o café é um tipo de lavoura “manhosa”, ou seja, daquela que se precisa prestar atenção do começo ao fim. Só que não basta tratar bem dos pés para ter um produto de qualidade.
O cuidado com os grãos após a colheita é fundamental para não comprometer todo o trabalho de uma safra.
Produtores antenados
Cientes da importância desta etapa, os agricultores Arthur Moscofian Júnior e Alexandre Moscofian, pai e filho, vêm aprimorando cada vez mais o trato do café.
“Hoje, o cafeicultor ganha dinheiro no pós-colheita, ele pode produzir pequena quantidade, grande quantidade, mas, se não tiver um pós-colheita de acordo, ele perdeu dinheiro”, explica Arthur.
É com esse olhar empresarial que a família de Serrania passou a adotar como palavra de ordem “seleção”, ou seja, separar os melhores frutos para o processamento dos grãos, e isso tem feito a diferença no produto final.
Como é feito
A propriedade conta com equipamentos que separa com precisão os grão: o cereja, que é o café maduro e que tem maior valor, o boia, que agrega frutos seco e levemente danificados, com preço intermediário, e o verde, colhido antes da hora e que vale menos.
Com uma separação mais rigorosa, que seleciona o café em seus três níveis de maturação, as possibilidades de conseguir um mercado melhor aumentam. E com os grãos devidamente separados, o agricultor sabe para quem vender cada tipo e, assim, negociar valores mais altos.
Depois da fase de separação, o café ainda vai passar por pelo menos mais uma etapa importante dentro da fazenda: a secagem.
A secagem é vista como uma corrida contra o tempo pelo agricultor. Normalmente, o processo dura 18 dias, mas, com uso da tecnologia, esse prazo pode cair para 6 dias.
Para acelerar a secagem do café no terreiro, desde o ano passado a fazenda da família Moscofian utiliza uma enzima produzida a partir da fermentação de dois fungos. É um tratamento biológico aplicado nos frutos, e serve tanto para o cereja, quanto para o boia e o verde.
“Além de estimular a seca mais rápida, ela também cessa o processo daquela fermentação negativa, que é onde perderíamos a qualidade”, explica o administrador da propriedade, Nathan Martins.
Para complementar o trabalho do terreiro, a propriedade conta com caixas de ventilação. O vento, seja ele quente ou frio, sobe através de dutos, passa pelo café e agiliza a secagem. Além da velocidade, os grãos ficam protegidos da chuva e do ataque de fungos.
Investimento
Alexandre Moscofian explica que a estrutura toda de beneficiamento não saiu barata, custou por volta de R$ 400 mil. Porém, afirma que dá para fazer algo parecido gastando menos, em torno de R$ 120 mil.
“Lavador, em torno de R$ 30 mil. Duas caixas (de ventilação), sai em torno de R$ 25 mil, e a máquina de cor (que separa os frutos), em torno de R$ 35 mil a estrutura como um todo”, diz.
Perguntado se é um investimento que se paga fácil, o agricultor afirma que, teoricamente, sim. Porém, cabe ao produtor rural conseguir vender melhor o café beneficiado. Outra sugestão é que grupos de produtores comprem em conjunto a estrutura.
Diante de tanta tecnologia para garantir a qualidade do café, vale dizer que os investimentos da família no pós-colheita começaram há quase 15 anos. Uma mudança de conceito, algo que não havia sido visto pela gerações anteriores.
“Nem pelo meu avô, nem pelo meu pai e, por muitos anos, nem por mim também. Eu sou engenheiro, queria saber de alta produtividade, mas quando fazia conta, não fechava, não tinha lucra. Então, para ter lucro, começamos a fazer um café diferenciado”, afirma Arthur.
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