Com as bilheterias fechadas do início de março até o final de maio por conta da pandemia de Covid-19, museus do Vaticano receberam apenas 60.000 visitantes em junho. Vaticano, na Itália, vazio durante a quarentena por conta da pandemia.
Arquivo pessoal/Nina Diniz
A pandemia do coronavírus afetou as finanças do Vaticano. A queda no número de turistas, o fechamento dos museus durante quase três meses e a redução das doações dos fiéis provocaram consequências negativas na economia do menor estado do mundo.
O fluxo de turistas diminuiu repentinamente desde 10 de março, quando foi decretado o confinamento nacional na Itália, que durou até 1° de junho. Apesar do fim do lockdown ter sido gradual, as atividades turísticas não retornaram como eram antes.
Hoje as poucas pessoas que visitam o Vaticano são europeias e muitos italianos de várias partes do país. Turistas dos Estados Unidos, da América Latina e da Ásia, que antes eram numerosos, desapareceram. Há séculos as viagens religiosas sempre foram a principal fonte de entrada econômica para a cidade, antes mesmo de Roma se tornar capital da Itália, em 1870.
Setores afetados pela redução do turismo
Muitos viajantes se alojavam em hospedarias religiosas que agora estão quase vazias. A drástica redução dos turistas danificou também o comércio em torno ao Vaticano. Muitas lojas que vendem artigos religiosos e suvenires estão fechadas.
Os comerciantes devem pagar aluguel à Administração do Patrimônio da Sé Apostólica (Apsa), o dicastério da cúria romana criado em 1967 sob o papa Paulo VI, responsável por gerenciar as propriedades do Vaticano. A Apsa tem 2.400 apartamentos e 600 escritórios e instalações comerciais.
Em entrevista ao jornal francês Le Monde, o bispo Nunzio Galantino, presidente da entidade, declarou que o Vaticano ajudou os comerciantes em dificuldades. Ele disse que foi aplicado o cancelamento de um terço dos aluguéis por os meses de março a junho, que permitiram adiar o pagamento de outro terço para setembro de 2020 e confirmou o pagamento do terço restante dentro do prazo previsto.
O bispo Galatino ressaltou também que entre março e junho, a Apsa registrou uma perda de quase 30% da receita de aluguel, ou seja, € 3,8 milhões, aproximadamente R$ 23 milhões.
As receitas do Vaticano
As outras fontes de entrada são os Museus do Vaticano e as doações vindas dos fiéis. Os Museus do Vaticano são autofinanciados e todos os anos destinam seus lucros à Santa Sé. Com as bilheterias fechadas do início de março até o final de maio, e apenas 60.000 visitantes em junho, eles arrecadaram cerca de € 1 milhão de euros (R$ 6 milhões).
Normalmente a bilheteria fatura de cerca de € 150 milhões por ano, cerca de € 12,5 milhões por mês. Agora com a necessidade de manter o distanciamento físico, o número de visitantes admitidos é menor.
Tradicionalmente, todos os anos chegam as doações do óbolo de São Pedro, um sistema de arrecadação de donativos da Igreja Católica, onde os fiéis oferecem ajuda econômica diretamente ao Papa, para a manutenção da igreja e ajudar as caridades, também é coletado nas paróquias do mundo inteiro no dia 29 de junho, festa dos apóstolos São Pedro e São Paulo.
O Vaticano conta também as contribuições de igrejas locais. As principais são da Alemanha e dos Estados Unidos, mas estas encolheram nos últimos anos por causa dos escândalos sexuais.
As principais despesas do Vaticano
Em recente entrevista ao Vatican News, o ministro da Economia da Santa Sé, o jesuíta espanhol Guerrero Alves, explicou as despesas detalhadamente.
Cerca de 5 mil funcionários trabalham no Vaticano, seus salários e empregos foram mantidos, mas não houve novas contratações. As despesas são 45% para pagar os funcionários, 45% para gastos gerais e administrativos, o restante para doações (7,5%) e outras despesas residuais.
O Vaticano paga impostos à Itália, cerca de 6% do orçamento, ou seja, € 17 milhões. Boa parte das saídas é destinada ao custo da equipe que trabalha com a comunicação, mais de 500 pessoas. Eles comunicam o que o papa faz em 36 idiomas, através do rádio, TV, web, redes sociais, jornal, gráfica, editora, a sala de imprensa, uma estrutura que não tem igual no mundo. Sem contar que o Vaticano não permite entrada de verba publicitária.
O equilíbrio financeiro do Vaticano não melhorou. Em 2015, o déficit foi limitado a € 12,4 milhões. Para 2020, de acordo com as estimativas mais recentes de junho, o déficit deve ser de pelo menos € 50 milhões de euros, € 320 milhões em gastos e € 270 milhões em receita.
Se não houver receita extraordinária, haverá um aumento no déficit. No entanto, nem tudo pode ser medido apenas como um déficit e nem como um mero custo na economia porque, como explicou o padre Guerrero Alves, “a Santa Sé não é uma firma nem uma empresa. O objetivo do Vaticano não é obter lucro.”
Um estado sem PIB
O Vaticano é o único estado do mundo que não possui seu próprio Produto Interno Bruto (PIB). A Cidade do Vaticano, um território soberano com o Papa como chefe de estado, tem seu próprio sistema de produção de bens e serviços, mas devido às peculiaridades e dimensões limitadas de sua economia, não é possível atribuir um valor bruto às atividades econômicas realizadas dentro das fronteiras locais ou calcular os custos dos bens e serviços nele consumidos. O índice do Produto Interno Bruto não é, portanto, aplicável à jurisdição.
Os únicos produtos que o Vaticano fornece são alimentos produzidos em pouca quantidade nas propriedades de Caltelgandolfo, conhecida como “A Fazenda do Papa”. Os produtos alimentares são vendidos aos próprios funcionários por um módico preço. O Vaticano vende também medalhas e selos ao público, mas não consiste em grande produção.
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