Movimento se explica em função dos maiores custos e riscos para carregar grãos no país vizinho por causa do baixo nível do rio Paraná. Carregamento de grãos para exportação em porto no rio Paraná, perto de Rosário, Argentina
REUTERS/Marcos Brindicci
A demanda por grãos do Brasil cresceu recentemente, uma vez que uma seca histórica que reduz o nível do rio Paraná afeta o escoamento de safras da Argentina e do Paraguai, levando alguns compradores a trocar as origens das aquisições, disse um comerciante brasileiro.
“Aumentou muito a demanda no Brasil, tem muito interesse. Nas últimas semanas, com a deterioração da situação na Argentina, tem aumentado muito demanda para Brasil, principalmente de cargas de junho e julho”, disse o presidente da AgriBrasil, Frederico Humberg.
Ele disse que a própria AgriBrasil vendeu três carregamentos de milho que tinham a Argentina como origem inicial.
O Brasil é o segundo exportador global de milho, atrás dos Estados Unidos, enquanto a Argentina costuma figurar em terceiro, sendo também o maior exportador de farelo e óleo de soja.
“O comprador tinha comprado na Argentina, acabou revertendo para Brasil”, comentou Humberg, estimando que outros operadores tenham realizado tal troca, em um total de dez cargas.
O movimento se explica em função dos maiores custos e riscos para carregar grãos na Argentina –uma vez que as embarcações não têm sido completadas em toda a capacidade devido à possibilidade de encalharem no rio, segundo relatos de operações no mercado argentino.
Nesta quinta-feira (28), um navio com farelo de soja da chinesa Cofco que carregava mais de 40 mil toneladas encalhou e bloqueou o tráfego na área do porto de Timbués.
Compradores no exterior estão buscando cargas adicionais no Brasil para carregar todo o navio, que antes previam carregar na Argentina, ou mesmo para realizar uma operação conhecida como “top-off”, disse Humberg, ao ser questionado pela Reuters.
Por meio do “top-off” o comprador pode completar uma carga de um navio que veio de outro porto com capacidade em seus porões.
Segundo relatos na Argentina, embarcações do tipo Panamax, que poderiam zarpar com cerca de 55 mil toneladas, estão saindo dos terminais argentinos de Rosario com 10 mil toneladas a menos.
“O risco do ‘top-off’ é que vai enfrentar um ‘line-up’ no Brasil”, ponderou Humberg, referindo-se à fila para embarques no país, no momento em que o Brasil realiza grandes exportações de soja e açúcar.
“Tem tido uma pressão compradora nos últimos dias… todos os destinos vindo para Brasil, até de tradicionais compradores da Argentina”, completou.
Segundo ele, as demandas adicionais registradas foram todas de milho. Mas ele não descarta que operadores troquem de posições em soja e farelo de soja da Argentina para o Brasil.
Segundo autoridades e especialistas locais, o baixo nível do rio Paraná na Argentina continuará afetando as exportações agrícolas do país pelo menos até setembro.
Foco em custos
Para o diretor-geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), Sergio Mendes, o “top-off” ou mesmo a troca de origem de uma carga completa podem ser forma de redução de custos, especialmente para as multinacionais do setor, que tradicionalmente opera com margens estreitas, mas grandes volumes.
“As empresas que são multis operam lá e aqui, elas farão o que for mais barato para elas, aquilo que for mais conveniente…”, disse ele.
O dirigente da Anec afirmou que essa prática foi comum no passado, especialmente em tempos em que o rio baixava muito. Mas ele disse não ter informações sobre a ocorrência de “top-off” atualmente.
Além do milho, a operação pode ocorrer com soja e farelo de soja.
Mendes ressaltou ainda que, além de a legislação brasileira permitir, “o Brasil é o único país no qual as empresas concorrentes dividem o mesmo navio”.
“Pega o navio, tem diversos embarcadores, para tornar o frete mais barato”, destacou. “Enquanto o rio estiver baixo e for economicamente interessante, isso pode acontecer.”
O diretor da Anec observou que as exportações de milho do Brasil, independentemente da demanda adicional gerada pelo problema na Argentina, já aumentariam fortemente a partir de junho, dado que os operadores brasileiros se dedicam mais à exportação do cereal no segundo semestre, com a chegada da colheita da segunda safra (a maior do país), que está começando.
“Agora é milho a todo vapor, caso contrário, não cumpre o objetivo.”
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