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Meio Ambiente

JBS é acusada de comprar gado de área desmatada na Amazônia

Consórcio de imprensa diz que empresa teria lucrado com “triangulação de gado”, prática onde animais de fazendas com irregularidades ambientais são transportados para áreas com “ficha limpa”. Fábrica da JBS nos Estados Unidos
REUTERS/Shannon Stapleton
O grupo JBS teria lucrado com gado vindo de áreas desmatadas da Amazônia a partir da prática conhecida como “triangulação de gado”, segundo investigação publicada nesta segunda-feira (27) por um consórcio de imprensa, formado pelo The Guardian, a ONG brasileira Repórter Brasil, o Disclose e o The Bureau of Investigative Journalism.
A acusação se baseia em fotos divulgadas no Facebook por um motorista de um caminhão da JBS, tiradas em julho de 2019. As imagens mostram um comboio de transporte de gado de uma fazenda para outra, conduzido por motoristas que usavam camisetas com a logomarca da JBS.
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O local de onde o gado saiu, Estrela do Aripuana, no estado do Mato Grosso, é objeto de um embargo do Ministério do Meio Ambiente desde 2012 pelo desmatamento ilegal de quase 1.500 hectares.
Isso, teoricamente, impediria a criação de gado nessas terras. O proprietário foi multado em R$ 2,2 milhões na época.
Porém, os animais foram transportados para outra fazenda, a Estrela do Sangue, a 300 km de distância, que não possui multas ambientais e, portanto, autorizada a criar e vender o gado, em prática convencionada como “triangulação de gado”.
Outra foto do mesmo post mostra um caminhão da JBS em frente a uma placa onde pode-se ler “Fazenda Estrela do Aripuana, 15 km”.
As informações também foram confirmadas por imagens de satélite.
Entre junho de 2018 e agosto de 2019, segundo o consórcio, dados oficiais registraram que ao menos 7.000 animais foram transportados à fazenda autorizada para a criação.
Outros documentos revelam que essa fazenda enviou aproximadamente 7.000 animais para os matadouros da JBS entre novembro de 2018 e novembro de 2019.
JBS nega acusações
A JBS afirmou em comunicado enviado à AFP que não compra gado “de fazendas envolvidas em irregularidades” e adota “uma abordagem inequívoca de desmatamento zero”, investindo em novas tecnologias para combater o “desmatamento na região da Amazônia” e a “lavagem de gado”, que seria o “uso ilegal de fazendas de terceiros para fornecer gado às unidades de processamento”.
“As informações mencionadas pela reportagem sobre o transporte de gado entre fazendas/clientes não refletem os padrões operacionais da empresa, que iniciou uma avaliação” sobre o assunto, acrescentou o comunicado.
Segundo um estudo publicado há dez dias pela revista científica americana Science, 17% da carne exportada da Amazônia e do Cerrado para a União Europeia podem estar ligadas ao desmatamento ilegal.
Este estudo também cita o problema dos “fornecedores indiretos”, relacionados à triangulação do gado, quando esses são “transferidos para uma propriedade antes do abate”.
Essas revelações surgem em um contexto de crescentes objeções europeias à aprovação oficial do acordo de livre comércio assinado entre a União Europeia e o Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai).
A relutância se deve ao desmatamento da Amazônia e à política ambiental do presidente Jair Bolsonaro, que defende a abertura de reservas naturais e territórios indígenas às práticas de mineração e agropecuária.
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