Associação de empresas diz que setor está se organizando para evitar descartes e desabastecimento, mas federação de trabalhadores agrícolas do RS afirma que já existem animais que deveriam ter sido entregues aos frigoríficos há 15 dias. Coronavírus afeta funcionamento de frigoríficos e abates de emergência podem começar
O Ministério Público do Trabalho informou que 21 frigoríficos tiveram casos confirmados de coronavírus no Brasil.
O surto causou restrições de funcionamento em quatro unidades, duas delas em Lajeado, no Rio Grande do Sul. Ambas funcionam com metade da capacidade de processamento, para cumprir exigências para redução de contágio, acordadas com a Justiça.
Ainda não houve descarte de animais e desabastecimento do mercado brasileiro. A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) diz que o setor está se organizando para que não aconteça. Mas a indefinição de capacidade dos frigoríficos gera incerteza para o produtor.
Carlos Senter, de Nova Bréscia, por exemplo, tem 100 mil frangos completando o ciclo de criação nesta semana, mas não sabe se serão recolhidos para abate no prazo.
“Tem lotes que já deveriam ter saído das granjas 15 dias atrás”, afirmou Carlos Joel da Silva, presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag-RS). “Por outro lado, muitos galpões estão vazios porque a empresa não alojou novos lotes.”
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“Não deveremos ter grandes consequências ao nosso consumidor final. Agora, sim, em alguns casos, terá diminuição, para o nosso produtor, do tamanho de lotes que deverão fazer. Mas estamos num esforço muito grande para manter o abastecimento e que não falte comida na mesa do nosso consumidor”, disse Ricardo Santin, diretor-executivo da ABPA.
Em Lajeado, foram confirmados 501 casos de Covid-19 em 1.858 trabalhadores do setor que foram testados. Segundo o Ministério Público do Trabalho, os municípios gaúchos com maior incidência de casos por 100 mil habitantes têm relação com a atividade frigorífica.
Investigação
Mais de 60 frigoríficos em 11 estados do país estavam na mira do MPT no começo do mês, segundo levantamento feito a pedido do G1. Serão avaliadas as condições de trabalho nestes locais, que costumam ter aglomeração de pessoas na linha de produção.
Ao menos duas grandes produtoras, a BRF, dona da Sadia e da Perdigão, e a Aurora, já assinaram termos de ajustamento de conduta (TAC) com o MPT para implantar medidas de prevenção à Covid-19 nas unidades.
Nos Estados Unidos, os frigoríficos se tornaram um dos focos da doença. Cerca de 20 unidades do país tiveram de paralisar suas operações, o que fez o presidente Donald Trump acionar uma lei de guerra para que as empresas voltassem a funcionar.
Neste domingo (24), o Globo Rural mostrou ainda que, desde o início da pandemia, a produção de carne nos EUA registra queda expressiva por causa do fechamento de processadoras no país.
Em abril, a produção de carne bovina caiu 21% em relação a 2019. A suína, 11%. O fechamento dos frigoríficos por causa de casos da Covid-19 fez com que criadores passassem a sacrificar animais.
Produção de carne bovina nos Estados Unidos cai 21% em abril por conta do coronavírus
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